Os professores contratados e o cheque ensino

Há coisas que não faço. Por esta ou por aquela razão, umas mais felizes, outras nem por isso. E acho que colocar questões  ao adjunto do Portas é coisa que não faria. Confesso que não tenho a certeza de que me iria manter calmo, sem ter que lhe partir a cara. Mas, como não corro esse risco, era menino para lhe falar de educação.

Vejamos:

Pela primeira vez em muitos anos, o ano lectivo arranca com todos os professores contratados nos centros de emprego. Nas escolas o ano lectivo arrancou e há muitos professores em falta: escolas sem professores e professores, em casa, sem escola! Que ironia. Mas, deve ser da troika.

Ainda por cima, Crato não os coloca nas escolas (onde são precisos e há trabalho para fazer), mas assume que lhes vai pagar desde o dia 1 de setembro.  Gostaria de entender esta medida de gestão.

Será que a intenção de Passos Coelho e Nuno Crato é outra? Será que a intenção é mostrar claramente as vantagens do privado em relação à escola pública?

Será que esta é mais uma manobra de quem prefere a escola do antigamente, aquela onde só alguns podiam ter sucesso?

Percebe-se que queiram trazer o cheque-ensino, mas não exagerem. Não precisam estragar a Escola Pública para mostrar as qualidades da concorrência. Neste momento os colégios e as escolas privadas têm os docentes colocados enquanto as escolas públicas estão como sabemos.

Para mim, filho de trabalhadores, a Escola foi a oportunidade de chegar à faculdade e de poder aceder a uma vida melhor.

E isso, os amigos de Salazar não conseguem perdoar!

 

 

Economia da imbecilidade

bicho da maça

Chama-se Gabriel Leite Mota, e como o fascismo é uma minhoca que se infiltra na maçã, escarrou no Público. A ler a Lúcia Gomes sobre o dejecto.

Vai despedir 2 administradores?

BCP tem de reduzir despesas com pessoal em 25 por cento.

Seis Perguntas a Passos, o Calvo

De hoje a oito dias, 20 portugueses poderão colocar perguntas ao Primeiro-Ministro em directo, na RTP. Será o programa «O País Pergunta» o que o deixarem perguntar. Irá para o ar logo a seguir ao Telejornal, pelas 21h, e terá a duração de 90 minutos, como num jogo de futebol típico. Durante esse período, vinte pessoas na plateia vão poder questioná-lo. Será o jornalista, barra em futebol, Carlos Daniel, a conduzir a emissão. Há muito sofrimento na sociedade civil e um acúmulo de miséria que anda à procura de válvula. Se eu ao menos pudesse perguntar alguma coisa a Passos, o Calvo, formularia umas cinco ou seis questõezinhas. 1. Por que contemporizou, desde a primeira hora, com a estrutura corrupta que medula o Estado Português legada e alargada pelo socratismo? 2. Por que motivo não procedeu a uma verdadeira reforma do Estado, combatendo a corrupção? 3. Por que é que a austeridade continua obscenamente desigual? 4. Por que motivo a reorganização do Estado e o equilíbrio orçamental parecem missões impossíveis, barradas pelo Tribunal Político-Bizantino Constitucional? 5. Até quando os negócios de Estado mais lesivos, mais corruptos e mais negros, permanecerão intocáveis? 6. Por que parece interminável e generosíssima a ajuda aos Bancos falidos? Afinal de contas, anos de malfeitorias políticas ditam que passemos fome. Não parece que justiça seja feita ou poupadas as duplas vítimas dos impostos e do desemprego.

Professores bombardeados

Embora não aprecie o discurso do martírio corporativista, porque há uma enorme maioria de cidadãos a ser atacada, não é possível fingir que os professores não têm sido um alvo preferencial, com o início do bombardeamento em 2005 e sem fim à vista.

Dois pequenos apontamentos, a propósito.

Segundo o Económico, Portugal perdeu mais de 30 mil professores na era da troika. Em comentário a esta notícia, o Paulo Guinote lembra o óbvio: não há redução de número de alunos que justifique este despedimento maciço.

Entretanto, os governantóides enchem a boca com a necessidade de igualar os sectores público e privado. Muito há a dizer sobre esta conversa da treta e o editorial de hoje do Público (sem direito a hiperligação) debruça-se sobre a actuação do governo, a propósito dos professores contratados. Leia-se, atentamente, a seguinte citação:

Dos professores contratados, existem alguns milhares que já dão aulas para o mesmo empregador, leia-se o Estado, há vários anos, senão décadas, e que todos os anos continuam a ter de passar por este processo de selecção. Como tal, os sindicatos reclamam a aplicação de uma directiva europeia de 1999 que, aplicada ao sector privado, obriga a que, ao quarto ano de trabalho, os funcionários sejam integrados nos quadros. E é preciso recordar que, na anterior legislatura, o próprio CDS (agora no poder) propôs a entrada nos quadros dos professores com contratos há mais de dez anos e que, neste período, tenham estado contratados pelo menos seis meses por ano lectivo.

Não deixa de ser curioso e contraditório que Pedro Passos Coelho esteja a criticar o Tribunal Constitucional por travar algumas medidas que o Governo quer implementar para aproximar as regras do sector público às do sector privado (os despedimentos, a convergência nas pensões, etc…) e, ao mesmo tempo, como neste caso dos professores contratados, continue a afastar-se das regras que regem o sector privado e que impedem que os trabalhadores estejam anos, ou mesmo décadas, a trabalhar para o mesmo empregador com vínculos precários.

É claro que encontrar coerência em Passos Coelho ou em Paulo Portas seria notícia de primeira página. Seja como for, como acontece em todos os bombardeamentos, o maior problema está nos efeitos colaterais e um dos mais graves é o prejuízo causado aos alunos.

Brazil

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Brazil – pesadelo surreal num universo orweliano. Filme de Terry Gilliam. Página IMDB.

Legendado em português usando o sistema do Youtube (tem de activar as legendas).