Não olhem para a Lituânia, olhem para Espanha

A Iniciativa Liberal (IL) está a seguir os passos do Ciudadanos, o que é mau prenúncio para o partido. Têm sido semanas difíceis para a agremiação. Não sei se por estar muito calor, o que dificulta o pensamento lógico, ou por estarmos em plena silly season, a verdade é que estas semanas não têm sido abonatórias… e basta olhar para Espanha (ao invés da obsessão com os antigos países do bloco soviético) para aprender a lição.

Em Espanha, o partido “liberal” Ciudadanos, uma cópia mais pequena e mais radical do Partido Popular (tal como aqui a IL é uma cópia mais radical do PSD), acabou reduzido a cinzas depois de anos a fazer figura de “anti” Estado, abrindo as portas ao VOX, partido da extrema-direita e aliado do partido português proto-fascista Chega.

Depois de tanto tiro no pé, o Ciudadanos foi colocado no caixote do lixo da História. Se a IL não começar a ser mais responsável nas suas posições e deixar de tentar igualar-se à extrema-direita para caçar votos, terá os dias contados, mesmo com a panóplia de seitas no Twitter ou de ‘memes’ espalhados pelas redes sociais.

A defesa acérrima aos lucros de empresas que expropriam o consumidor português, o intransigente preconceito ideológico que os faz defender o mercado a qualquer custo, dirigentes que, dizendo-se liberais, por mais do que uma vez têm mostrado tiques homofóbicos e xenófobos ou deputados a comparar António Costa a Viktor Órbán… nada disto beneficia a IL. Porquê? Porque já há um partido a quem os eleitores portugueses confiaram este papel: ao Chega. E porque a maioria dos que, nos últimos tempos, se reviram no partido, estão longe de se reverem nestas últimas atitudes em nada “liberais”.

Ou a IL se assume responsável e começa a ter posições políticas mais sérias, ou acabarão trucidados. É que isto de tentar desviar votos da esquerda sacando da bandeira LGBT, ao mesmo tempo que se tenta desviar votos da extrema-direita sacando da xenofobia e do populismo, vai dar merda – desculpem o meu francês, mas não sei dizer isto em lituano como vocês gostariam.

4 de Maio de 2021 – A noite de horror dos Pablos

É preciso algum cuidado na análise aos resultados de ontem, em Madrid, de Isabel Ayuso. A sua vitória esmagadora não é uma vitória esmagadora do PP. Não. Nem é apenas uma derrota esmagadora de um Pablo, o Iglesias. O 4 de Maio ficará para a história da política espanhola como a noite de horror para dois Pablos. O Iglesias e o Casado. Por razões diferentes.

A cosmopolita Madrid derrubou de forma implacável um dos seus representantes. Pablo Iglesias é um produto dessa Madrid cosmopolita, moderna e jovem. Foi a partir de Madrid que Iglesias partiu rumo à conquista da esquerda espanhola. E foi em Madrid que se transformou naquilo a que hoje o apelidam muitos dos que acreditaram na banha da cobra que lhes vendeu, o “podemita”. E ser um “podemita” em Espanha é tudo menos positivo. Ser um “podemita” não é ser um militante ou apoiante do Podemos. Não. É ser alguém que traiu os seus eleitores, que traiu o ideal que, supostamente, defendia e representava. É o “podemita” que se transformou no inquilino de um luxuoso condomínio habitacional dos arredores de Madrid, que vivia no meio daqueles que tanto criticou, cujos vizinhos alimentam o voto franquista do Vox. É ser tudo aquilo que antes tanto criticou aos seus adversários.

A mesma cosmopolita Madrid que votou Ayuso mas não vota Pablo Casado. Porque lhe falta a ele o que ela tem para dar e vender: carisma e “huevos”. Isto escrito por alguém que não vai muito “à bola” com a senhora. Continuo a ter muitas dúvidas na estratégia de Ayuso na gestão da pandemia (a mesma estratégia, confesso sem qualquer hesitação, que lhe permitiu construir este resultado histórico). Aliás, ao dia de hoje, Madrid continua a ser um barril de pólvora quanto ao número de infectados e ao número de doentes nas UCI. Porém, mal ou bem (o futuro o dirá), Ayuso fez algo que em política é essencial mas que se tornou raro: escolheu um caminho e foi por ali fora sem pestanejar. Escolheu manter Madrid minimamente aberta, decidiu colocar-se ao lado dos comerciantes da sua região e dizer que não se pode combater uma pandemia matando com a cura. Enquanto que nas restantes regiões de Espanha o comércio estava fechado e as regras de recolher obrigatório eram (ainda são) duras, em Madrid eram flexíveis. Se nas Baleares fechava tudo (ou quase) às 17h, em Madrid fechava às 23h (ou mais). São opções. Que só o futuro dirá qual a mais correcta.

[Read more…]

Catalunha – Madrid impõe a ditadura

O PP, o PSOE e o Cuidadanos acordam para fazer aplicar o art.º 155 da Constituição de Espanha, prevendo-se a ocupação policial e militar para a destituição do governo democraticamente eleito da Catalunha, impondo a ditadura com ocupação policial e militar!
No século XXI, nas Democracias ocidentais, deveria ser impensável invocar o primado da lei e do Estado Democrático quando a lei, mesmo a constitucional, viola um dos mais basilares Direitos Fundamentais, inscrito tanto na Convenção Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais, como Convenção Internacional sobre Direitos Cívicos e Políticos, o Direito à Auto-determinação!

rajoy

O Direito à Auto-determinação pressupõe a autonomia, abrangendo auto-responsabilidade, auto-regulação e livre-arbítrio de um ser humano ou colectividade, opondo à heteronomia definida por Kant -sujeição do indivíduo à vontade de terceiros ou de uma coletividade.
Neste caso da Catalunha, [Read more…]

O verdadeiro problema está nas lideranças dos partidos políticos.

sá-Carneiro
Nestes últimos dias reli uma biografia de Francisco Sá Carneiro e alguns dos seus discursos.

Eu que acredito muito pouco nos principais actuais dirigentes do PSD questionei-me como foi possível uma deriva tão grande nos princípios, nos valores, nas causas, na ética e na coragem política que eram a força do PPD-PSD.

Francisco Sá Carneiro era mesmo um homem e um político único. Os seus discursos, o seu carisma, o seu olhar e a sua força transmitiam convicção, verdade, coerência e um verdadeiro e enorme sentido de estado.

Apenas, por isso, conseguiu fundar, com sucesso, um partido genuinamente português, fora da lógicas doutrinárias europeias puras da democracia-cristã, do socialismo ou do comunismo.

É pura evidência que estamos perante um problema grave de falta de lideranças, de homens e mulheres, que consigam voltar a mobilizar os portugueses para um grande e verdadeiro desígnio para o nosso país.

[Read more…]

Ciudadanos e Podemos ” à porta ” do governo espanhol

espanha

A sondagem do ” El Pais “, publicada hoje, relativa às eleições gerais espanholas marcadas para 20 de Dezembro é muito interessante comparada com os resultados das últimas eleições legislativas em Espanha.

Esta sondagem dá uma perda de mais de 80 deputados para o PP do actual presidente do governo, Mariano Rajoy. O PSOE, de Pedro Sánchez, também aparece em perda, mas mais moderada, com menos 10 a 15 deputados.

Mas a grande surpresa são os dois novos partidos, os Ciudadanos, de Albert Rivera, que poderá chegar quase aos 90 deputados e o Podemos, de Pablo Iglesias, que poderá ter mais de 45 deputados. A mesma sondagem diz-nos que o conjunto dos outros partidos de esquerda poderão alcançar 40 deputados.

[Read more…]

First they took Barcelona, then they almost took Madrid

15M

Foto: P3/Público

Em Espanha, mesmo aqui ao lado, acontecem coisas. Visto com determinado tipo de óculos, poderá parecer uma loucura utópica, um oportunismo ou mesmo uma qualquer experiência conspirativa bolivariana. Na realidade são pessoas normais. Os primeiros a abrir brechas no antigo regime. Em Barcelona, o bloco central espanhol ficou-se por um modesto terço. Em Madrid, foi fraco e à tangente. E agora Espanha?

Pau para toda a obra

Estamos dispostos a estabelecer acordos com o PP, o PSOE e até com o Podemos.” – Albert Rivera, líder do Ciudadanos (El País)