A alergia da direita aos direitos

73938-capitalismoDeus não está muito bem, graças a si mesmo, Marx sobrevive com dificuldades, a Esquerda vai andando e a direita está catatónica, pelo menos em Portugal.

Catatónica, mas à espreita e nunca silenciosa, que isto aqui, felizmente, é uma democracia. Nos últimos dias, dois representantes dessa amável facção falaram sobre direitos, termo que obriga os seus utilizadores à toma de doses maciças de anti-histamínicos.

Rui Rio, candidato a líder da direita, depois de ter despovoado culturalmente o Porto, vai já prevenindo que os governos deram às pessoas direitos insustentáveis, como se os direitos fossem ofertas governamentais e não consequência da justiça e da evolução da humanidade ou como se os direitos necessários fossem dispensáveis. A desonestidade intelectual da grande maioria que vem do CDS até aos órfãos da direita do PS (que é muito grande) insiste, há anos, na ideia de que o problema de Portugal está nos gastos com o Estado Social e não nos desvios de dinheiro pertencente ao Estado Social, para salvar bancos e para pagar as dívidas públicas insustentáveis e nunca sujeitas a auditorias. Rui Rio, tal como Sócrates e Passos Coelho, é apenas um empregado bancário e presidente pouco clandestino das grandes empresas que gostam de lucros elevados alimentados por salários baixos. Para Rio, o país fica no interior das salas em que se reúnem os conselhos de administração. Lá fora, estão as pessoas, espécie cujo único direito é trabalhar por pouco dinheiro e respirar baixinho, como diria Luís Montenegro. [Read more…]

Contatos? Pára! Pára!

There’s a lover in the story
But the story’s still the same

—Leonard Cohen, “You Want It Darker

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Hoje, no sítio do costume, há contatos.

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Também hoje, no Record (os meus agradecimentos ao nosso excelente leitor), voltamos a mergulhar na grafia Schweinstnegger: por um lado, quer a inadmissível grafia diretor, quer a incompreensível referência gráfica à selecção do Brasil, por outro, a triste notícia acerca da paragem do glorioso André Horta.
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Continuação de uma óptima semana.

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Lettres de Paris #21

«J’ai la France entière»

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Hoje morreu Leonard Cohen. A primeira música de que me lembrei foi de The Partisan*. A canção não é dele, mas sempre gostei de o ouvir cantar
‘Oh, the wind, the wind is blowing,
through the graves the wind is blowing,
freedom soon will come;
then we’ll come from the shadows.’
 
E depois o coro, em francês:
‘J’ai changé cent fois de nom
J’ai perdu femme et enfants
Mais j’ai tant d’amis
Et j’ai la France entière’
 
E se calhar, quase de certeza, foi por isso que quando percebi que ele tinha morrido, me lembrei imediatamente de The Partisan. Podia ter-me lembrado de outra canção qualquer que o ouvi cantar tantas vezes, como Suzanne, ou Dance me to the end of Love, ou So long Marianne… mas não, foi desta que me lembrei. La Complainte du Partisan**, uma canção de 1943, com letra de Anna Marly (e música de Emmanuel d’Astier de la Vigerie, uma homenagem aos resistentes franceses na II Guerra Mundial. Paris está cheio de placas que nos contam a história desta resistência. Hoje, em muitas delas, havia flores da Maire de Paris. Um gesto bonito, digamos, num dia em que se comemora em França (e é por isso feriado) a assinatura do Armístico que pôs fim à I Guerra Mundial. Estava Paris muito enfeitado de bandeiras, de pequenos ramos de flores junto às placas dos que tombaram combatendo ou resistindo. Estava Paris muito bonito, hoje, sob um sol encantador e um céu mais azul que a tira da bandeira.
 

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