Elisabete Figueiredo
Your face not Portugal
Decido parar em Rasnov, na volta, espero na paragem de autocarro com um cheiro esquisito em volta. Milho doce cozido. Ora aqui está o cheiro esquisito. Pergunto à senhora se posso tirar uma fotografia. Diz-me que sim. Talvez na esperança que eu coma uma maçaroca cozida. Pouca sorte (provavelmente a minha). Detesto milho.
Um casal de romenos com um filho está também à espera do autocarro. São turistas. Como eu. O homem procura tirar uma foto dos três. Naturalmente ofereço-me para lhes tirar a fotografia fazendo gestos. Multumesc, diz-me ele. Cu placere, respondo eu, fazendo recurso das poucas palavras que sei dizer em romeno.
Numa mistura de inglês e romeno pergunta-me de onde sou. Portugal, respondo eu. Faz um ar muito espantado, olha para mim, passa com a mão em frente da sua própria cara e diz: ‘your face not Portugal’. Rio-me e repito: Portugal. Volta a abanar a cabeça: ‘your face not Portugal, Portugal dark’ e aponta para o próprio braço, moreníssimo, nem com 20 anos na praia eu ficaria assim. Volto a rir-me e tento responder numa mistura esquisita, ainda mais esquisita, de italiano e inglês, na esperança que se pareça ao menos vagamente com romeno, que em Portugal há pessoas de todas as cores, como na Roménia. Não percebe. Hesito entre demonstrar-lhe com o cartão de cidadão a minha nacionalidade e continuar a rir-me, não dele, mas de mim. De ser contente por não parecer Portugal.
Continuo a rir-me. Riem-se os três também e entretanto chega o autocarro.
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