Tive um professor absolutamente excepcional, de história e português, Dr. Carlos Bento, nos intervalos não se deslocava à sala de convívio dos professores, era da oposição, adorado pelos alunos escorraçado pelos colegas de profissão.
Lá veio o dia da mãe, a ideia era os alunos escreverem sobre a mãe, de preferência em verso, a maioria de nós nem em prosa quanto mais em verso, mas não havia obstáculos, vá de versejar. O meu irmão, era um podengo, hábil com as mãos (foi mecânico de aviões na TAP) não tinha qualquer talento para as letras, alcunhado como “Jaburu” pela tez vincadamente morena e por ostentar um grande emblema do F. C do Porto na lapela do casaco.
E não teve com meias, criança, vergado ao peso de não conhecer a mãe, apresenta como sua a quadra universal:
Ó minha mãe, minha mãe
Ó minha mãe muito amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada.
O professor atento, percebendo que aquele gesto correspondia a um grito de dor de uma criança, fazendo humor e tentando desvalorizar o drama, respondeu-lhe:
Ó minha mãe minha mãe
Ó minha mãe muito amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe é orfão
O professor sabia bem que não tinha razão foi só uma maneira de suavizar a falta, mas estava atento, sabia da história, aproximou-se do aluno, partilhou com ele aquela situação de menoridade em relação aos colegas. Depois chamou-me e disse-me que como irmão mais velho não deixasse de falar com o “Jaburu”, que lidava mal com a falta da mãe.
Ninguem lida bem com a falta da mãe, é um vazio que não se preenche, e neste dia, os que tiveram e têm a sorte de ter mãe, não se esqueçam , nem que seja um ramo de flores.
E um beijo do tamanho do amor de uma mãe!
o amor de uma mãe estende-se a todas as crianças, a todos os que de algum modo se encontram privados ou não das mães… digo eu que, desde que fui mãe (desde que soube que estava grávida) começei a olhar e amar de forma diferente.