João Calvão da Silva é o novo ministro da Administração Interna de um governo ironicamente precário que se prepara para assumir funções. Professor Catedrático de Direito na Universidade de Coimbra, Calvão da Silva é dono de um vasto currículo, na academia como na gestão pública, tendo sido Secretário de Estado-Adjunto do vice-primeiro-ministro Mota Pinto no governo de bloco central liderado por Mário Soares, o tal que, segundo os fanáticos, foi responsável pela intervenção externa de 1983, apesar da sua vigência de semanas quando o pedido de resgate foi feito, o que faz dele, segundo a lógica dos fanáticos, responsável por uma das bancarrotas de Portugal. Habemus despesista!
Extremismos à parte, o novo MAI tem uma outra alínea no seu CV que merece destaque. Foi da sua pena que saiu o parecer que, em Novembro de 2013, atestava a idoneidade de Ricardo Salgado no estranho caso da prenda de 14 milhões de euros que o empresário José Guilherme deu ao Dono Disto Tudo. Uma prenda que se justifica, segundo o dito parecer, porque teria sido dada a “um amigo de longa data” e não punha em causa a “gestão sã e prudente” do banco que, curiosamente, já não existe. Tratava-se de uma manifestação do “espírito de entreajuda e solidariedade” e Calvão da Silva considerava “natural, pois, que um amigo possa e tenha gosto em dar sugestões, conselho ou informações a outro amigo“. Portanto é amigo, tem gosto em dar sugestões, e ao invés de uma garrafa de vinho ou de uma caixa de robalos recebe um presente de 14 milhões de euros. E haverá algo mais normal nesta vida?
Numa altura em que o Banco de Portugal contestava a idoneidade de Ricardo Salgado, o parecer de Calvão da Silva foi fundamental para a estratégia do banqueiro e desarmou Carlos Costa, como de resto o próprio governador afirmou. O tal presente de 14 milhões, que Salgado se recusou a justificar perante o Conselho Superior do GES, foi dado, recorde-se, pelo empresário José Guilherme, que conseguiu esquivar-se à Comissão de Inquérito ao caso BES, ao Ministério Público e ao DIAP de Lisboa, alegando motivos de saúde que não o impediram de apanhar um avião em Luanda para dar um salto ao barbeiro em Lisboa. Não admira que o ministro agora escolhido por Pedro Passos Coelho esteja a prazo. Não iria durar muito.
Foto: Luís Saraiva@Esquerda.net
Acho que o futuro do Mundo passará pela dessensibilização do Ser Humano ao dinheiro e ao poder, para que possamos ascender a um patamar mais elevado! Custa-me ver gente, supostamente inteligente, a babar e a rastejar em nome de “valores” tão prosaicos!
Fez parte da justiça que temos .