Hotéis com menos ocupação, restaurantes com menos clientes e lojas com menos vendas. Lisboa perdeu dinheiro com as JMJ. E não estou a falar do investimento da autarquia. Estou a falar nos jovens que vieram a Lisboa, que dormiram em casas emprestadas e parques de campismo, que comeram no Continente e no Pingo Doce e que não consumiram no restante comércio da cidade. O retorno prometido, conforme antecipado, começa a revelar-se um embuste. Já podemos falar com seriedade sobre isto ou ainda é pecado?
Antes de serem católicos, são humanos
Fui lendo e ouvindo, aqui e ali, que estes milhares de jovens que vieram ao nosso país para as Jornadas Mundiais da Juventude não são como os outros. Não são como os índios dos festivais de Verão, não são como as hordas de ingleses no Algarve, não são como os hooligans do futebol.
É claro que (também) são.
São muitos, são feitos da mesma matéria que os demais, e, entre tantos milhares, haverá uma larga maioria que por cá passará de forma civilizada. E uma minoria de arruaceiros, como as há nos festivais de Verão, no turismo de massas e nos estádios de futebol. Profissionais ou ocasionais. Antes de serem católicos, são humanos. [Read more…]
Isaltino Morais e a censura do bem
A Câmara Municipal de Oeiras, liderada por esse cidadão e político icónico e exemplar que é Isaltino Morais, decidiu censurar este cartaz, violando, assim, a liberdade de expressão de um grupo de cidadãos que se decidiu manifestar desta forma. Com a total legitimidade que o Estado de Direito lhes garante.
Estranhamente, nada ouvi ou li ainda sobre socialismo, Venezuelas ou estalinismos, o que não me pareceu estranho. Isaltino cometeu crimes, pagou por eles na prisão e agora está, como sabemos, reabilitado. Um cidadão exemplar, renascido e reeleito. De maneira que, em princípio, foi censura do bem.
Este acto de censura, contudo, foi uma das coisas mais palermas que vi desde o início das Jornadas Mundiais da Juventude. Porque ao invés de abafar a iniciativa, deu-lhe ainda mais visibilidade, garantindo-lhe a cobertura mediática que não tinha. Uma proeza, considerando que o jornalismo monotemático atingiu, por estes dias, o zénite.
E o que sucede?
Sucede que, terminado o chinfrim, e dado o destaque mediático a um caso que só o era no Twitter, em parte da bolha de Lisboa e pouco mais, a CM de Oeiras restituiu o cartaz. O milagre da reposição da liberdade de expressão. Jesus no comando é isto.
Jesus é fixe
Absolutamente nada me move contra a realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal. E digo em Portugal porque o evento pode ser em Lisboa, e de facto é tudo lá, mas boa parte dos concelhos portugueses estiveram a abarrotar de jovens em festa nos últimos dias. O meu, a Trofa, foi um deles. Mas sim, já sabemos que centralismo e tal. Portugal não deixou de ser Portugal por ter cá as JMJ.
Em todo o caso, se é para fazer a festa, sou a favor. E os jovens católicos tem tanto direito de a fazer como os neohipsters do Primavera Sound ou os nómadas digitais da WebSummit.
Chateia-me a parte do investimento público.
Não por existir, mas por ser megalómano e pelas várias camadas de ajustes directos travessos, de São Bento à mais pequena das autarquias. De forma bastante descontrolada e opaca, alertou a Transparência e Integridade, mas que se lixe, porque sempre foi assim e não vai ser agora que vai mudar. Resignemo-nos, como sempre fazemos, que os brandos costumes não se vão perpetuar no tempo sozinhos.
Dizem que o certame traz retorno. E talvez traga. Mas é possível que esse retorno só chegue às mãos de dúzia e meia de suspeitos do costume. A enchente será fora de série, disso não há dúvidas, mas pelos vistos nem a hotelaria de Lisboa está com ocupação máxima. A ver vamos. Fingers crossed.
Mesmo assim, chateia-me também esta irritação desproporcionada com os jovens católicos, que têm andado por aí a fazer a sua festa. Porquê? Fizeram mal a alguém? Andaram a partir tudo em algum lado, tipo putos ingleses em Albufeira? Assaltaram pessoas? Puseram-se ao estouro no meio da rua com outros transeuntes?
Não?
Então deixem-nos celebrar a cena deles em paz e sossego, e se quereis pedir contas a alguém, talvez faça mais sentido pedir aos tipos que adiaram os trabalhos, gastaram mal gasto e usaram o evento para fazer as mesmas maroscas que já fazem durante o resto do ano. Jesus era um tipo fixe, até partiu as bancas aos vendilhões do templo e tudo. E estes miúdos não são responsáveis por escândalos de pedofilia. Já os méritos da má despesa pública, esses, vão todos para a mesma malta que nos deu a Expo98 e o Euro 2004.
A teoria do eterno retorno e o mexilhão
Em Portugal, não há propriamente organização de grandes eventos, há grandes eventos sem organização. A norma é a derrapagem orçamental ou a feitura em cima do joelho, duas acções tantas vezes relacionadas, especialmente quando os dinheiros públicos estão envolvidos.
Os dinheiros públicos têm, para quem os gere, a grande vantagem de saírem da carteira de muita gente. As dívidas podem ser contraídas hoje e pagas pela gerência seguinte, que, como é costume, irá queixar-se da gerência cessante. Apesar de ser tudo feito em cima do joelho, nunca é o joelho que sofre, é o mexilhão, o molusco que paga sempre as dívidas que não contraiu e cujo salário mal dá para mexilhão.
Sempre que se (des)organiza um grande evento, no entanto, os que criam dívidas em nome do mexilhão garantem sempre que o dito evento, depois das derrapagens e da instabilidade do joelho, irá trazer retorno.
Ele é o retorno em noites de hotelaria, em litros de cerveja, em reservas de mesas, em taxas, em criação de empregos. No papel, as fortunas que se gastam nos grandes eventos são sempre ínfimas quando comparadas com os lucros que virão, o tal retorno, o milagre da multiplicação das notas que foram muitas e regressarão acompanhadas por muitas outras. [Read more…]
Será que André Ventura os tem no sítio?
André Ventura não gosta do Papa Francisco. É natural. Francisco tem alertado para a ameaça que representam a instigação do ódio e a instrumentalização da fé católica para fins políticos, duas das especialidades de um político que por várias vezes se assumiu como enviado ou escolhido por Deus.
A táctica de autopromoção de Ventura, contudo, obriga-o a não hostilizar o Papa, como de resto não hostiliza padres pedófilos. No entanto, atendendo a que o Papa Francisco afirmou, há dias, que a guerra da Ucrânia está a ser alimentada pelos interesses de vários impérios, e não apenas pelo interesse do império russo, o mínimo que Ventura e os funcionários da sua unipessoal podem fazer, depois da vergonha a que ontem submeteram a Assembleia da República, é convocar nova manifestação para as Jornadas Mundiais da Juventude, acusar Francisco de servir Putin, insultá-lo e insultar todos os que o seguem. Seria giro de ver, se André Ventura os tivesse no sítio.
Fun fact: não tem.
Papa da Silva

Excerto retirado de uma notícia da TVI.
Lula da Silva veio a Portugal e foi bombardeado com perguntas acerca da sua posição em relação à guerra na Ucrânia.
Uma posição que é mais difícil de explicar e defender (e também de entender), porque pressupõe uma real tentativa de alcançar a paz (que em qualquer guerra é sempre o mais difícil de alcançar), ao invés de, à boa maneira da avestruz, enfiar a cabeça na areia e papaguear simplesmente que “a Ucrânia tem direito a defender-se” (e é claro que tem e nunca ninguém disse o contrário), como se a postura belicosa e o prolongamento ad aeternum da guerra fossem, de forma mágica, resolver o problema. E gritar aos sete ventos que “a guerra só acabará quando a Ucrânia sair vencedora” é – para além de um grito cínico – pura romantização da guerra.
Enquanto isso, a guerra continua e estará para durar, a Ucrânia vai ficando cada vez mais depenada, as sanções à Rússia não estão a fazer surtir o efeito pretendido, a dívida externa da Ucrânia aumenta, os Estados Unidos e a Rússia esfregam as mãos e já se preparam novas formas de pôr os imperialismos todos a medir pilas (olá, China!). Enquanto isso, a guerra não acaba.
Por isso, senhores jornalistas e comentadeiros do chavascal, comecem já a preparar os microfones, pois vem aí o Papa que, ao que parece, tem uma posição semelhante à do presidente do Brasil, esse sacana pró-Putin que propõe que, em vez de se andar a apontar armas enquanto alguém lucra com a venda das mesmas, se sentem todos a uma mesa e haja uma saída limpa para as duas partes (e, depois disso, sim, poderemos começar a discutir de que forma a Federação Russa do abominável neo-fascista de cera poderá vir a pagar as reparações que são devidas à Ucrânia do fantoche de oligarcas sequestrado – desde a sua eleição – pelas forças neo-nazis que “protegem” o país).
Ps. Parece que o totó com óculos que é presidente da Câmara Municipal de Lisboa foi visitar o Papa… olhem, foi uma oportunidade perdida para lhe [ao Papa da Silva] fazerem as tais perguntas!
As jornadas do contentamento do sistema
Hoje, graças ao João Mendes, tropecei naquele que é, até agora, o melhor artigo sobre as jornadas da juventude. Está no Página Um e é do Eng. Tiago Franco:
Clicando na citação acedem ao artigo. Só duas notas: infelizmente não nos vai custar 40 milhões mas muito mais e não são 100 mil jovens. Igualmente, muito mais. O que ainda agrava as conclusões….
Bons tempos…
… aqueles em que Nossa Senhora apareceu numa azinheira. Primeiro a 3 pastorinhos e depois perante uma pequena multidão.
Houve lugar a efeitos especiais desde clarões, mar de fogo, demónios, anjo com uma espada a jorrar fogo, trovões, relâmpagos, fenómenos atmosféricos, etc.
Nesse tempo, Nossa Senhora até terá recusado curar um paralítico ou tirá-lo da pobreza. Antes terá dito para que rezasse o terço e que lhe daria meios de subsistência. Numa lógica “Não o cures. Ensina-lhe a ganhar a vida”.
Certo foi que o Estado português não gastou um tostão. A produção foi toda de borla!
Foi tudo feito com recurso à natureza e, claro está, a um ou outro poder divino para dar aquele sainete de coisa fenomenal para converter os mais incréus.
Hoje, gastam-se milhões só num palco, para receber o Papa e as Jornadas Mundiais da Juventude. Especulam-se preços. Descoordena-se a coordenação. E temos Carlos Moedas a clamar “Eu quero o Papa!”, quando se fala acerca de gastos financeiros.
Imaginem se era a vinda de Nossa Senhora!
Ui! Ia ser bonito…
Este materialismo selvagem de hoje, está tipo a desvirtuar completamente a cena da fé.
Obscenidades abençoadas por um Deus que não vem na Bíblia
O caso do momento vai muito para lá do despesismo e das jogadas políticas que envolve. Para lá das decisões do governo, da cumplicidade do presidente da República, dos ajustes directos da CM Lisboa e da inevitável Mota-Engil. Para lá da obscenidade do valor envolvido.
Este é, sobretudo, um caso que põe a nu a hipocrisia de uma instituição privilegiada, que não paga os impostos devidos, se é que paga alguns, apesar da sua incalculável fortuna e vasto património, e da meia-verdade que é a laicidade de um Estado que mantém um acordo como a Concordata.
A Igreja Católica, por tudo o que apregoa, deveria ser a primeira a ficar escandalizada com os cinco milhões investidos num palco, numa altura em que a pobreza atinge níveis assustadores. Católico que preze a sua fé e os princípios bíblicos que a norteiam deveria ser ferozmente contra este gasto. Quantas bocas famintas se poderiam alimentar com cinco milhões de euros? [Read more…]
Jornadas Mundiais da Juventude: a mentira que urge desmascarar
É preciso desmontar uma mentira que, por ser repetida muitas vezes, corre o risco de passar a ser verdade: o evento acontecerá de qualquer forma. Com ou sem investimento exorbitante. Com palco de 5 milhões ou contentores.
Nas edições anteriores (Panamá, Rio de Janeiro, Madrid) das Jornadas Mundiais da Juventude não houve comparação possível com o nível de ostentação que se planeia para Portugal. E o evento aconteceu na mesma.
Mas há quem agite o papão do retorno económico. Outra aldrabice, de um longo rol de aldrabices, que impõe um conjunto de perguntas: [Read more…]
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