Mais emblemática e conhecida, a demolição de todo um bairro, incluindo diversos colégios universitários, para construir uma obra prima do mamarrachismo chamada universidade do Estado Novo, não é filha única de uma cidade cuja história se caracteriza por isso mesmo: demolir.
Tivemos uns séculos de presença árabe: não sobra um calhau. O espaço mais simbólico da fundação de Portugal, o Mosteiro de Santa Cruz, levou no século XVI com um camartelo que destruiu, por exemplo, o espaço onde o primeiro rei se quis sepultar. Outra torre, já no século XX, foi derrubada antes que caísse em cima de um passante.
Do castelo procuram-se vestígios entre o casario que levou em cima. Igrejas arrasadas, ou transformadas em mau gosto revivalista como S. Tiago, são ao pontapé.
A cidade que nasceu de uma ponte sobre o Mondego, e recebeu nome de um bispo foragido, é agora, em parte, património mundial, diz a Unesco. O nosso melhor edifício universitário, o Colégio da Sapiência, de S. Agostinho ou dos Órfãos não conta, o maneirismo deve ficar mal nas fotografias.*
A parte chama-se Universidade de Coimbra. Às vezes gosto de imaginar como seria um sossego a minha aldeia, sem a dita ter vindo para aqui de vez num dia em que João II se vingou sabe-se lá de quê.
Mas nada iguala o Mondego, rio da minha aldeia, muito menos o Tejo, nem a aldeia chamada Coimbra. É a minha aldeia, e a partir de agora património mundial, vai dar-lhes mais trabalho dar cabo dela. E sim, estou contente, parabéns a todos os que se esforçaram por isso, e vou fingir que não me lembro de todo o seu património destruído.
* Afinal dizem-me que está, embora não conste de um folheto distribuído à população.
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