O grupo parlamentar do PSD ficou numa exaltada indignação, que provocou a interrupção dos trabalhos parlamentares. Eles não perceberam bem o que disse o secretário de estado que discursava, mas intuíram que, naquela elegante disjunção, estava contido um insulto. Não tinham a certeza. É que o grupo parlamentar laranja, na AR e Madeira – então ali…- quando insulta, insulta a valer e toda a gente percebe. “Puta que o pariu”, “burro”, “anormal”, “filho da puta”, “dou-te um tiro nos cornos”, são mimos que, da parte dos grupos parlamentares do PSD estão registados nas Actas dos Parlamentos da República e insular. Ora, quem está habituado a produzir tão franca e assertiva linguagem, forçoso é que fique indignado com o gongorismo da elegante alternativa “o senhor deputado ou é profundamente ignorante do regime ou sofre de uma disfuncionalidade cognitiva temporária” – temporária, imaginem! Assim, justifica-se a indignação dos passistas. Na verdade, com insultos tão rebuscados, como podem eles partilhar grupal e irmãmente a sua indignação, uma vez que, obviamente, a maioria dos seus companheiros de bancada ficou com cara de “o que foi isto”, isto é, com cara de disfuncionalidade cognitiva momentânea?
Compreende-se, pois, a indignação da direita parlamentar. Portanto, a próxima vez que quiserem insultá-los, bradem, à moda antiga: “V. Exa. é uma besta! Salta uma garrafa de Colares!”. E toda a gente, em parlamentar comunhão, percebe perfeitamente.
Do parlamentar insulto
Bilhete do Canadá – O que eles dizem
ANTÓNIO BARRETO: “O mais impressionante é como tanta gente se acovarda hoje”. Grande exemplo de valentia e coerência dá esta pantera que se esconde atrás do merceeiro que, por sua vez, se esconde atrás duma fundação. Haja dinheiro e paraísos holandeses.
MOURINHO FÉLIX: “O deputado Leitão Amaro ou tem um profundo desconhecimento do RGIC (Regulamento Geral das Instituições de Crédito) ou uma disfuncionalidade cognitiva temporária”. Tanto floreado para dizer uma coisa que o país inteiro sabe: aquele deputado sustentado pelo dinheiro do povo, ou é um ignorante ou tem surtos de estupidez.
NUNO MAGALHÃES: “Se o CDS acreditasse em sondagens não estávamos aqui há muitos anos”. Não é um problema de crença, deputado que sustentamos, é uma questão de descaramento e falta de coluna vertebral. Toda a gente sabe, e os membros do CDS melhor do que ninguém, que esse partido é uma sopa de restos do salazarismo que outros partidos, por falta de coragem, aceitam como capacho quando é preciso fazer mais votos.
JOÃO AMARAL: gritou contra a “esquerda envergonhada”. Pois devia estar caladinho porque, para o país não se estatelar graças à direita desavergonhada, tem a esquerda que fazer alguns fretes.
Deram-nos cabo da saúde
Truques à parte, que isto da engenharia informativa político-partidária é já um fenómeno descontrolado, quero focar-me na parte verdadeiramente preocupante desta peça do Expresso. Na sequência da onda de terrorismo financeiro que culminou com o crash de 2008, a que se seguiu o advento da austeridade fundamentalista e contraproducente, o número de portugueses sem recursos para pagar consultas médicas triplicou. Os dados são da Comissão Europeia e confirmam o agravamento da desigualdade, num país onde a mesma não parou de crescer durante os anos do fundamentalismo além-Troika, sendo que os mais afectados, como não poderia deixar de ser, foram e continuam a ser os mais pobres. [Read more…]
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