Petits jours, trés longues rues
Com a mudança da hora, já se sabe, os dias ficaram mais pequenos. Quero dizer, continuam a ter 24 horas, naturalmente, mas anoitece bastante mais cedo. Em Paris às cinco e meia da tarde anoitece. Isso entristece-me, mesmo gostando muito do outono e do inverno não gosto nada que os dias comecem a encurtar-se. O outono em Paris é francamente bonito. As árvores que há em quase toda a parte tomam cores perfeitamente deslumbrantes. Sou capaz de ficar um longo tempo a olhar para as cores das árvores e para as folhas a cair, amarelas, castanhas, vermelhas, até formarem grandes tapetes desalinhados.
Tal como supus ontem à noite, quando me mudei do 3º andar para o 1º da Maison Suger, o meu novo estúdio, além de ter algumas coisas que não funcionam, apanha muito pouca luz do sol. De maneira que hoje, embora o despertador tenha tocado, supus que era ainda madrugada e, sendo feriado, deixei-me ficar na cama – agora grande – a preguiçar. Levantei-me passado um grande bocado e abri a janela. A Rue Suger estava calmíssima e estreita, como de costume. Olhando para cima via-se o céu azul, como uma risca larga no meio dos edifícios. Depois do pequeno almoço, enquanto fumava um cigarro debruçada no varandim, com a cabeça apoiada nos braços, olhei a janela em frente e a rapariga – que agora mesmo, há bocadinho, percebi que estava grávida – que mora nas janelas em frente, viu-me e sorriu-me. Sorri-lhe também, naturalmente. A casa em frente não tem cortinas, parece-me que se mudaram há pouco tempo. Reparei há bocadinho, enquanto fumava outro cigarro debruçada na janela, que estão a arranjar o quarto do bebé. Há um armário verde claro, de portas abertas mesmo em frente à janela e o rapaz andou um bocado de volta dele, de certeza cheio de cuidados e amor. A barriga da rapariga é bonita e está já grande.
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