A Lusa traduziu e fiquemos com mais um clássico do Grande Livro do Pensamento Único:
E custam porquê? porque a MyjobGroup, uma generosa empresa de contratação via twitter, perguntou a 1000 pessoas quanto tempo usavam a aceder às redes sociais no seu horário de trabalho.
Deixando de lado coisas irrelevantes (como a produtividade não ser contabilizável apenas pelo tempo de trabalho excepto em casa de um idiota chapado, o estudo ser feito por uma empresa tão suspeita como o Vitalino Canas a falar de trabalho temporário, e só aceder à net quem trabalha com computador), temos mais uma verdade universal em todo o seu esplendor.
“As empresas deveriam monitorizar o acesso às redes sociais durante o horário de trabalho e assegurar que os seus trabalhadores não estão a abusar da liberdade de acesso a estes sites”
Dizem eles. E já agora monitorizem o acesso ao telefone, controlem se anda alguém a conversar com o parceiro do lado, amordacem-nos, amarrem-nos, e despeçam: a MyjobGroup precisa de despedidos, que até ganha a vida a contratar substitutos. Tudo muito temporário, é claro.
Caso verídico, próximo no tempo:
A internet e o mail é para perder tempo, o fax é mais fiável e rápido.
assinado: um gerente
Eu já trabalhei numa empresa em que o horário para os operários irem à casa de banho tinha de ser nos 10 minutos que havia para tomar um café. A dor de barriga se viesse antes ou depois, era para aguentar.
Este problema resolve-se de forma fácil. Só tem acesso à Internet quem necessita ter e nesses casos apenas aos sites/serviços necessários. Assim não há necessidade de se monitorizar coisa nenhuma (é sempre problemático interceptar comunicações em que as pessoas têm expectativa de privacidade – mesmo quando são avisadas disso e assinaram um documento a declarar que tomaram conhecimento). É isto que começa a acontecer em todo o lado em que há gente competente para configurar os sistemas, até por razões de segurança.
Notem bem, há de facto muitas pessoas que não mexem uma palha o raio do dia inteiro. Isso não é justo para quem paga o salário nem para os outros trabalhadores. Podemos sempre contra argumentar que o empregador/chefe tem a obrigação de definir funções, estabelecer objectivos, motivar, aliciar e fazer um acompanhamento tal que estes períodos de ócio não sejam possíveis ou então reduzidos a algo razoável – e eu concordarei com isso – mas também sou da firme opinião que dois males não fazem um bem.
Em tempos idos, numa empresa do Estado, a norma era:
Tudo sentadinho como os meninos de escola, e o Chefe (O querido e amado Chefe), ao fundo numa imponente secretária, onde via as costas dos seus subordinados
O infeliz que levanta-se a cabeça e olha-se em volta, mais do que o razoável, ouvia logo a pergunta:
– Senhor Fulano há algum problema ou não tme que fazer !!
Era uma secção de Contabilidade
A productividade devia ser igual à de uns fulanos que comigo trabalhavam, num dia inteiro não levantavam os olhos do papel, e o assunto ficava sempre na mesma
Deve ser isto o que pretendem de novo
sabemos por experiência própria que muitas empresas até já bloquearam o acesso às redes sociais, mas será esta a melhor solução? Não se trata sequer de confiar ou não na responsabilidade de cada um e deixar ao seu critério o acesso às redes sociais. Trata-se isso sim de “as empresas conseguirem aumentar a produtividade das pessoas com o uso das redes sociais“, tal como escreve Eduardo Mayer Fagundes: http://efagundes.com/wp_blog/?p=30
A triste e crua realidade é que a maior parte das pessoas não tem um emprego criativo ou aliciante, onde haja vantagens em utilizar o “networking” social. Se conseguirem conceber um sistema económico onde isto não aconteça e se consiga o mesmo nível de prosperidade que temos hoje em dia, sou todo ouvidos.
Tenho tb sérias dúvidas sobre aumentos de produtividade que não tenham base um rigoroso planeamento e execução. Os métodos ad-hoc podem representar aumentos de produtividade pontuais, mas a prazo costumam falhar dado que têm efeitos colaterais grandes e ao mesmo tempo inesperados. Por exemplo o uso de telemóveis para acertar pormenores em cima da hora levam a muitas perdas que não existiriam se as coisas fossem minimamente planeadas, pior, como essa ferramenta fica disponível, deixa-se simplesmente de planear. Infelizmente assisto a isto em muitas empresas quotidianamente.
Além disso os ganhos intangíveis são por definição difíceis/impossíveis de quantificar. Já as horas perdidas são muito facilmente contabilizáveis.
Há outro aspecto que faz com que o acesso aos PCs tenha de ser restrito e controlado. Trata-se da segurança. Falem com qq administrador de sistemas e perguntem-lhe acerca dos problemas que ele tem com vírus e afins. É quase certo que se esse administrador responder que nas redes dele nunca entraram vírus, então é porque é incompetente no que faz. Por estes motivos de segurança os administradores de sistemas são forçados a cortar todos os vectores de entrada de malware. O acesso à Internet é um desse vectores. Vejam por exemplo esta notícia: El ordenador de Spanair que anotaba los fallos en los aviones tenía virus.