Mortes que vêm sem dizer, mortes de vidas por viver.
O mundo a viver acima das suas possibilidades
Ora leiam este mapa, e mandem entroikar os que repetem a lengalenga sobre Portugal.
O mundo em que Vasco Pulido Valente entrou
Vasco Pulido Valente, todos o conhecem, não fala de si próprio. Mas agora que completou 71 anos (quarta-feira) deu-lhe para, com alguma “perversidade”, pensar no mundo em que entrou.
Gosto desta expressão “o mundo em que entrei“. Ora Pulido Valente nasceu a 21 de Novembro de 1941, quando “Hitler ocupava a Áustria, a Eslováquia, a República Checa, a Polónia, a Dinamarca, a Noruega (…)” e Portugal «neutro», numa neutralidade “arriscada e mais do que duvidosa”.
Gosto desta frase também: “O mundo não servia para se começar a vida“.
Ainda as suas palavras, para terminar a crónica dos «71 anos»: “É triste, ao fim de tanto tempo, chegar ao desespero a que nós chegámos. Mas, depois de 71 anos, talvez seja melhor do que nascer com a sombra de Hitler a 60 quilómetros de Moscovo. Portugal precisa de sair do seu isolamento e da sua complacência. E, agora, por uma vez, não tem outro remédio.” [Read more…]
Um piloto do mundo?
Miguel Gaspar, jornalista do Público, cujas crónicas, aliás, são muito do meu agrado, escreveu ontem:
Há a sensação de que ninguém está a pilotar o mundo em plena crise financeira global.
Não me agrada nada a ideia de haver alguém a «pilotar o mundo»… Nem China, nem EUA, nem outros.
Não confiamos nos nossos «pilotos»… quanto mais confiar num piloto do mundo!
Parece que não temos outro remédio.
Mas talvez a crise venha mostrar que não é possível ter «alguém» a pilotar o mundo, mas que «cada um» de nós, cada país, terá que depender e exigir mais de si que dos outros.
Ao soar das horas mortas
(Adão Cruz)
Ao soar das horas mortas neste outro modo de ser hoje
recolho as asas à saída do corpo asas de voo natural sublime
acima das coisas
Para lá do nevoeiro sei que moram os dias claros e as
nirvânicas noites e apetece‑me gritar menino‑pastor da
noite menino‑pastor da noite
Vestido de tempo sem espaço e de espaço sem tempo tento
fundir a neve com o calor da minha nudez mas o cansaço
e a ideia do lado de fora de uma teia sem olhos são fios que
tecem mais tarde ou mais cedo o gélido mundo das sombras
A respiração acabou e o poema nasceu fechado cianótico
asfixiado
No imediato corpo tão longe e tão perto um frio azul
anidrido carbónico encharca as palavras secas
Velha semente sem terra nova terra sem semente um tal
dizer feito de gestos e o prazer de supor que a água ainda
corre nas entrelinhas da secura
o meu poema azul

(adão cruz)
Não sei fazer uma rosa nem me interessa
não sei descer à cidade cantando
nem é grande a pena minha.
Não sei comer do prato dos outros nem quero
não sei parar o fluir dos dias e das noites
nem isso me apoquenta
não sei recriar o brilho do poema azul…
…e isso dá-me vontade de morrer.
Procuro para além das sílabas e dos versos
a voz poderosa mais vizinha do silêncio
o meu poema azul…
o suspiro de Outono onde a brisa se aninha
no breve silêncio do perfume do alecrim.
Lugar das palavras e dos versos
no caminho do teu rosto junto ao rio dos teus olhos
onde a vida se faz poema
e o mar se deita nos lençóis de luz do fim do dia.
Procuro para lá das sílabas e dos versos
encontrar meu barco à entrada do mar
onde repousa teu corpo entre algas e maresia
meu amor perdido num campo de violetas.
O meu poema é tudo isto
que me vive que me ilude que me prende
ao lugar azul que procuro dia e noite
por entre os versos do meu ser.
O poema mais lindo da minha vida ainda não nasceu
não tem asas nem olhos nem sentimento
que o traga um dia o vento se vento houver
que a saudade o encontre onde ele estiver.
Dizem que no cimo dos pinheiros ainda é primavera
mas tão alto não chego.
Mais à mão
molho a minha camisa primaveril
no regato cristalino
que vai correndo por entre os dedos
num solo de violino.
Vestido de tempo sem espaço e de espaço sem tempo
tento fundir a neve com o calor da nudez
em versos que tecem mais tarde ou mais cedo
o mundo das sombras.
Não sei colher uma rosa
nem sei descer à cidade cantando
sou apenas aquele que ontem dormia
sobre um poema azul
e das asas da ilusão se desprendia.
Sou aquele que ontem se despia
nos braços do poema que vivia.
Sou aquele que ontem habitava
em silêncio
o poema que acontecia.
Sou aquele que ontem sonhou…
em vão…
com o poema azul de mais um dia.
ainda melhor do que o melhor cabrito do mundo

(Foto adão cruz)
Há umas semanas atrás eu coloquei um texto aqui no Aventar, intitulado “O melhor cabrito do mundo”, confeccionado na “Casa no Campo”, em Espinheiro, Moldes, Arouca.
O meu amigo Engº Adelino Silva Matos, meu paciente e meu grande amigo há mais de trinta anos, enviou-me um mail dizendo: – meu caro amigo, o sr. não sabe o que é cabrito -. Tem de vir a minha casa comê-lo, confeccionado por minha irmã Flora Matos. Marque o dia e traga quem quiser.
Oh! Se eu fosse a levar quem quisesse! Vão comigo a minha irmã e meu cunhado, os meus companheiros de navegação em águas boas e más. [Read more…]
A escrita

(adão cruz)
(Texto de Marcos Cruz)
A escrita
Uns dias bem, outros mal. Quão mentiroso é o horizonte! Quão aliciante e persuasivo se nos mostra naqueles dias, quão angustiante e negro se nos revela nestes. A paz é das montanhas e dos vales, dos medos e dos amores, ela habita toda a forma. Para ser minha também, falta que eu com ela aprenda essa adaptabilidade, essa renúncia infinita. Sentir, eis a questão. Sentir tudo. Abrir o peito às flores e às balas, deixar que o destino penetre a carne e a queime de toda a sensação, permitir que o corpo seja o altar onde a dor e o prazer juram e geram amor eterno. Fazer a parte que me compete, usar bem o meu testemunho, abrir caminho para quem vem depois. Viver no paradoxo como se fosse chão firme, que o é, afinal. [Read more…]
As Putas

(adao cruz)
(Texto de Marcos Cruz)
(Não deixem de ler. Eu próprio fiquei impressionado)
AS PUTAS
O MUNDO É UMA BOLA DE BERLIM
O mundo é uma bola colorida entre as mãos de uma criança? Ou será, antes, um berlinde caído numa cova? E porque não uma absurda bola de Berlim?
A seringa que matou Michael Jackson vai ser leiloada no dia do primeiro aniversário da sua morte. Avaliadores estimam que possa atingir os três milhões de euros. Não se sabe quem está mais maluco, se os ditos avaliadores, se o putativo comprador. Falta esclarecer se a agulha vem incluída.
Uma inglesa de 16 anos anos foi despedida através do Facebook. Por aqui se prova que o Facebook não serve só para fazer amigos. Deviam criar também a secção inimigos; “Francisco deseja ser teu inimigo no Facebook”. Como os inimigos não se escolhem, a aceitação seria obrigatória.
Já um político búlgaro foi despedido por causa do Facebook. O desgraçado foi apanhado a tirar leite de uma vaca virtual no Farmville. Se o leite virtual pudesse ser exportado deveríamos aconselhar os políticos portugueses a seguirem-lhe o exemplo. Não podendo, chamamos a atenção de José Lello. Brincadeirinhas bucólicas nos computadores do Parlamento podem azedar.
Precisa de relaxar? Vá a um Spa e deixe que uma piton lhe faça uma massagem nas costas. Mas atenção, escolha uma cobra que se destaque pela sua seriedade e profissionalismo. Até no que respeita a répteis os indicadores portugueses são maus, mas resolve-se com Novas Oportunidades e formação contínua. Afinal, sempre soubemos que a política pode ser muito reptilínia…
Passado o inverno e com a primavera a aquecer Pedro Passos Coelho vai formar um governo sombra. A indústria do Turismo ainda não reagiu. Mas vai ressentir-se.
Quer comprar uma mãe bem treinada? Kieran McGowan vende a dele no eBay. O negócio tem um pequeno problema, no entanto; não se aceitam devoluções. Comprou? Não reclame, habitue-se.
“O amor vence sempre a inveja e o ódio“, escreve Berlusconi em livro acabado de lançar. Berlusconi ama-nos. É bom saber, podemos dormir descansados.
O mundo é uma bola de berlim. Gosta mais com creme ou sem creme?
O Guerra
Tinha o Zé oito anos, quando na escola em que estudava chegou um colega que se chamava Guerra, que era bem mais crescido de corpo do que qualquer um dos demais colegas. Mas por razões que a ignorância de então jamais apurou, era um miúdo mentalmente frágil, atrofiado pelo medo, inseguro e submisso.
Naquelas idades as crianças revelam uma particular maldade. Razão pela qual o Guerra logo se transformou no “bombo da festa” da rapaziada da turma.
Todos mandavam nele. Todos lhe batiam. Todos. Incluindo o Zé, que arrastado por aquela corrente de maldade e crueza, sentia gáudio em exibir autoridade e domínio sobre aquele gigante submisso.
Um dia, o Guerra encontrou o Zé sozinho no recreio e pediu-lhe um lápis porque lhe haviam roubado o dele. Abordou-o medrosamente e disse-lhe:
– “Emprestas-me um lápis? Mas não me batas!…”
O Zé ficou a olhar para aquele gigante de contradições. Tinha o nome Guerra, era mais crescido do que ele e pedia-lhe que não lhe batesse. Naquele momento as lágrimas vieram-lhe aos olhos. Como sempre acontece, quando relembra esta história.
Lágrimas de arrependimento, de remorsos por todo o mal que sofreu aquele frágil gigante e em que ele foi cúmplice. Quando lhe deu o lápis sentiu que esse seu acto tinha sido o único gesto humano que tivera para com ele, ao fim de meses de escola.
O Guerra afastou-se numa humildade servil que o expunha a toda a violência. E o Zé não foi capaz de o acompanhar de regresso à sala de aulas onde o Guerra se refugiava durante os intervalos, pois sentiu que preferia estar sozinho do que acompanhado por uma ameaça.
Naquele dia sentiu-se o pior e o mais cobarde de todos os miúdos. Ganhou consciência de todo o mal que lhe havia feito, da crueldade de que era capaz. Naquele dia o Guerra atormentou-o por todos os males que lhe havia feito.
No dia seguinte, o Zé estava decidido a falar com ele, a pedir-lhe desculpa, muito embora o castigo estivesse sempre dentro de si.
Tarde demais: os pais do Guerra mudaram-no da escola para uma outra onde teria melhor acompanhamento. Ninguém na turma percebeu ao certo o que era isso. Dizia-se que tinha ido para uma escola de malucos. Mas o Zé sabia que malucos eram todos os que violentaram a sua inocência e a sua fragilidade.
Nunca mais o Zé viu o Guerra ou dele teve notícias. O rosto do Guerra, as suas expressões, ainda hoje as revê com a mesma nitidez da dos tempos de escola. Não sabe se superou as suas fragilidades, se fez amigos ou se continua um gigante submisso. Sabe que consciente ou inconscientemente o seu rosto se espelha na sua memória sempre que vê uma qualquer humilhação ou injustiça. O Guerra é para o Zé a definição de humilhação e de injustiça. E uma razão para desejar um mundo mais humano.
Um mundo que o Guerra não teve.
Poemas do ser e não ser

(adão cruz)
Já poeta não sou
já não sou quem era
não sinto as noites de prata
nem mexe comigo a ventania
que varre as faldas da serra
não me doem as videiras
espetadas no céu
nem os castelos de fantasia
caídos por terra.
Cada erva
cada semente
é resto de uma canção
que já não sei cantar.
Fugiu do peito o coração
foi-se embora o luar
e o rio que eu era
nem sequer chegou ao mar.
Sou pirilampo das sombras
voando pelos regatos secos
não sei se vou longe se vou perto
se ao cimo se ao fundo
não sei se giro por dentro
ou por fora do mundo.
Sócrates e o seu mundo de fantasia
Acabo de ouvir o Primeiro Ministro e só o facto de já estar habituado é que me leva a ouvi-lo até ao fim. Somos o país que "mais cresce" no PIB, perdão, temos o maior, perdão, somos os que temos um menor crescimento negativo da UE!
O Desemprego cresce todos os dias, já ultrapassou a barreira mítica dos 10%, o déficite é de 8.4%, contra os 5% do governo, o orçamento rectificativo, perdão, distribuitivo, a não ser aprovado inviabiliza pagamentos já este mês.
Se as fábricas fecham todos os dias como é que o PIB é o que melhor se comporta ? Hoje é ponto assente pelas instituições europeias que Portugal vai empobrecer nos próximos oito anos, vai divergir da média europeia, ficar mais pobre em comparação com os restantes países da UE, como é que José Sócrates se convence que a propaganda passa?
A Segurança Social foi "corrigida" à custa de um corte de 40% nas pensões futuras, as receitas do Estado caíram cerca de 15%, o que mostra que a economia abrandou e já não há recuperações possíveis, só o aumento de impostos aumentaria as receitas, cortar despesas não se vê por onde, a dívida é colossal, este homem vive aonde?
Quando Sócrates sair do poder vamos ter muitas revelações. Na Economia, na Banca, na Comunicação Social, na Justiça …
A síndroma " vale e azevedo" vai passar por aqui…
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