Era fatal, falamos de imprensa e da direita, mais extrema ou mais sossegada, solta-se o mantra: em Portugal a comunicação social, é tudo de esquerda.
Como lógica tem o seu quê de graça, ora vejamos: embora se desconheça (por imposição da maioria parlamentar) quem são os donos dos grupos de comunicação social em Portugal, há umas luzes. Para começar Belmiro, esse perigoso esquerdista que segundo algumas lendas começou a fortuna quando estava numa comissão de trabalhadores, o uso do vermelho na imagem corporativa do Continente não engana. Depois temos a Cofina, vejam esta listagem, meio Comité Central do PCP anda por ali. A TVI? quem não se lembra de Pais do Amaral desfilando em manifs aos gritos sincopados de 25 de Abril Sempre, SIC nunca mais. E a Imprensa, propriedade de Balsemão, fundador da ala liberal, perdão, libertina do marcelismo, um homem que nunca renegou o seu passado anti-fascista? Como não bastasse esse monopólio da esquerda, temos a presente invasão angolana, gente do MPLA, comunistas de sete ou oito costados.
– Ó meu, estás a tripar, isso não é verdade – avisa-me um bichinho verde com antenas e forma vagamente humana.
Pois estava. Na realidade todos o citados e restantes, é sabido e contado em todas as esquinas mas ocultado em letra de forma e por óbvias razões, são masoquistas. Malta do capitalismo mais selvagem que contrata jornalistas de esquerda, abre pela manhã o seu jornal, e geme, mansa:
– Ai que bom, meu querido colaborador, dá-me mais, vá, não acertes só no rabinho que aí dói menos.
E andam nisto há anos e anos. Tantos anos como os que levam enterrados os últimos jornais de esquerda e grande tiragem, precisamente O Jornal, e o Diário de Lisboa, e todas as tentativas de outros erguer, assassinadas rapidamente pelas distribuidoras e/ou tipografias, um processo sistemático que foi ocorrendo nos anos 80 e remata no Já, entre outras tentativas do Miguel Portas, por exemplo. A sangue-frio, as histórias andam aí para se contarem, delas me recordo como leitor a quem o seu jornal de eleição muito simplesmente não chegava, azares de provinciano.
A graça tem pouca lógica, mas o seu arremesso é constante: não há semana sem insurgências contra a blasfémia de esta gente albergar tudo o que é esquerdalho nas suas redacções, por vezes com apelos directos ao despedimento. Ainda no aquecimento para observar o invisível José Manuel Fernandes, há uns dias, os encontrava na Renascença.
Agora a sério: o problema da extrema-direita (de direita ainda conheço democrata-cristãos vagamente no CDS e social-democratas nas bases do PSD, e conheço porque naturalmente nos entendemos entre malucos) com a comunicação social é que precisa de construir uma ficção sobre o mundo, é essa a sua base argumentativa, um romance onde Hitler foi um socialista, socialismo não é a propriedade colectiva dos meios de produção mas tudo o que mexa e não seja nosso (o clássico quem não é por mim…). Para a ficção não se parecer muito com a Branca de Neve e os Sete Anões, necessita de se vitimizar. Por isso mesmo esta queixinha é internacional (é procurarem pelos mises.org), fazendo parte da cartilha elementar da causa. Somem a isto a superioridade intelectual dos eleitos pela visão salvadora do tal liberalismo absolutista, e é vê-los a malhar nos que defendem, quem detêm os meios para investir em comunicação social, aguardando um tempo em que a verdade a que têm direito se apresente como um Popular Observador:
(Volkischer Beobachter, oferta do meu amigo Nuno Castelo Branco, há fascistas porreiros, pá)
Ao nível de quem se estreou num novo ramo, o de jornalismo de bordel (com todo o respeito por quem neles honestamente trabalha), é só ler no DN, esse antro da esquerda onde um Gonçalves e um Neves opinam, como afinal a Eva do assassino nazi é socialista com nacional e hífen antes. Continua a conferir, o algodão pouco engana.
Post Scriptum: evitei responder directamente a um clássico do sovietismo, onde quem não pensava da mesma forma era remetido ao hospício porque só podia ser alucinado. Custou, mesmo assim espero não ser internado entretanto.
Imagem: estátua de Leopold Sach von Masoch, em Viena.
O lamento entende-se porque já não há aqueles pasquins de propaganda partidária tipo Diário de Lisboa.
Agora que a tónica geral da imprensa seja de esquerda. é uma evidência.
Não aquela esquerda como ‘debe de ser’, matraca de invectivas e de palavras-chave, mas aquela esquerda dos ‘coitadinhos’, a nacional, a bondosa, que exalta os pobrezinhos e odeia os ricos; que vê exploradores nos patrões mas bajula os investidores antes de se tornarem patrões; que vê no subsídio aquela caridadezinha que obterá bençãos divinas para a nação.
O DL pasquim? vai lá para o Observador. Vá, aquilo é que é qualidade (qual será a calinada de hoje?) Quanto ao resto é tão tolo, sobretudo porque chama masoquista à fina flor do capitalismo português, que nem merece resposta. Ainda dizem que os homens não choram, mas muito gosta a direita de se lamentar.
Os factos são lixados. Os grandes grupos pertencem a gente do centro ou da direita, é um facto. O Pasquim Correio da Manhã, da Cofina, é o diário com maior tiragem, é populista trauliteiro e de direita…temos que levar com os Camilos Lourenços desta vida em tudo q é canal de televisão ….mas coitadinhos dos liberais, os pobres darwinistas sociais não têm tempo de antena suficiente
Chamar direita a tudo que contraria o choradinho de esquerda só traduz o incómodo por tudo o que não seja um coro afinado e monocórdico.