Impressões definitivas da noite eleitoral: Vencedores e vencidos

Logo a seguir às 20 horas, deixei aqui as primeiras impressões relativamente aos resultados das eleições. Agora que já temos todos os dados em cima da mesa, parece que nem tudo foi como se previa:

– O PS ganhou as eleições, foi o Partido mais votado e vai continuar a ser Governo. No entanto, ninguém venha dizer que foi uma vitória extraordinária, porque não foi. Perdeu 500 mil votos relativamente a 2005, perdeu 25 deputados e perdeu a maioria absoluta. A política não é bem como o futebol, em que tanto faz ganhar o Campeonato com 1 ponto ou com 20 pontos de avanço. Na política, não é bem assim. O certo é que vai ter muitas dificuldades a governar, enquanto que até agora pôs e dispôs à sua vontade.

– O PSD saiu claramente derrotado, porque não alcançou o único resultado que lhe servia – ganhar as eleições. Apesar de ter conseguido mais votos e ter eleito mais deputados, Manuela Ferreira Leite consegue fazer pouco melhor do que Santana Lopes em 2005 – com a «piquena» diferença de que em 2005 Santana Lopes vinha fragilizado por ter sido primeiro-ministro e Manuela Ferreira Leite vinha embalada com a vitória nas Europeias.

– O CDS acabou por ficar em 3.º lugar, tendo conseguido a vitória mais retumbante da noite. Foi o único Partido que alcançou e até superou todos os seus objectivos. Pobre país este, em que o Partido cuja maior bandeira é o fim do Rendimento Mínimo consegue estes resultados. Seja como for, neste momento será Paulo Portas a condicionar os destinos da governação. Com os deputados do CDS, Sócrates aprova todas as medidas que quiser, até porque ideologicamente estão mais próximos do que Sócrates em relação aos Partidos de Esquerda. Só que o primeiro-ministro terá de pagar bem caro para conseguir esse apoio.

– O Bloco de Esquerda conseguiu uma grande vitória, com um aumento significativo do número de deputados e do número de votos. No entanto, é uma vitória que sabe a muito pouco. Ao ficar em 4.º lugar e ao ver o CDS com os deputados suficientes para fazer maioria com o PS, vê o seu papel na conjuntura eleitoral francamente diminuído. Delirante foi a opinião de Francisco Louçã de que fora uma clamorosa derrota da Direita – afinal, o PS ganhou as eleições, o PSD subiu um pouco a votação e o CDS, esse sim, teve uma vitória extraordinária. Onde está a derrota da Direita? Gostei da referência à Ministra da Educação e, aí, esteve muito bem.

– A CDU não perdeu de forma tão clamorosa como previra inicialmente. Conseguiu mais 30 mil votos do que em em 2005 e elegeu mais um deputado. Ficou em último lugar, é certo, e por isso não concretizou os seus objectivos, mas minimizou danos. No fundo, em termos práticos, influenciará os destinos da governação tanto como o Bloco de Esquerda.

Numa nota final, reparei que, à excepção de Manuela Ferreira Leite, nenhum dos líderes dos Partidos deu os Parabéns a José Sócrates pela vitória nas eleições. Ficou-lhes mal. Quanto a Sócrates, para além dos exageros da «vitória extraordinária», tinha de mostrar o seu sentido de Estado, já no final do discurso, ao atacar fortemente Francisco Louçã numa noite que, pelo que ele disse, até devia ter sido de festa.

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