As pieguices de Luís Montenegro

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O artista, já dizia Diácono Remédios, é um bom artista. E Luís Montenegro, gostemos ou não do personagem, é, efectivamente, um bom artista. Mas a desfaçatez da sua intervenção de ontem no Parlamento é de bradar aos céus. Quem ouviu o líder parlamentar do PSD, fica com a sensação de que os anos em que o seu partido governou não terão realmente existido. Que trabalhadores e pensionistas não foram espremidos até ao tutano. Que o estado-providência não foi profundamente afectado. Que os portugueses não foram alvo de um brutal aumento de impostos. Que não se vendeu património do Estado ao desbarato.

Para Montenegro, “2016 foi um ano perdido”. Talvez se refira ao seu partido e a oposição vazia e medíocre que fez. Ou, quem sabe, aos barões do ensino privado, que perderam uma boa parte das rendas milionárias que acumulavam, ano após ano, enquanto a escola pública definhava. Talvez se refira aos pobrezinhos da Comporta que, coitados, terão agora que reduzir a dose diária de caviar para pagar o novo imposto sobre o património. Não sei. Com certeza que não se estará a referir aos trabalhadores que recuperaram rendimentos, aos pensionistas que se livraram do corte de 600 milhões de euros que o seu partido defendia ou aos portugueses em geral, que em 2016 viram a factura fiscal descer, depois de, no ano anterior, o último em que o seu partido governou, terem aumentado 4,4%. Pelo quarto ano consecutivo.

Diz o deputado que “Até há um ano Portugal era um exemplo de reformismo na Europa“. Reformismo? Qual reformismo? Há um ano, Portugal era um exemplo de retrocesso. Era a trabalho precário que se banalizava, de mãos dadas com a acelerada destruição de direitos laborais, eram os impostos que não paravam de subir, sufocando as famílias e as pequenas empresas, era o SNS sem dinheiro, com as urgências transformadas num inferno e era a escola pública com cortes na casa dos 700 milhões de euros. Era o Banif a arder, o Novo Banco a arder, o dinheiro dos contribuintes a arder e o sistema bancário, no geral, transformado num incêndio só. E mesmo assim não se atingia uma meta, sendo que a do défice, aquela que agora ficará dentro dos limites impostos por Bruxelas, quase nos custou um processo sancionatório.

Questiona Luis Montenegro se “No fim de cada dia as pessoas estão verdadeiramente melhor daquilo que estavam e da perspetiva que tinham no final de 2015?“. É possível que o seu círculo mais chegado, ou quem sabe os amigos do avental, estejam hoje um pouco pior. Com o salário mínimo a aumentar e a perspectiva de terem que pagar uns trocos a mais pela casa de férias, é possível que o Bóbi passe a ir menos vezes ao salão de estética. Mas nada que um bom pé-de-meia nas Caimão não resolva. Porque as pessoas que beneficiaram da devolução de rendimentos, do alívio fiscal ou do aumento do salário mínimo são capazes, palpite meu, de estar pelo menos um pouco melhor que em 2015.

Austeridade transitória foi o que os senhores nos prometeram senhor deputado. Durante quatro anos e seis penosos meses. E entregaram-nos um país mais pobre, mais desigual, com uma carga fiscal incomportável e um estado social partido. Um país com uma dívida que não parou de crescer, um défice que nunca esteve controlado e um sistema bancário em cacos. Um país de onde centenas de milhares fugiram, onde as falências se multiplicaram e a desigualdade floresceu. Independentemente do resultado final da experiência Geringonça, o senhor e os seus pares continuam sem moral alguma para dar lições de moral a quem quer que seja. A vida do doutor Montenegro, compreende-se, poderá não estar melhor do que durante os anos de vassalagem que marcaram o anterior governo. Mas a vida dos portugueses, a tal que não estava melhor durante a governação catastrófica da coligação além-Troika, está hoje manifestamente melhor. Que o digam os trabalhadores que recuperam rendimentos, os pensionistas que, ao invés de cortes, viram as suas pensões aumentadas ou todos aqueles que viram a factura fiscal descer. Olhe, que o diga o Royal Bank of Scotland, essa perigosa pandilha esquerdalha, que por estes dias falou sobre um “mar de boas notícias” no país. Vá lá Luís, deixe-se de parvoíces e não seja tão piegas!

Foto: André Kosters/Lusa@Sol

Comments

  1. tá bem tá says:

    bom texto, mas onde se lê “artista” deve ler-se “pitbull sem escrúpulos nem vergonha”.

  2. José Peralta says:

    Quando um “luizinho” montenegro qualquer, (chame-se ele albuquerque, abreu amorim, leitão amaro e outras botas…) diz do alto da sua proverbial canalhice, que “2016 foi um ano perdido” (!?) confessa o biltre que afinal, se tivermos em vista os quatro anos de destruição da páfia (com “p” ou com “m” ?) afinal, até não estaríamos muito mal…

    …mas isso era se o aldrabão “luizinho”, falasse verdade !

  3. Muito obrigado.Bem visto e apoiado !!!

  4. Manuel Pinho says:

    Bom texto, coligação de esquerda sempre e se possível reforçada.

  5. Subscrevo na íntegra. Obrigada por dizer aquilo que eu queria dizer

  6. tá bem tá says:

    e o idiota útil loirinho do antigo CDS, actual PP (partido gémeo do PPD, o partido que por conveniência eleitoralista se diz “SD”), que veio dizer que BE e PCP são os idiotas úteis do PS? nada mal.

  7. Não são pieguices é tão só o lado negro da Maçonaria a falar.

  8. Anti-pafioso vidente says:

    quem é o espantalho,0 da frente ou o de traz

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