Angola, emigração e direitos humanos

O jornal ‘Público’, a propósito da emigração e integração no ambiente sociopolítico e económico de Angola, revela um série de opiniões de portugueses a viver naquele país; onde, dizem, não existir liberdade de expressão e ser caracterizado por corrupção endémica.

Ressalte-se a coragem do jornalista Miguel Madeira, pelas denúncias e duras críticas formuladas ao governo de José Eduardo dos Santos – o “Zézinho” antigamente e “Zedu” na versão pós-moderna; e a coragem é, a meu ver, tanto maior quanto é verdade que o jornal em que trabalha integra um grupo económico, presentemente envolvido em investimentos no mercado angolano. Anseio pela não reedição do triste episódio Pedro Rosa Mendes. A notícia em detalhe pode ser lida aqui.

Em jeito de defesa em relação eventuais comentadores críticos – alguns até injuriosos – a questionar se eu, português, tenho o direito de opinar sobre a vida política e social de Angola, desde já avanço com três argumentos:

  • Sou defensor intransigente do cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Angola não está fora do Universo e foi reeleita em Maio de 2010 Estado-Membro do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, mas nunca cumpriu com promessas anteriores a 2007;
  • Sem nunca residir naquele país, conheço-o suficientemente bem e tenho por lá gente amiga e sã – alguns até simpatizantes do MPLA;
  • O contingente de emigrantes portugueses não é uma massa homogénea, e se alguns, sobretudo empresários ao estilo de Américo Amorim, pactuam com a família Santos e seus generais, outros, bem mais humildes, nem com o mais inócuo desabafo se livram da DISA, polícia política angolana, se os ouvirem e interpretarem como atentado contra a segurança do Estado; isto faz-me recordar o poema de Agostinho Neto, Contratados, que no final diz:

Com gritos de protesto,

mergulhados nas lágrimas do coração

e cantam

Lá vão

perdem-se na distância

na distância se perdem os seus cantos tristes

O que o ‘Público’ informa hoje não é novidade. De facto, a HUMAN RIGHTS WATCH, no Relatório Mundial 2011: Angola (ler versão portuguesa), abordava os temas da notícia e outros, a saber:

  • Falta de liberdade de expressão e de informação
  • Corrupção endémica
  • Detenções arbitrárias e recurso à tortura
  • Penas de prisão e crime de morte sobre opositores políticos
  • Falta de liberdade e detenções nos meios de comunicação social não afectos ao MPLA
  • Milhares de acções de despejo em Luanda na Huíla e no Lubango, sem contrapartida de casa ou indemnizações às famílias expulsas
  • Incumprimento do compromisso do governo de Angola, anterior a 2007, de ratificar os instrumentos da ONU relativo ao Conselho de Direitos Humanos.

Sabe-se que, através da Sonangol, os capitais angolanos vão dominar o BCP. A China, por sua vez, já assegurou participações na EDP e na REN. Angola é o segundo fornecedor petróleo da China e o primeiro parceiro económico da potência asiática em África. Em ambos os países, há a coincidência do ‘capitalismo de Estado’, através do domínio dos partidos no poder (MPLA e PCC). Mas, a despeito disto, ainda andam uns quantos líricos ou míopes, não percebi, a vociferar contra os ‘neo-keynesianos’, por estes entenderem que o Estado deve comparticipar com os privados no relançamento da economia. Dislexia! Pura, múltipla e estúpida dislexia!

Comments

  1. um estado onde a imprensa é manipulada por grupos de interesses

    onde num dia os meninos à volta da fogueira são o futuro…e passados uns anos já são cleptómanos irredutíveis?

    uma imprensa subjugada à cleptocracia nacional?

    isso não era em Portugal?

    também acontece em Angola? nunca pensei….e nos EUA e no Brasil

    e espante-se até na livre imprensa inglesa…mas obviamente quando há uma baixa na corporação jornalística…puxam logo da carteira profissional…nós somos isentos de interesses…pois plural como o…

  2. Felizmente a nossa corrupção nunca chega a endemizar-se torna-se alóctone pela reforma…há uns que vão engrossar a de Angola outros tornam-se Generais das Areias da Bahia outros Valem-lhes os vales da Londrina capital

  3. Estranha-se que só “agora” todos descubram que não há liberdades em Angola. Não é de agora!!! Já tem décadas.

    Só agora é que se levanta o problema!!!!?????

  4. O sensacionalismo noticioso, é mau.

    Se as noticias sobre esta péssima situação vissem sendo divulgadas, há mais tempo, sem ser para ter grande titulos jornalisticos, seria mais “proprio”!!!

    Ou não???????

  5. clara says:

    Boa tarde, meus senhores.

    Continuo a não perceber porque se diz que há falta de liberdade de imprensa em Angola. Aqui vão alguns exemplos:
    “…a foto montagem que mostra o presidente José Eduardo dos Santos e dois dos seus colaboradores mais próximos, algemados e com cartazes alegando terem sido presos por roubo…” Janeiro 2012, Folha8
    “…imprensa privada, primeiro com o bissemanário Folha 8 (meados dos anos 90), que divulga, entre outras notícias, ataques não veiculados pela imprensa oficial e planos militares das forças armadas. Seguiram-se outros semanários, principalmente o Agora e o Angolense que, gradualmente, foram dando voz às faixas da sociedade civil, entre religiosos e políticos
    O ressurgimento da Rádio Ecclésia, afecta à Igreja Católica, em 1997…
    Os órgãos internacionais de comunicação social passaram a ter um papel cada vez maior. Para um acompanhamento mais pormenorizado da situação em Angola, a Voz da América criou um gabinete especial em Luanda e um programa, chamado Linha Aberta, especificamente dirigido aos angolanos. Sucederam-se agências, rádios e jornais estrangeiros que fixaram em Luanda os seus enviados especiais.
    Há concertos com rappers onde se chama ao presidente: bandido, gatuno e filho da puta.

    “Em cinco anos como embaixador em Angola, Francisco Ribeiro Telles nunca recebeu informação de que algum português tenha sido incomodado pelo “exercício de se exprimir”, nem teve conhecimento de violação de direitos humanos.” – retirado do tal artigo do público
    Há mais de sete mil empresas portuguesas a exportar para Angola, o maior destino das exportações nacionais fora da União Europeia. – retirado do tal artigo do público
    P. tem alguns sócios angolanos, mas não está na mão das pessoas erradas. Um é “bastante influente”, um homem “respeitado, discreto e sensato”. – retirado do tal artigo do público
    Interessante como ele fala do seu sócio como sendo a pessoa certa. Os dos outros são pessoas erradas????
    O MPLA ganhou com mais de 80%.
    Já agora o Presidente nunca foi conhecido por “Zézinho”! Que disparate!

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