Economia Portuguesa (II) – Produtividade e Competitividade

Prestigiados economistas prescrevem o combate à crise através do aumento da produtividade e competitividade e a opção por investimentos na produção de bens e serviços transaccionáveis. Desta vez, debruçamo-nos sobre a primeira das questões.

A optimização de resultados de produtividade e competitividade apenas pode ocorrer em unidades de produção de bens e serviços activas. Em função do desafio de urgência, e sem investidores e recursos de investimento, Portugal está condenado, no curto prazo, a contentar-se com a dimensão do tecido económico actual, ou seja, a economia real de hoje.

De facto, a teoria é óptima; mas a aplicação prática está limitada. O País, desde o 1.º Governo do Prof. Cavaco Silva 1986, e incluindo obviamente os consulados de Guterres e Sócrates, optou por um modelo de desenvolvimento vocacionado para as grandes obras públicas: auto-estradas, Centro de Cultural de Belém, Mercados Abastecedores, Expo e Estádios de Futebol. Ignorou, pois, o imperativo de definir uma estratégia conducente ao aumento da actividade económica, através de investimentos na agricultura, nas pescas ou na indústria. Sucedeu até o inverso; na agricultura e pescas a diminuição de actividade foi subsidiada.

Em jeito de síntese, invocamos a denúncia feita há alguns anos pelo falecido Eng.º José Manuel de Mello, em entrevista a Nicolau Santos do ‘Expresso’. Com efeito, referindo-se ao Prof. Cavaco Silva, afirmava, então, o empresário ter o governo português privilegiado o encaixe financeiro nas privatizações à alternativa de relançar a indústria com portugueses.

Curioso é agora verificar que, entre os ilustres e mediáticos especialistas, figuram alguns nomes que desempenharam cargos governativos e que, aqui e ali, no PSD ou no PS, protagonizaram a privatização, a favor de estrangeiros, de empresas e indústrias históricas do país – as produções de detergentes e produtos de higiene pessoal e de chapa de vidro plano (esta existia desde 1936) são escassos exemplos de alienações de activos a estrangeiros.

Podem argumentar que, no cenário da integração europeia e da globalização, era impossível segurar, em mãos portuguesas, determinadas actividades. É quanto a mim falso. Itália e Espanha, em relação a sectores considerados estratégicos pelos respectivos governos, mantiveram, em poder de nacionais, empresas e instituições cuja transferência para estrangeiros era considerada adversa. Sobretudo, em conjugação com o Estado e empresários, as ‘cajas de ahorro’ espanholas têm desempenhado um papel nuclear na estratégia adoptada nesse sentido.

Depois de depauperado, o tecido económico português não tem condições para incrementar, subitamente, a actividade de que o País carece para criar o emprego e a liquidez para defrontar o futuro com facilidade.

O investimento privado seria o caminho certo; mas, do lado nacional, com grandes merceeiros e especuladores de bolsa, é difícil detectar empresários dispostos a assumir a reanimação económica do País. Do lado do investimento público, além do incremento da dívida externa, é notória a gula das grandes construtoras pelos lucros à custa de dinheiros do Estado.

Com este cenário, aumentar a produtividade e a competitividade é objectivo muito complexo. Naturalmente, a melhor das expectativas é, em termos de PIB, ficarmos com algo semelhante aos 0,53% de crescimento da última década, continuando a divergir em relação à Zona Euro (1,87%) e UE dos 27 (1,23%).

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