Dom Quixote e os nossos descendentes

Os que tiverem a paciência de ler este texto, podem perguntar-se qual a relação entre Dom Quixote e a nossa descendência. Eu próprio, coloquei-me a questão antes de iniciar a escrita. Estou certo, que esse querer saber relacional, fez-me saltar sobre esta máquina, que não apenas escreve, como também me faz pensar enquanto desenho as palavras. A imagem (nº 1) do artista Paul Gustave Doré (Estrasburgo, 6 de Janeiro de 1832Paris, 23 de Janeiro de 1883), leva-me a pensar que Dom Quixote foi o cavaleiro que se bateu pelas damas, mandando à sua frente Sancho Panza incumbido de limpar o caminho de obstruções que não lhe permitissem lutar pela sua amada. Amada que nunca vimos nas ilustrações, Dulcineia del Toboso estava na mente do Senhor, mas Doré estava obrigado a desenhar a dama (imagem nº 2) que enlouquecia de amores o seu cavaleiro.

 

Imagem n.º 1   Imagem n.º 2

 

 Não com estas formas, mas são as mulheres que amamos loucamente, profundamente, até o extremo de abater um pelotão completo de malfeitores, para resguardar a sua beleza, calma, serenidade e, ainda mais, essa paixão de querer procriar com elas. 

Dom Quixote estava inflamado de paixão, nem conseguia adormecer ao pensar no corpo, ou terno e branco, que o ia receber. Sem saber, por causa da sua doença, que Dulcineia não queria estar com ele. A paixão levanta até os cabelos do corpo, faz pouco da nossa razão e empurra o nosso corpo em procura da estabilidade de entrar nela; é o que tenho definido com a frase, que passou a livro: Desejo-te, porque te amo. O nosso corpo tem uma lei que nos acalma: entrar entre essas brancas pernas, enquanto amamos e acariciamos o resto do corpo, convidamos, seduzimos, deixamo-nos seduzir e no grito de angústia final, a nossa semente faz outro ser que amamos serenamente, corpo que nasce do doce lamentar da mulher amada e que prolonga os nossos sentimentos ao longo dos anos.e… perde por olhar para trás.

       

Imagem n.º 3    Imagem n.º 4

 

Com essa doçura que faz de nós Cavaleiros das nossas Damas que nos amam, que nos amam e nos protegem, tal como nós a elas. Dom Quixote estava doente de amor, de paixão, do impossível. A sua Dulcineia era a sua imaginação, a sua semente sempre levantada, não conseguia descansar da paixão. Queria a sua mulher e queria-a como mãe dos seus filhos. Doré não conseguiu reproduzir uma Dulcineia para nos amar, mas sim uma Beatrice da Divina Comédia que faz esquecer todo e qualquer amor que não seja o de Orfeu pela sua Euridice, que a encontra no inferno…. e a perde por olhar para trás

      

Imagem n.º 5, como Alighieri a Beatrice, nunca perfeita; Imagem n.º 6, Dom Quixote a sua Dulcineia del Toboso, apenas bela na sua realidade perdida.

 

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