Vida = Ciência e poesia

(Não tenho escrito nada para o Aventar nestes últimos dias. Apetecia-me desancar na mentira e hipocrisia da igreja, na continuação da escamoteação dos seus crimes e na descarada visita papal, assim como me apetecia pertencer a um grupo que eu designaria, por exemplo, de “Terrorismo Selectivo Benigno” (TSB), que fosse capaz, não de matar os ladrões de colarinho branco, mas de os fazer vomitar até ao último tostão, a massa que roubaram e continuam a roubar a todos nós e ao país. Apetecia-me, mas não ando com vontade de mexer na trampa. Assim sendo, viro-me para coisinhas inofensivas, como a que se segue).

Vida = Ciência e poesia
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A poesia está para a ciência como a luz para a escuridão. No ventre do escuro vivem as coisas mas só a luz lhes abre o rosto.
A poesia não é simples interface, frases primeiras outras depois, repetição de imobilidades e silêncios na morte da utopia.
A ciência não está do lado de fora onde fala apenas o isto e aquilo. Ciência e poesia tocam-se no cerne de uma espécie de sexo tangencial, para criar a vida. Morrer de fora para dentro não é caminho de eternidade, mas morrer de dentro para fora é morte a sério. Lembrem-se.
Não existe apenas o que se toca mas o que se sonha, na confusão dos tempos, no ventre da multidão, no enrolar das ondas, na incerteza do vento. Na tentadora renúncia da justiça e do equilíbrio da vida, perde a vida a poesia ficando a ciência sem vida.
Ao viver, alternadamente, ciência e poesia, não dou pela diluída fronteira entre poesia e ciência. O mesmo prazer e o mesmo sofrer no formatar de um relatório e no fazer de um poema, se ao silêncio da forma e da palavra dermos a música fulgurante dos caminhos.
Caminhos sem música são prenúncio de morte.
O criador de sacrários vive a ciência. O profanador de sacrários vive a poesia. E tudo porque a vida só é vida se se aprende como vida, à medida que a vida aprendida se interpõe para dar mais vida à vida.

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