Foi o Eduardo que me deu a notícia: Morreu o Manuel António Pina, o nosso velho professor de Jornalismo do Garcia de Orta.
Como o tempo passa… Foi em 1986/1987, no mesmo ano em que o Porto ganhou a Taça dos Campeões Europeus em Viena. Ele, que na altura era um repórter do «Jornal de Notícias», usava frequentemente o futebol como exemplo das matérias que transmitia. Devo-lhe tudo o que sei hoje em dia sobre Jornalismo.
Nos anos seguintes, fui encontrando o meu velho professor por aqui e por ali. Confirmando ser dono de uma excelente memória visual, conhecia-me sempre e cumprimentava-me afavelmente. Como numa conferência no Largo de S. Domingos, talvez em meados dos anos 90, em que mais uma vez foi falar de Comunicação Social.
Mais recentemente, voltámos a cruzar-nos por diversas vezes, agora por causa dos animais e da Associação MIDAS, que ambos ajudávamos como voluntários. Lembro-me como se fosse hoje de uma Tertúlia na Associação dos Deficientes das Forças Armadas, em que discorreu sobre a sua relação com os animais e em especial com os seus gatos. Seus não, que não lhe pertenciam, apenas andavam lá por casa.
Acompanhei sempre de perto a sua carreira. Nos livros e nos jornais. Foi com surpresa que, a partir de certa altura, comecei a ver nas suas crónicas referências directas e indirectas ao Aventar e a posts nossos. Ele nunca o escondeu, os blogues eram uma fonte importante dos seus textos.
Em Março deste ano, tentei a minha sorte e convidei-o a escrever um texto para o 3.º aniversário do Aventar. Não o fez, mas ao contrário de algumas prima donnas, respondeu através do mais bonito mail que alguma vez recebi. Tão bonito e tão íntimo que, por agora, devo reservá-lo para mim.
Ainda assim, o meu velho professor não levará a mal que transcreva a parte final dessa mensagem: «Fiquei muito feliz por saber de si. Conhecia bem, obviamente, o seu nome, tanto do Aventar como do 5 Dias, até porque quase sempre me identifico com as suas posições, mas não o associava (temo que por culpa do dr. Alzheimer,…) aos meus anos do Garcia de Orta. E, como tenho má memória para nomes mas excelente memória visual, a sua foto no gmail facilitou-me o imediato reconhecimento.
Se vive no Porto ou aqui perto, ou se calhar de passar por aqui, telefone-me (96 xxx xx xx). Gostava muito de o reencontrar pessoalmente.
Um grande e cordial abraço do
map».
Desde esse dia, tentei responder-lhe, mas nunca consegui. Por falta das palavras certas, pelo bloqueio que a sua mensagem provocou em mim. Afinal, o que teria eu a dizer a alguém como Manuel António Pina que não pudesse ser visto como um atrevimento? O telefone, para quem me conhece, não era obviamente uma hipótese.
Os dias foram passando. Mantinha-se o ritual de começar a ler o JN pela última página, mas de repente fez-se um silêncio gritante nas páginas do jornal. Dia após dia, nada.
E hoje acabou. Com a morte, tudo acaba. Para nós, os que ficamos, resta a memória. Para mim, o profundo arrependimento por nunca ter tido a coragem de responder ao meu velho professor. Que sim, adorava voltar a vê-lo. Que queria muito ir a sua casa, recordar os tempos do Garcia, falar de jornalismo e de política, conhecer os seus gatos. Que ia logo que pudesse receber-me. Que passava o dia consigo. Que gostava muito de si, professor. Esta é a resposta que nunca lhe dei.
Descanse em paz.
Contínuo a interrogar-me qual o motivo porque os Bons e Necessários ao País nos deixam e ficamos como que orfãos………