Economia da Felicidade: há mais mundos

Sempre me pareceu lógico que a qualidade de um país civilizado assentasse num equilíbrio entre produtividade e felicidade, o que acontece, por exemplo, nos países nórdicos, mesmo com a desvantagem do clima.

Gabriel Leite Mota doutorou-se, recentemente, em Economia da Felicidade, defendendo, entre outras ideias, que um dos factores que afecta negativamente a felicidade dos portugueses é a corrupção, acrescentando que a geração de riqueza não deve ser uma obsessão, ou seja, que há vida para além do défice.

Não posso deixar de me sentir reconfortado por saber que há vozes diferentes, mesmo que marginais. O discurso dominante limita-se a fazer o elogio da concorrência como um sucedâneo da predação, numa espécie de darwinismo social, em que o mais forte terá direito a eliminar o mais fraco. Para além disso, nunca deixará de me fazer confusão que o mesmo discurso dominante insista na ideia de que é possível melhorar a situação de um país à custa do prejuízo dos cidadãos, transformando a nação numa espécie de abelha-rainha que vive à custa dos sacrifícios cegos do resto da colmeia.

Ficam a seguir algumas sugestões de leituras adicionais, com argumentos que se afastam do pensamento único:

Why should happiness had a role in welfare economics?

Happiness,  economic well-being, social capital and the quality of institutions

Paulo Trigo Pereira: Sete propostas para um OE mais justo e realista

 

Comments


  1. O Butão, por exemplo, mede a FIB em vez do PIB!
    http://facedaletra.blogspot.com/2011/10/fib-em-lugar-do-pib.html

  2. Guillaume Tell says:

    Interessante, quanto mais a Economia abranger disciplinas, áreas mais se torna atraente e mais “exacta” (bem que a Economia não pode ser considerada uma ciência exacta, ou mesmo ciência).

    Mas entre o que vi e ouvi vejo o seguinte: menos Estado (menos corrupção é isso), mais responsabilidade individual. Ao fundo pede-se às pessoas de se assumir mais por sí próprias (mais uma vez: menos Estado) e de pensar em outras coisas que é em dinheiro rápido ou em prazeres imediatos e efemeros. Mas há outras coisas, e é por isso que a Economia da Felicidade é uma área recente, é que ainda tem dificulades a establecer estátegias estruturantes (as propostas do Paulo Trigo Pereira são interessantes mas são insuficientes e não podem fazer um Orçamento) como há algumas incorrências (porquê esta minorização da luta contra a inflação).

    Penso que temos aqui uma base interessante de trabalho, só que para evitar que no futuro esta base seja escutada é preciso haver muita diversidade nesse ramo. Porque eu teimo (e já começa a aparecer na sociológia) começarem a aparecer “ideias romanticas”, do estilo:
    – As pessoas deveriam virar-se mais para a arte, para o cuidado aos outros e menos para os valores materais e financeiros.
    – Está bem mas vão viver de quê?
    – Temos de mudar, reorientar o sistema económico e social para que possam sustentarens.
    – Ou seja haver uns que “trabalham a sério” para sustentar os outros. Porque como é que vais apoiar um sistema que na prática não produz riqueza financeira?
    – Não… euh

    De facto o dinheiro não faz a felicidade, mas a falta dele também não (tal como existe a curva de Laffer para os imposotos, deveria haver uma curva de Laffer para os salários). Estas ideias saiem de pessoas que, perdoão-me a expressão, mas que não fizeram nada de concreto na vida e que vivem em mundos encantados. São universitários que podem imaginar milhares de hipóteses, teorias mas que depois são impossíveis de montar, ou falham retuntamente, porque não incluem o “factor humano”, ou a parcialidade do ser humano se quiserem. Porquê? Porque os “empregos da felicidade” ou a “civilização dos lazeres” (chamam isso como quiserem) são ideias de “ricos”, de gente que se pode permitir de pensar abstacto.
    Sempre foi assim álias? Achais que nos países pobres as pessoas estão preocupados com questões como a liberdade ou a democracia. Não porque têm de sobreviver! Para podermos começar nisso é preciso ter uma situação confortável e estável, é necessário desenvolvimento económico e financeiro. Por alguma razão o 25 de Abril aconteceu nos anos 70 e não antes. Porque nos anos 70 a população portuguesa já era na sua maioria classe média, já se podia dar ao “luxo” de pensar em democracia. Não era como 10 anos antes onde eram quase todos pequenos agricultores pobres preocupados com o dia de amanhã.

    Primeiro dinheiro, depois lazer. É assim, é simples (depois há diversas formas de fazer riqueza claro, umas boas e outras mãs, e as mãs em geral não produzem riqueza mas ricos, o que não é igual e por isso não é riqueza).

  3. Guillaume Tell says:

    *não seja escutada (não é nenhum lapso revelador! :))
    ** que começam
    *** perdoam-me
    **** pessoas estão preocupadas

  4. Catarina says:

    Deixo outra sugestão de leitura sobre este assunto; um livro que aborda a questão da Felicidade da Sociedade (e não a do indivíduo) sob o ponto de vista de várias disciplinas, entre as quais a Economia – Happiness: Lessons From a New Science de Richard LAYARD