Um Comboio e Três Linhas

Porto, anos 70

Em finais do loucos anos 70, daqui, por sobre a Alameda das Fontaínhas, avistava-se ainda com carris e ao serviço o Ramal de Alfândega, esse troço inclinado que ligava Porto Campanhã à Alfândega do Porto. Avistava-se a ponte Maria Pia, monumento último da Linha do Norte. E avistava-se ainda um comboio a vapor saindo do túnel D. Carlos (o maior dos três túneis entre Campanhã e a estação central de São Bento, início das linha do Minho e Douro.

A contemporaneidade acrescenta a este cenário a ponte de São João e a ponte do Freixo. A ponte Maria Pia, agora monumento nacional, perdeu a sua função ferroviária, o Ramal de Alfândega é um balde do lixo e comboios a vapor só circula no Douro aos sábados de Maio a Outubro. Actualmente, e não me ocorre outro, este é o único local em Portugal de onde se avistam três linhas ferroviárias, duas pontes e três túneis. Viva o Porto, capital emocional do Norte de Portugal.

(foto original aqui)

Diário da visita

Querido diário,

hoje tive uma visão do inferno. Vi o  Joe Ratz, com aquela cara de fuinha que ele tem, deve ser o único tipo no mundo que nem todo vestido de branco fica com cara de bom, a receber uma camisola do benfica-salvo-seja (tento evitar esse nome, prefiro dizer “clube ruim”) com a inscrição “Bento 16”. O demónio estava distraído, caso contrário tinha posto ali um câmarapereira a cantar “eu cá p’ra mim não há maior prazer do que o selim e a mulher” e levava, de uma assentada, todas as alminhas lusitanas.

Antes disso, vi o Joe Ratz em Belém, a beijar os cavaquinhos. A senhora do prós-e-contras estava babada como se fosse a avozinha deles, e dizia que os cavaquinhos nunca mais se vão esquecer deste dia. A dama nº 1 estava preocupada porque já eram as 3 em Roma e ainda não tinham servido a comida ao Joe Ratz. Nem o papa morre nem a gente almoça, dizia, à socapa, morto de riso, o mais reguila dos cavaquinhos.

E nestes entreténs, passou-se bem o dia.

Papa Bento XVI:

Chegou hoje a Portugal um Chefe de Estado, no caso, do Vaticano e de seu nome Bento XVI, o Papa. Acumula com a responsabilidade de arcar nos ombros toda uma Igreja e uma religião que é, goste-se ou não, partilhada pela grande maioria dos portugueses. Apenas e só isso, o que não é pouco.

Alguns, vários, não gostam do visitante em causa mas são aqueles que mais propaganda fazem à viagem. É irónico. Por mim, é bem-vindo e espero que seja do agrado dos fiéis esta sua passagem. Eu vou aproveitar para colocar a minha agenda em ordem e arrumar alguns assuntos pendentes. Uma forma, como outra qualquer, de aproveitar a tolerância de ponto. Parece que o trânsito vai ficar condicionado aqui no Porto (pelo menos teve o bom gosto de visitar esta nossa cidade). É aborrecido. É como no dia do Cortejo da Queima das Fitas, no S. João, nas manifestações dos sindicatos ou quando o Porto é campeão. Em breve teremos o Obama em Portugal e o mesmo acontecerá. Vamos ver qual o grau de “tolerância” daqueles que hoje tanto criticam a visita do Chefe de Estado do Vaticano…

Declaração de interesses: Agnóstico.

R. Camilo Castelo Branco: Lisboa Arruinada


Um raríssimo e belo exemplar belle époque, há anos fechado e “para venda”. Adivinhamos o fatal destino. Reparem nos portões e grades das janelas e varandas. Estou tão seguro da demolição, como de amanhã ser quarta-feira, 12 de Maio. É o único edifício com verdadeiro interesse numa rua que foi completamente vandalizada. Por razões óbvias, gostaria que esta casa sobrevivesse, de modo a que a o nome do escritor não baptize uma pocilga ” Tegucigalpeña” no centro de Lisboa.
Já repararam que a Lisboa construída “em república post-1910” não consegue fazer parte da imagem que os estrangeiros têm da cidade? Dir-se-ia que por frustração, querem demolir tudo aquilo que se construiu até à época da “sopa do Sidónio”. Bela maneira de comemorar o Centenário!

Visita do Papa – Vamos a Contas…

Pobres e pouco alegres, quando é necessário e mais a mais estamos perante a visita de um alto dignitário do Vaticano, lá desenrascamos uns milhões para a festança e a pitança, mostrando ao mundo sermos gente generosa e acolhedora. Cuidámos sempre de nos apresentar como afável e simpático povo. É um complexo ‘luso-colectivo’ de exportação, porque, internamente, não somos bem a mesma coisa, como diz o anúncio.

Segundo o  PUBLICO, em notícia que se propagou por jornais estrangeiros, LE MONDE por exemplo, o custo directo diário da visita do Papa está estimado em 37 milhões de euros, atingindo um total de 800 milhões para o período total da visita – números revelados por um estudo do Prof. Luís Bento da Universidade Autónoma de Lisboa.

Trata-se de um belíssimo investimento na fé, asseveram uns. Outros, como eu, não acreditam em milagres e esperam o anúncio das medidas draconianas a depauperar, ainda mais, os bolsos já vazios ou quase de muitos milhões de portugueses. Sexta-feira próxima, ou no limite segunda-feira, cá estaremos para ouvir Sócrates ou um seu ministro dizer: “vamos a contas’. Até lá, oremos.

Na noite da música

No sofrimento da noite da música enrosquei meus ramos de árvore seca no sono do teu regaço, nascido de um tempo sem tempo, tão perto e tão distante do peito amante na hora do desejo.

Por dentro da noite fechada e muda, aberta a sonhos que desmoronam tectos e paredes, de que servem rostos sem palavras, e o fruto maduro dos teus lábios caído na noite deserta?

Que amor de liberdade, que liberdade de amor, se todos os caminhos não passam de caminho sem regresso?

Metamorfoses de paz e desejo apenas multiplicam falsificações eróticas em urdidura de novela.

A força do piano de Pletnev acordou-me. Não há “interrupted dreams” dentro de mim, pois já não crescem “dreams” no meu jardim.

Teu sorriso de vento forte que ainda me ergue das águas fundas num impulso de mil ventos, já não abre a todo o pano as velas do meu barco, perdido no mar, muito longe de voltar.

Mais um 2010

O Vaticano e o período da pornocracia. 1 – De Sérgio III a Estevão VIII


A Origem do Mundo, de Gustave Coubert

O Xico da Amora e outros leitores do Aventar ficaram muito incomodados pelo facto de, em post anterior, eu me ter baseado na Wikipedia para fazer uma resenha histórica da ligação entre o Papado e o Putedo. Esquecem os nossos prezados leitores que o Aventar é apenas um blogue e que enciclopédias, obras especializadas e quejandos devem ser servidas em locais próprios que não este. Utilizo-os muito, sim, mas na minha actividade profissional paralela ao ensino (ui, se o Miguel Abrantes sabe!)
Mas como os clientes têm sempre razão, prometo não me basear apenas na Wikipedia no post que agora escrevo sobre o período da Pornocracia no Vaticano. Um período que ocupou uma parte substancial do séc. X e os pontificados de Sérgio III, Anastácio III, Lando, João X, Leão VI, Estevão VIII, João XI, Leão VII, Estevão IX, Marino II, Agapito II e João XII.

Comecemos pela origem da palavra. Segundo a «Encicopédia Lello», Pornocracia é a influência das cortesãs, ou seja, das putas, na governação de um país ou instituição. Uma palavra de origem grega – kratos significa poder e porne cortesã. O Cardeal italiano César Baronius, no séc. XVI, foi o primeiro a referir-se a este período, baseando-se nos escritos de Liudprando de Cremona, diácono de Pavia que viveu entre 922 e 972.

A fase da pornocracia no Vaticano iniciou-se com o Papa Sérgio III. Conhecido como o Boca de Porco, foi eleito no ano de 904. Foi amante de Teodósia e da sua filha, Marósia,que estava casada com um nobre italiano desde 905 e que voltaremos a encontrar na história de outros pontificados. Com Marosia, teve Sérgio III vários filhos ilegítimos, um dos quais viria a ser eleito com o título de João XI. Durante a sua governação, mandou degolar o seu antecessor, Leão V. [Read more…]

Leiam e reflictam

(Leiam a notícia em baixo e reflictam. Reflictam sobretudo em algumas das enganosas mensagens que ela contém:

“Europa decadente de valores” Que autoridade tem Carlos Azevedo e Bento XVI para falarem em decadência de valores? Que olhem bem para dentro da Igreja e do Vaticano antes de falarem em decadência de valores nos outros.

Falar de “crise espiritual” da economia e da política, pela boca de uma instituição acusada de pedofilia no mundo inteiro e de crimes economico-financeiros de alto calibre, é, no mínimo, desconcertante!

Mensagem de “missão” para “despertar os cristãos adormecidos”. Adormecidos pela anestesia de Fátima, ou acordados pela realidade de uma mentira monumental?.

“Se tivesse havido consciência ética não teríamos chegado ao descalabro económico”. Carlos Azevedo ou é ingénuo ou pretende atirar um punhado de areia aos olhos das pessoas. Onde está a ética do Vaticano? No encobrimento da pedofilia? Na ligação à mafia, à loja maçónica, ao holocausto da Croácia, à ajuda na fuga dos criminosos nazis? Na sinistra actividade de Paul Marcinkus, pedra basilar do Vaticano? No mais que suspeito assassínio de João Paulo I? No banho de sangue dentro da Guarda Suiça, escandalosamente abafado? Além disso, não sabe Carlos Azevedo, porventura, que o Vaticano foi sempre, e é uma das personagens principais do palco económico-financeiro onde decorre a dramática peça do capitalismo selvagem?

“O contexto de crise traz exigências de simplicidade de vida e austeridade”. É preciso o Sr. Carlos Azevedo ter um camião Tir de descaramento para dizer uma coisa destas, quando toda a gente conhece o luxo da igreja e a sua total falta de simplicidade. É preciso muito pouco senso para dizer isto aquando de uma VISITA PAPAL IMPERIAL  repleta de luxo, vaidade, ostentação e desprezo pelos famintos e desempregados de Portugal e do mundo).

“Temos de encontrar uma nova forma de viver”. Talvez aquela que Leonardo Boff mostrou ao mundo na sua Teologia da Libertação, que Ratzinger arrumou de vez, não fosse o diabo tecê-las, e que, ao fim e ao cabo, foi a que Cristo ensinou.  Essa mesma forma de viver, simples e austera que a igreja católica atraiçoou e desde há séculos renegou, virando-a completamente do avesso).

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Vade retro!


E eu, via Aventar, não quero deixar de dar as boas-vindas a Sua Santidade.

O medo voltou!

Carmona Rodrigues foi afastado ou afastou-se no prosseguimento de uma acusação grave.Teria favorecido a empresa Bragarques em 10 milhões de euros na permuta de uns terrenos. O Ministério Público acusou, o Tribunal ao fim de três/quatro minutos de julgamento (na 1ª sessão), considerou inocentes todos os réus. O resultado só poderia ser a absolvição e, por isso, o julgamento seria um “procedimento inútil e como tal proíbido pela lei.” E agora?

Os autarcas do Norte do país face à imposição das SCUT (pagamento de portagens) não conseguiram contratar uma empresa da especialidade para fazer um estudo. Todas têm medo de perder o seu principal cliente. O Estado socialista! É a isto que chegou Portugal! Voltou o medo!

E, claro, daqui a pouco temos o futebol, terça- feira o Papa e, mais logo, uma sessão de fados numa qualquer viela. Recorda-vos algum tempo?

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Arco-Iris