Conhecemos há muito o elevado grau de auto-estima em que Cavaco Silva se empoleira. É o único candidato presidencial – e cidadão português, acrescente-se – com sabedoria e aptidão para “moderador da vida nacional”, garantiu a apoiantes, algures na Beira Alta. No fundo, ao próprio País, dada a cobertura da comunicação social.
Cavaco, no habitual estilo ostensivo, aproveitou também para conjugar a qualidade do ser genial com a arte da feitiçaria:
“Não podemos excluir a possibilidade de uma grave crise em Portugal, não apenas económica e social, mas também política”
Bradou a advertência com voz assustadora. Os convivas entreolharam-se, boquiabertos e de pálpebras estendidas. Subjugados pelo medo, refugiaram-se, ainda assim, nos caminhos da fé : “Portugal vai entrar em grave crise e este homem é o nosso salvador”.
Mesmo ausente e a larga distância, também fiquei pensativo: “Portugal vai entrar em grave crise?”, interroguei-me, perplexo, pelo tom convincente e premonitório de Cavaco. Afinal, Portugal, com excessivo endividamento externo, fragilidade económica acentuada, unidades fabris e comerciais a encerrar, o desemprego em alta, as reduções de salários dos funcionários públicos, a eliminação e o congelamento de prestações sociais, aumentos de impostos directos e indirectos, prejuízos da banca socializados, acesas polémicas partidário-políticas sobre o PEC I, o II e o III; afinal Portugal, repito, a despeito desta pesadíssima carga, ainda está em crise limitada. Pensamentos diferentes. Do País, eu tenho uma visão e ele uma antevisão.
Será apenas uma diferença temporal? Sei que é o suficiente para não lhe dar o meu voto. Além do resto, horroriza-me a ideia de ver o Palácio de Belém convertido na ‘Embaixada de Vilar de Perdizes’. Ou em Palácio de Bruxaria.
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