Mulheres no Aventar

Corro o risco de ser politicamente incorrecto, mas vou procurar escrever sobre algo que, admito, poderá não ser motivo para um texto – as mulheres no Aventar.

Não há qualquer tipo de novidade na presença feminina na web, mas parece-me que há ainda uma relação muito desigual entre os dois géneros, ou não?

Nas últimas semanas temos tido a felicidade de ver entrar na nossa equipa alguns novos aventadores, todos eles a escrever no feminino. Não creio ter havido por cá uma negociação em torno da paridade que até se encontra legislada  – esta Lei  de Agosto de 2006 vem estabelecer

“que as listas para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para as autarquias locais são compostas de modo a assegurar a representação mínima de 33% de cada um dos sexos.”

E a nova realidade do Aventar levou-me a pensar de que modo está ou não mais igual a participação das Mulheres na nossa sociedade, no  seu sentido mais amplo. Será que hoje a Mulher saiu realmente do espaço doméstico para o espaço público? Será que faz algum sentido discutir esta temática?

Há quem ache que sim: Sofia Silva apresenta na sua Tese de Mestrado um estudo nesta área e procura pensar a relação entre as vidas pessoais e profissionais sob o ponto de vista feminino.

Em diferentes espaços sociais tenho percebido que é menos fácil a participação das mulheres – nas associações de pais, nos clubes e associações, nos sindicatos, nos partidos…

Que factores concorrem para essa realidade?

Lá está, o costume! Escrevi, escrevi e não disse nada… Confesso que tinha uma ideia na cabeça quando comecei, mas com o percurso dos dedos no teclado fui-me afastando e já não consigo regressar…

Sejam bem-vindas.

Comments

  1. luis says:

    A igualdade entre sexos nunca existirá (somos diferentes), mas devemos sempre lutar por ela, dando pequenos passos na sua direcção, para diminuír as injustiças. A foto é de qual nova aventadora? loool

    • João Paulo says:

      Meu caro Luís, obrigado por ter comentado. Eu também não defendo (alguém defende?) igualdade – há diferenças e ainda bem que as há. Ponto. Agora, será que a sociedade é de facto geradora, promotora de possibilidades iguais? Homens e mulheres têm as mesmas portas para abrir? Ou há umas fechadas e outras abertas em função do género?
      JP

      • luis says:

        O que eu quero dizer com dar pequenos passos para diminuir as injustiças é esse abrir de portas. Analisando historicamente, vemos que esses passos têm sido dados e estou convencido que continuarão, mas temos que dar uns empurrõeszinhos!

  2. Paula Sofia Luz says:

    Obrigada…meu caro camarada aventador 🙂

    • João Paulo says:

      Xi… a palavra camarada… já nos vão cair em cima os amigos do Passos Coelho…

  3. “Temos tido a felicidade de ver entrar na nossa equipa alguns novos aventadores, todos eles a escrever no feminino.”
    Esta frase é em si um tratado, JP.

  4. aspas meu caro JJC, aspas!

    • Está entre aspas está, é uma citação tua, onde nem usaste aspas, precisamente.

      • João Paulo says:

        Itálico meu, itálico, Onde se lê aspas, deve ler-se itálico… possa… não se pode tentar ser poeta por um momento 🙂

  5. Obrigada, João Paulo.
    Creio que infelizmente ainda estamos muito longe de haver igualdade de oportunidades. Continuo a ver e ouvir casos de mulheres completamente assoberbadas de trabalho que chegam a casa exaustas e ainda fazem quase todas as tarefas domésticas sem qualquer ajuda. Muitos destes casais, mais jovens do que eu, funcionam mal por isso mesmo.
    É ainda necessária uma alteração nas mentalidades que demora a concretizar-se. São, frequentemente, as mães, muitas vezes as mães mais sobrecarregadas, que perpetuam esta situação. Não partilham as tarefas com os maridos/ companheiros e também não ensinam os seus filhos a partilhar as tarefas. Como já ouvi dizer: «prefiro ser eu a cozinhar, ele deixa a cozinha toda suja e depois tenho que limpar. Dá-me mais trabalho.»
    Se eu até posso dedicar algum tempo «a escrever umas coisas», grande parte das mulheres que conheço não o podem fazer, devido a todas as solicitações familiares e profissionais.

    • João Paulo says:

      Noémia, subscrevo parte da argumentação: uma boa parte da responsabilidade é culturalmente inculcada na própria mulher que assume para si o papel de fazer a, b, c e d… Que diabo, porque é que a mulher tem que aspirar? Porque é que a mulher tem que tratar da cozinha? Porquê? Porque é que assumem isso como uma responsabilidade sua? Apenas e só porque é sim, sempre foi assim – é cultural. Como podemos mudar? Com tempo, com mais e melhor educação, com mais cultura e com mais MULHERES a escrever no Aventar. ehehehe

      beijinhos e bem-vinda ao Aventar,
      JP

  6. E de quem é a culpa quem é? De quem educa os homens: as mães, reproduzindo o que fizeram antes delas as outras mulheres, e o ciclo de diferenciação não se quebra, e nem mesmo quando as mães são mulheres que têm em relação a todas as outras coisas uma visão ‘moderna’, chamêmos-lhe. Esses homens que batem nas mulheres batem simbolicamente nas mães. Vasto tema. Complexo e cheio de tabus.

    • João Paulo says:

      Olá sarahadamopoulos, obrigado por ter comentado. Começo pelo fim e deixo o desafio – não nos quer postar sobre isto? Não quer abrir a discussão falando desses tabus? Quanto ao comentário, subscrevo integralmente – a culpa é TAMBÉM (não só, mas também) das mulheres que assumem a condição e reproduzem, claro que sim. As meninas são educadas a fazer comidinha a brincar, com aspiradores e máquinas de lavar. Os rapazes com carros e com pistolas. As meninas são educadas a ler a Anita, a Barbie e as Winxis cujos padrões são, culturalmente, reprodutores. Concordo em absoluto.
      Fica o desafio. Vamos ao debate.
      JP

  7. armindo vasconcelos says:

    Sobre a autora de “Um redondo vocábulo” se escreveu: “Tem um jornal imaginário na cabeça há muitos anos, utopia cuja concretização os actuais formatos da imprensa não permitem. Aguarda com interesse as metamorfoses da História passíveis de abrir novas possibilidades para o jornalismo em Portugal”. Será que Sarah Adamopoulos poderia guiar-nos por essa cultura de tabus, desde logo os que proíbem esse género de utopias, talvez para nos tornarem indecisos em relação às metamorfoses?

    • luis says:

      Autora de “Um redondo vocábulo”? Fiquei confuso…

    • De facto essa frase não saiu lá muito boa. Mas a piada de Armindo Vasconcelos também não caramba :/ na linha dos comentários pessoais maldosos que abomino nestas caixas de guerrilha civil bota-abaixo

      • armindo vasconcelos says:

        “Uma pessoa educada é aquela que sabe sorrir ao invés de disparatar” (José Eduardo Agualusa, Barroco Tropical).

        Apetece-me assim sorrir, ainda que revele um sonoro “me poenitet” por não ter sabido comunicar! O que não é muito costume. Mas não vou deixar “a memória da indignação” latejar-me “dentro da cabeça” (palavras suas, Sarah, num dos seus livros). Prefiro esclarecer!
        Mas vamos aos factos:
        • Considero feliz a apropriação do título do poema do Zeca para a sua página pessoal, sobretudo se lida com o fundo musical da versão de Cristina Branco.
        • Também eu tenho um jornal imaginário na cabeça, porventura há mais anos que a Sarah, mas, porque sou mais velho, cada vez tenho menos tempo para esperar pelas metamorfoses da história, “passíveis de abrir novas possibilidades para o jornalismo em Portugal”.
        • O que fiz no meu comentário foi instigá-la à utopia de ir destruindo essa “cultura” de tabus, perseguindo a nossa indecisão em abordá-los, talvez porque alguns (nós?) já deixaram de acreditar.
        • “Como dizia Vaclav Havel, “Só a visão não é suficiente, ela precisa de ser combinada com a aventura. E não basta olhar para o cimo da escadaria, precisamos de subir todos os degraus”.
        • Porque começo a desesperar de não ter já tempo para mudar muito mais, fixo-me com a esperança naqueles que ainda ousam, desde que não me interpretem mal. Não gosto, de facto, de ser mal interpretado.
        • Como despedida, e continuando a insistir na instigação (a voz da sua pena pode muito mais que a minha), fico-me com Drummond, quando em “Procura da poesia” escreve: “Penetra surdamente no reino das palavras. / Lá estão os poemas que querem ser escritos”.
        PS. Folheei muito recentemente, em casa de uma amiga que continua a sentir-se refugiada de Moçambique, o seu “Voltar”. Trouxe-me à alma algumas angústias, sobretudo a de, em devido tempo, ter tido a incumbência de gerir quem e quando vinha, na ponde aérea da Beira. Memórias de um tempo de que apaguei tanta coisa… porque, na voz de Mia Couto, “nenhuma memória pode ser revisitada”, ao socorrer-se de Herman Hesse que falava desse “livro de imagens” que é a nossa vida, e onde se vai “reflectindo o mais violento e mais cego dos desejos humanos: o desejo de esquecer”.

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