A eleição de Pedro Passos Coelho criou um compreensível furor, dadas as suas circunstâncias. Um natural furor que, porém, não me contagia. Não tanto pelas nossas diferenças ideológicas, mas sim pela constatação de que a mudança que a sua eleição representa – que em termos partidários é, sem dúvida, digna de registo – não foge, na essência, à mesma mecânica de pensamento que faz com que Portugal, tal como outros países, esteja como está.
Por diversas vezes já vi, e vejo, Pedro Passos Coelho a defender – e bem – que quem recebe apoios do Estado, aqueles que usufruem de ajudas sociais devem, na medida das suas possibilidades e aptidões, retribuir à sociedade com trabalho.
Lamento – e aqui está o cerne da manutenção da mesma lógica que há muito vem minando a nossa República, como aliás já escrevi, no mínimo desde 1919 – que tal ideia de retribuição não seja defendida por Pedro Passos Coelho quanto às instituições financeiras. As mesmas que receberam o aval do Estado, ou seja de todos nós, para ir buscar dinheiro lá fora, e que agora estrangulam o financiamento às nossas empresas e, assim, a nossa economia. Porque há muito que se sabe que os lucros da banca, estão na directa proporcionalidade com o descalabro do endividamento privado e as fragilidades da economia nacional.
Acrescendo, que a banca paga menos impostos do que a esmagadora maioria das nossas empresas.
Demandar pela responsabilização da banca não é coutada nem da Esquerda nem da Direita. É matéria republicana defensável por qualquer um que demande por um verdadeiro Estado de Direito Democrático, não importa a sua ideologia. Querer rotular ideologicamente tal demanda, só visa dividir para reinar, e já se sabe a favor de quem.
Aqui, Pedro Passos Coelho não fala de retorno, não demanda pela retribuição da banca à sociedade. Aqui não se mostra tão incisivo e persistente, como em relação aos que usufruem de apoios sociais. Antes mostra até cautelas em sede de tributação fiscal da actividade financeira. E é aqui que revela que para se chegar ao poder é necessário ter os devidos cuidados para não melindrar certos interesses. Não é mal exclusivamente nacional, apenas as nossas crescentes dificuldades o mostram de modo mais evidente – para já – do que em outros países.
Pedro Passos Coelho, a continuar neste rumo no que é mais importante para o nosso país – libertar a República das mãos da banca e restituí-la aos cidadãos -, não é solução. E em circunstâncias como aquelas em que vivemos, quem não faz parte da solução, faz parte do problema.
Completamente de acordo. Temos que lhe lembrar isso, uma e outa vez. A banca, não contando com os lucros que esconde nos off-shores, paga 12% de IRC ! Querem ir embora? Eu por mim colocava-lhes o falcon governamental á disposição para irem rapidamente.
Subscrevo e acrescento que PPC, à semelhança de outros digirentes mundiais e europeus, não sabem ou não querem contrariar os privilégios da banca. Não apenas em Portugal. O ‘sistema económico’ subjugado aos interesses do ‘sistema financeiro’ foi justamente a principal razão do descalabro da pior crise depois da II Guerra Mundial. É uma evidência, não uma opinião.