Reciclagem vs. Negócio

Estava eu na casa-de-banho, a ler as minhas revistas e jornais, quando me deparo com a boa notícia de que se vão reciclar embalagens e medicamentos. Óptimo pensei. No entanto, lembrei-me que já há algum tempo atrás, provavelmente um ou dois anos atrás, tinha deixado velhos medicamentos para reciclar, numa farmácia.
Curiosamente, a 5 de Março de 2009, em comunicado de imprensa “a Valormed pede a todos os portugueses para que entreguem as embalagens e medicamentos fora de uso nas farmácias, contribuindo para a melhoria das condições ambientais.” Ok. Por mim tudo bem. Acho que a reciclagem é muito importante. Muito mais importante que reciclar, é nem sequer consumir, mas se se tiver de consumir, então que se consuma, que se reaproveite, que se reutilize e então só depois se recicle. Só que há um problema. Este sistema de reciclagem aparentemente já existe há muito tempo.
Diz aqui que em 2008 a recolha de medicamentos para reciclar subiu para 700 toneladas, e que isto é um aumento de 10% em relação ao ano anterior. É muita tonelada de medicamento! Então o que faziam ao lixo recolhido para reciclagem, se só agora é que é de facto, reciclado? Fácil! Atira-se para fogueira! Já há muitos anos que era usada esta técnica para reciclar plásticos e pneus. Como tinha o inconveniente das colunas de fumo preto, ficava muito mal perto dos centros desenvolvidos das cidades e então deixou de ser usado como método reciclador. Dava mau ambiente, como se costuma dizer.
O que é incrível nesta situação: A Agência Portuguesa do Ambiente sabe do assunto há muito tempo e o que faz? “Ou resolvem rapidamente a situação ou retiramos as licenças!“. Quando eu transgredir, espero também, que sejam assim brandos comigo. O Ministério do Ambiente intervém de alguma forma? Parece que não. Parece que alguém se esqueceu de consultar o Despacho. Algures, lá pelo meio das suas 31 páginas de letrices e numerices, deverá haver alguma indicação sobre como penalizar uma entidade que não cumpre com o acordado. Se calhar não há. O documento também é algo extenso, diga-se, se calhar alguém se esqueceu dessa parte. Há penalizações? Nada. Ficar sem licenças? Nada disso. Pior ainda. Na constatação da impossibilidade técnica da Valormed fazer a reciclagem das embalagens e medicamentos, faz-se o quê? Cancela-se o serviço com a entidade? Não! Dá-se a hipótese, a uma entidade que não cumpriu com o acordado, de contratar outra empresa para fazer o serviço por ela! A empresa escolhida foi a Prolixo, que em 24 de Outubro criou uma nova imagem e uma segmentação do seu negócio em duas áreas farmacêuticas. Mesmo a tempo de celebrar contrato com a Valormed em 18 de Dezembro. É disto que o nosso país precisa. Empresários e dirigentes com visão e capacidade de antecipação de acontecimentos.
Independentemente das entidades envolvidas, e acreditando na sua seriedade perante problemas ambientais, para mim, há algumas questões a reter nesta situação: quando é que estas pessoas, envolvidas nestas confusões todas, se limitam apenas e só, a fazerem aquilo a que se propõem? É preciso tanta lenga-lenga, tanta letra e tanta tanga só para reciclarem uma porcaria dumas embalagens de medicamentos? Até com a boa-fé das pessoas em reciclarem o seu lixo, estes idiotas bacocos dos negócios e dos números, brincam? Para esta gente, tudo é mesmo um negócio?
Eu, particularmente, começo a ficar algo preocupado com o facto do meu esforço – e obrigação – em reciclar o lixo que produzo, cair em saco roto, quem sabe, aí para uma lixeira qualquer escondida, apenas porque isso dá mais lucro a alguém.

Reciclar implica alguns recursos. Não consumir não implica recursos nenhuns.

Comments

  1. Miguel Dias says:

    Pois parece q

  2. Miguel Dias says:

    que a coisa, dizia eu, é um pouco mais subtil. porque raio é que não há incentivos para quem recicla (como no caso que cito no meu post mais abaixo). Será que interessa mesmo?

  3. Luis Moreira says:

    A reciclagem tambem é do interesse dos cidadãos pois de outra forma vivemos no meio da porcaria, as águas serão contaminadas e os céus da cor do estrume.Já viram por exemplo que se os automóveis não tivessem substituído os carros de bois as cidades não seriam como as conhecemos? Reciclar é preciso. Novas aplicações para os plásticos,borrachas,vidro,lixo orgânico,metais,inertes…

  4. Não. Infelizmente acho que não interessa a ninguém. Ou interessa a pouca gente. Existem assuntos muito mais importantes, como um índice qualquer de empresas de reciclagem cotadas em bolsa ou dinheiro… Um dia se calhar é a única coisa que vamos comer… ou reciclar.

  5. Um belo post. Confesso que não sabia deste caso. Distrai-me. E ficou preocupado.

  6. Luis Moreira says:

    Se no caso dos medicamentos a reciclagem fosse obrigatória para as farmácias estas aderiam rapidamente à venda de medicamentos por unidose.O problema é que vender toneladas de medicamentos a mais dá lucro às farmácias e ás farmaceuticas.

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