Hotéis com menos ocupação, restaurantes com menos clientes e lojas com menos vendas. Lisboa perdeu dinheiro com as JMJ. E não estou a falar do investimento da autarquia. Estou a falar nos jovens que vieram a Lisboa, que dormiram em casas emprestadas e parques de campismo, que comeram no Continente e no Pingo Doce e que não consumiram no restante comércio da cidade. O retorno prometido, conforme antecipado, começa a revelar-se um embuste. Já podemos falar com seriedade sobre isto ou ainda é pecado?
A teoria do eterno retorno e o mexilhão
Em Portugal, não há propriamente organização de grandes eventos, há grandes eventos sem organização. A norma é a derrapagem orçamental ou a feitura em cima do joelho, duas acções tantas vezes relacionadas, especialmente quando os dinheiros públicos estão envolvidos.
Os dinheiros públicos têm, para quem os gere, a grande vantagem de saírem da carteira de muita gente. As dívidas podem ser contraídas hoje e pagas pela gerência seguinte, que, como é costume, irá queixar-se da gerência cessante. Apesar de ser tudo feito em cima do joelho, nunca é o joelho que sofre, é o mexilhão, o molusco que paga sempre as dívidas que não contraiu e cujo salário mal dá para mexilhão.
Sempre que se (des)organiza um grande evento, no entanto, os que criam dívidas em nome do mexilhão garantem sempre que o dito evento, depois das derrapagens e da instabilidade do joelho, irá trazer retorno.
Ele é o retorno em noites de hotelaria, em litros de cerveja, em reservas de mesas, em taxas, em criação de empregos. No papel, as fortunas que se gastam nos grandes eventos são sempre ínfimas quando comparadas com os lucros que virão, o tal retorno, o milagre da multiplicação das notas que foram muitas e regressarão acompanhadas por muitas outras. [Read more…]
Quando a esmola é grande, o trabalhador desconfia

Imagem retirada de: distribuicaohoje.com
No última dia sete deste mês, a MC, empresa que agrega o grupo Sonae, dona do Continente, Meu Super ou Go Natural, comunicou a intenção de atribuir mais 500€ ao salário de 36 mil trabalhadores, num investimento a rondar os 15 milhões de euros. Aquilo que parecia ser um apoio extraordinário para mitigar os efeitos da inflação na carteira dos trabalhadores, afinal não o é.
Em declarações ao site NiT no passado dia 9 de Dezembro, fonte da empresa MC afirmou que este apoio suplementar, no princípio apresentado como uma ajuda para “mitigar os impactos sentidos no custo de vida, proporcionando um Natal melhor para todos”, vai chegar aos trabalhadores do grupo Sonae… através de um cartão criado especialmente para o efeito e que obrigará os trabalhadores a… gastarem o apoio de 500€ no Continente (Continente, Continente Modelo e Continente Bom Dia, Continente Online, Bagga e supermercados Go Natural).
Significa, portanto, que o apoio suplementar não é um apoio… é um empréstimo. Os mais de 15 milhões investidos pela Sonae nesta medida vão retornar… à Sonae. Tirem o cavalo deste temporal os trabalhadores que achavam que iriam poder pagar a conta da luz, da água ou explicações escolares aos filhos, por exemplo.
Lembram-se daquela ideia mirabolante, que nem um José Está Lindo Pino Ché pós-moderno teria, do líder da extrema-direita portuguesa, André Ventura, aquando da atribuição de 125€ por parte do Estado? Essa do “nada de gastar em putas e vinho verde”? É basicamente o mesmo que a Sonae está a impor aos seus trabalhadores… só que estes, não podendo gastar em putas, podem sempre comprar vinho verde… se for no Continente.
Quando a esmola é grande, o trabalhador deve sempre desconfiar. E quem dá e volta a tirar…
Escritores do Chile – Volodia Telteibom
José Donoso: Volodia Teitelbom (17 de Março de1916 - 31 de Janeiro de 2008)
Há um escritor chileno, Jorge Marchant Lazcano, que teve a coragem de dizer: tengo poca opinión – o casi ninguna – sobre la actual literatura chilena, porque al pasar tanto tiempo fuera de Chile, en estos últimos años, he reducido mis lecturas nacionales. De cualquier forma, y aunque parezca una majadería, sigo creyendo que lo mejor de nuestras letras en el siglo XX ha sido José Donoso. Ningún otro escritor chileno supo captar la chilenidad desde tantos puntos de vista y convertir aquello en una profunda y dolorosa materia humana.
Escritor, dramaturgo e periodista chileno (9 de Março de 1950), a sua obra, vasta e articulada, virada mais para a política da direita chilena, mudou de rumo ao começar os seus estudos de jornalismo na Universidade do Chile em 1969. Filho de Jorge Marchant Montalva e María Ester Lazcano Cuevas, teve uma educação religiosa, conservadora e bastante formal, da qual se desligou, parcialmente, aquando do ingressar na faculdade. [Read more…]
Pedro Passos Coelho: assim, não é solução
A eleição de Pedro Passos Coelho criou um compreensível furor, dadas as suas circunstâncias. Um natural furor que, porém, não me contagia. Não tanto pelas nossas diferenças ideológicas, mas sim pela constatação de que a mudança que a sua eleição representa – que em termos partidários é, sem dúvida, digna de registo – não foge, na essência, à mesma mecânica de pensamento que faz com que Portugal, tal como outros países, esteja como está.
Por diversas vezes já vi, e vejo, Pedro Passos Coelho a defender – e bem – que quem recebe apoios do Estado, aqueles que usufruem de ajudas sociais devem, na medida das suas possibilidades e aptidões, retribuir à sociedade com trabalho.
Lamento – e aqui está o cerne da manutenção da mesma lógica que há muito vem minando a nossa República, como aliás já escrevi, no mínimo desde 1919 – que tal ideia de retribuição não seja defendida por Pedro Passos Coelho quanto às instituições financeiras. As mesmas que receberam o aval do Estado, ou seja de todos nós, para ir buscar dinheiro lá fora, e que agora estrangulam o financiamento às nossas empresas e, assim, a nossa economia. Porque há muito que se sabe que os lucros da banca, estão na directa proporcionalidade com o descalabro do endividamento privado e as fragilidades da economia nacional.
Acrescendo, que a banca paga menos impostos do que a esmagadora maioria das nossas empresas.
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