Peter Lorre (1904-1964) foi um grande actor, embora nunca tenha conseguido dar o salto para os papéis principais.
Depois de uma longa carreira em Hollywood, que era, já por essa altura, o centro da indústria cinematográfica, ressentiu-se do facto de não lhe concederem mais protagonismo, e decidiu voltar à sua Alemanha natal, onde esperava que a indústria de cinema local, consideravelmente mais pequena mas também mais criteriosa, reconhecesse o seu valor.
Mas o filme que co-escreveu e realizou na Alemanha, e que pretendia fosse o trampolim para uma nova fase da sua carreira, foi considerado demasiado depressivo e ultrapassado pelo público alemão. E a Lorre não restou outra alternativa senão regressar ao star system de Hollywood, devorador e ingrato, do qual se queixara e quisera abandonar, mas o único que lhe permitia ganhar a vida. Isto é, cumprir a sua arte.
Hollywood castigou-o com papéis ainda menores, deixando claro que não lhe perdoava.
Os mecanismos da memória têm coisas do arco-da-velha, não é preciso ser neurocientista para saber isso. A que propósito me haveria eu de lembrar do Peter Lorre quando lia o anúncio da candidatura de Manuel Alegre, não me dirão?
Comentários Recentes