And the stars are black and cold

O problema deve ser meu, pensei. Meu e dos três colegas que concordavam comigo. A coisa passou-se mais ou menos desta maneira: a minha professora de Sociologia resolveu dizer que os portugueses tinham uma tendência para a corrupção e para a desonestidade, dando o clássico exemplo do tipo que tira tudo o que seja canetas, marcadores, papel e restante material do trabalho para levar para casa para os putos. Logo uma horda de colegas disseram que não fazia mal nenhum, porque não prejudicava ninguém. Devem pensar os marcadores crescem nas árvores, pensei eu. A seguir deu-se o exemplo dos jornais. A minha professora mencionou que em alguns países, os jornais estão colocados na rua e as pessoas colocam a moeda e retiram o jornal. Lembro-me de ter visto esta situação em Londres várias vezes, e várias vezes me interroguei porque razão não havia ninguém que tirava o jornal e ia-se embora, sem pagar. Logo uma colega minha disse que também não percebia o que é que prejudicava tirar um jornal sem pagar. Penso, mas não tenho a certeza, que foi por essa altura que levei as mãos à cara e gemi. Depois deu-se o exemplo dos bilhetes de comboio. São poucos os que pagam porque “acham que é muito caro”, e eu respondi que depois se fossem apanhados pagavam os 70 euros de multa que era uma maravilha. Percebi então que a maior parte só não anda de comboio sem pagar por medo da multa. Ai, digo qualquer coisa como: “então é assim, fazemos as coisas bem feitas, não porque é o que deve ser feito, mas por medo da punição?”. Ninguém disse nada excepto a professora que deve ter dito qualquer coisa como “mas é evidente”.

Naquela aula percebi várias coisas, infelizmente, mas percebi uma acima de tudo: isto não está a melhorar. Dos que concordavam comigo, não chegavam a 6 e bolas, somos 25 embora alguns não tivessem ido. Eu, já exasperada, (e a professora que não estava tão chocada como eu porque, suspeito, deve estar habituada a estas tiradas) tentei explicar que se toda a gente pensasse como eles e não pagassem o bilhete de comboio, deixava de haver comboio, que se não pagassem os jornais e, basicamente, os roubassem, deixava de haver jornais, e em última análise, porque era para ai que a conversa estava a ir, se não pagassem impostos não havia Estado. Mas não. Poucos foram os que perceberam e saíram dali a continuar a achar bem que não se pague o bilhete de comboio, que a “pessoa deve ser honesta mas não pode ser parva” (juro que houve uma colega que disse isto), e que o que interessa é que cada um se vá safando à sua maneira.

Da aula saí, triste e incrédula, pronta para ir para o Cambridge, a pensar que se isto continuar assim que não fica cá de certeza, sou eu.

O Tratado de Lisboa contribuirá para que os europeus se sintam mais europeus?

TEXTO DE JOÃO MACHADO

 

Triste de quem vive em casa

Contente com o seu lar,

Sem que um sonho, no erguer de asa,

Faça até mais rubra a brasa

Da lareira a abandonar!

 

Fernando Pessoa, O Quinto Império

 

O Tratado de Lisboa (Tratado), oito anos depois da cimeira de Laeken, repletos de negociações e de episódios variados, foi finalmente ratificado pelos 27 países que actualmente integram a União Europeia (UE), após a assinatura de Vaclav Haus, Presidente da República Checa, a 3 do mês de Novembro corrente, prevendo-se a sua entrada em vigor no dia 1 de Dezembro próximo. No prefácio, assinado pelo ministro Luís Amado, da versão consolidada que o Ministério dos Negócios Estrangeiros colocou na internet, o Tratado é considerado como um dos principais sucessos da presidência portuguesa da UE, e que esta agora se pode voltar para assuntos que tanto preocupam os cidadãos, mencionando-se as alterações climáticas, a energia, o terrorismo, a estabilidade financeira dos mercados, que serão alguns entre outros. Os assuntos referidos são importantes, sem dúvida. Mas entretanto The Economist, num editorial intitulado Wake up Europe!, tinha classificado o Tratado como “regularmente inútil” e uma “remodelação deliberadamente obscura da proposta de Tratado Constitucional rejeitada pelos eleitores franceses e holandeses em 2005”.

 

Em 13 de Dezembro de 2007, sob a presidência portuguesa do Conselho Europeu, os 27 países membros assinaram o Tratado de Lisboa, também intitulado por Tratado Reformador. Na realidade, este resulta de adaptações e actualizações aos Tratados de Roma, de 1957, e de Maastricht, de 1992, que passaram a funcionar, respectivamente, como o Tratado sobre o funcionamento da União Europeia, e o Tratado da União Europeia. O Tratado de Lisboa inclui portanto dois tratados, com alterações introduzidas durante a presidência alemã do Conselho Europeu, com numerosos protocolos e declarações anexados. A Carta dos Direitos Fundamentais da União (CDFU), aprovada em 2000, não foi incluída no Tratado de Lisboa, ao contrário do que acontecia com a preterida proposta de Tratado Constitucional. O artigo 6º do Tratado da União Europeia reconhece à Carta o mesmo valor jurídico que um Tratado, mas dispõe que de forma alguma o que vem na Carta alarga as competências da União, tal como vêm definidas nos tratados. O mesmo artigo estipula a adesão da UE à Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, mas igualmente sem alterar as competências da União, tal como definidas nos Tratados. Após a assinatura em Lisboa, nos Jerónimos, pelos Chefes de Governo, passou-se à fase de ratificação em cada um dos 27 membros da EU, pelos respectivos órgãos nacionais, nos termos das respectivas legislações nacionais.

Vários países obtiveram derrogações à CDFU. O último caso foi precisamente o da República Checa, cujo presidente, Vaclav Haus, pôs muitas reticências à ratificação, invocando a necessidade de prevenir uma hipotética reclamação dos alemães expulsos dos Sudetas após a Segunda Guerra Mundial. Na realidade Vaclav Haus, que alguns dizem dar-se bem com o primeiro-ministro russo Vladimir Putin, pertence a uma corrente eurocéptica, que fez questão de prolongar a resistência à ratificação do Tratado de Lisboa, supostamente com a esperança de os conservadores chegarem ao poder no Reino Unido, e promoverem o referendo ao Tratado de Lisboa que têm vindo a prometer aos eleitores ingleses. Entretanto, a ratificação pela República Checa pode ter tido um efeito calmante sobre os conservadores ingleses, que parecem ter posto de parte, pelo menos de momento, a ideia do referendo, com receio de que o Reino Unido fique numa posição de isolamento, em relação aos restantes membros da UE.

Tanto o Reino Unido como a Polónia foram abrangidos por um protocolo, já incluído no Tratado de Lisboa, que, em especial, obsta a que as disposições incluídas no Título IV da CDFU (Solidariedade) criem direitos susceptíveis de serem invocados perante os tribunais e que se apliquem à Polónia e ao Reino Unido, excepto na medida em que estes países tenham previsto tais direitos nas respectivas legislações nacionais. Em relação a estes dois países membros o mesmo protocolo também inclui limitações mais genéricas relativas a incompatibilidades entre as legislações nacionais e o estipulado na CDFU, impedindo que, em geral, as disposições desta se sobreponham às legislações daqueles dois países. No Reino Unido invocam-se sobretudo as disposições em matéria de legislação social e do emprego, para recusar a CFDU. Na Polónia, para além desses capítulos, consideram-se também aspectos de costumes, direito da família e da pessoa e outros, referidos nas Declarações n.os 61 e 62, anexas ao Tratado de Lisboa, nas quais é clara a grande influência da igreja católica no país. Também as negociações desenvolvidas entre a UE e a Irlanda, entre o primeiro e o segundo referendo, parecem ter tido em conta influências semelhantes.

Na realidade, o Tratado de Lisboa e as negociações que levaram à sua ratificação não parecem ter constituído uma etapa decisiva da unificação europeia. Aspectos fundamentais ficaram de fora. Não são abordados nas declarações e conversações que transparecem para o público em geral. Esses aspectos são vários. Enumeramos a seguir alguns: Porque é que o Parlamento Europeu continua sem o poder de iniciativa legislativa? Porque não há um alinhamento das políticas fiscais dos 27? E quanto às políticas sociais e de educação, tão diferentes de país para país? Porque é que na CFDU não se assegura inequivocamente o direito a ter um trabalho remunerado, ou a frequentar o ensino obrigatório gratuito, quando se é criança ou jovem? Qual será o papel dos serviços públicos, aos quais praticamente não se faz menção no texto dos dois tratados (fala-se de serviços de interesse geral)? Outros aspectos há, extremamente importantes como os agora referidos, que será necessário incluir em tratados futuros.

 

Constata-se que as discussões e as preocupações dos políticos de topo da EU são domina
da
s por dois temas: o primeiro, relativo a quem vai preencher os lugares de presidente do Conselho Europeu e de alto representante da União para os negócios estrangeiros e a política de segurança, o segundo (a uma certa distância do primeiro), o do alargamento seguinte da UE a outros países, (os próximos deverão ser a Croácia e a Macedónia), para além das discussões à volta da admissão (ou não) da Turquia. Estes dois temas são sem dúvida importantes. Contudo não é com certeza por causa deles que os eleitores votaram negativamente nalguns referendos realizados para ratificar o Tratado (quer o de Lisboa, quer a proposta de Tratado Constitucional), ou que os governos de alguns dos 27 membros da UE (entre eles Portugal), apesar dos compromissos assumidos, resolveram prescindir do referendo, inseguros sobre qual seria o resultado, e promoveram a ratificação do Tratado de Lisboa por outras instâncias, porventura mais acomodatícias.

 

O futuro da Europa tem de ser decidido pelos europeus, se se quer que a Europa tenha uma identidade própria e mantenha um lugar ímpar no mundo (mas de um modo diferente dos últimos séculos). Para que os europeus se possam realmente sentir europeus, têm de conhecer melhor os organismos que os governam e reforçar a participação dos cidadãos na escolha dos responsáveis desses mesmos organismos, e na formulação das normas que a estes presidem. E garantir que trabalharão para defender os direitos fundamentais tantas vezes apregoados e melhorar o seu próprio bem-estar, e o dos povos das outras nações.

 

 

 

Um advogado bem escolhido

O sucateiro biGodinho contratou o advogado Rodrigo Santiago. Fez bem, é um dos melhores advogados portugueses e já começou a mostrar serviço ao afirmar hoje que o seu cliente "é apenas a ponta de um iceberg" de um complexo processo que pode "envolver figuras da hierarquia do Estado".

Se eu fosso muito ingénuo diria que esta frase tem todo o sentido vinda de quem nas últimas eleições autárquicas foi candidato à Assembleia Municipal de Coimbra e prometeu ser “implacável relativamente a quaisquer formas de corrupção, compadrio ou tráfico de influências”.

 

Como não sou tão tótó como isso, sempre tenho em conta que se trata também do defensor de J. Eduardo Simões, presidente da Académica OAF e ex-director do Departamento de Urbanismo da Câmara Municipal, acusado de ter utilizado esse cargo para obter junto do pessoal das imobiliárias e afins financiamentos ilícitos para o clube de futebol.

Processos que se vão arrastando como é de uso e tradição, estando um em vias de ser marcado embora a data da audiência possa "ficar ainda à mercê de outra decisão da Relação atinente a um recurso interposto pelo advogado Rodrigo Santiago a respeito de outro inquérito (segundo) em que foi deduzida acusação a Eduardo Simões."

 

É portanto de um excelente profissional que falamos, e se a  sua estratégia para a defesa do homem de Ovar for aquilo que parece ser a coisa promete e pode ir tudo abaixo. Pode, que não sou tão ingénuo como isso, e estas ameaças veladas costumam provocar o efeito pretendido, este número do não me lixes ou meto a boca no trombone raras vezes dá música.

 

Adenda: acabo de saber pelo João Soares e via facebook que José Penedos é um homem empenhado na Associação Portuguesa de Ética Empresarial, onde assinou a "Carta Anticorrupção".

Invocava  agora Frei Tomás mas prefiro ir jantar e ver se faço bem a digestão.

Simplesmente..simples, simplesmente…Sara

TEXTO DE ADALBERTO MAR

 

 

 

 

Hoje quero somente fazer a apologia do sol do saber, da simplicidade e dos vencedores..De todos aqueles que provaram o inferno, e que subiram no elevador para novamente aconchegarem-se ao sol.

Sara é uma dessas canções intimistas que falam da vida, dos sabores, das paixões, de uma mulher que tendo tudo perdeu o dobro, de uma mulher que sendo uma cigana rainha nos vícios, partiu para supostamente não mais voltar, mas voltou.

Afogando-se na dureza de um mundo que pode oferecer tanto a uma pessoa que a assassina com farturas e ganâncias, Sara é algo que deve ser cortado da melhor carne que o Criador fez.

Enquanto falo muitos morrem, muitos amam, muitos matam. Isso já não é novidade e a banalidade torna as coisas com menor importância.

A riqueza e a aventura das coisas, a doçura do olhar e a nobreza do querer está quando se tem tudo e tudo se perde, quando o abismo é como o amanhecer, um fio de distinção que rebenta&hellipQuando a noção de viver e de sofrer passam a ser a mesma, quando o pó das asas da tempestade arrasam o jogo de cada um&hellip.numa enseada de horizontes perdidos num litoral qualquer anónimo, sem «gelados Olá e bikinis Cláudia jacues»&hellip.MAS QUANDO SE VOLTA TRIUNFANTE DESSA GUERRA, DESSA MORTE, DESSA QUEDA! Sara é a face oculta deliciosa e intimista da sombra da alma e dos pelos do corpo&hellipé a casa que nos chama sempre do alto dos céus&hellip.Sara é um sonho feito música, uma melodia que se cozinha com o cérebro, se serve com a alma, e se come com o brilho azulado dos olhos humanos&hellipSara é um lenço ao vento, um raio por entre os pinheiros que nos abençoam com o seu cheiro, uma anémona venenosa mas bela que nos enfeitiça antes de nos picar docemente com o seu veneno de mil cores, cheios de arco-iris e silvas campestres&hellip.Sara é a história de uma mulher que se afogou num mar de amor que era desejo de túmulo para todos&hellip. Sara é uma tempestade de veludo e de penas com uns relâmpagos estrondosos que ferem os meus/vossos tensos ouvidos cheios de lugares, ferindo e aleijando com canções de embalar, como drogas possantes aniquiladoras, com aquela noção de querer viver só com esse sopro universal do COSMO e do Tal DEUS que me/nos abençoa..,um sopro vociferante e doce, mesmo naqueles que o desconhecem e o desprezam, e DELE se riem..

Sara é o tal «poem in my heart, never change, never stop!!»..Sara é um dia de sol, um vento de maresia, um passeio simples à beira mar, o homos erectus ao fim de 2oo mil anos, Sara é o Big End, o The End e o Fisrt

Sara, oh How I Love you so so so much

 

150-48=?

Diz o Governo, usando os oportunistas, que 48 mil docentes já concluiram ou estão a concluir o seu processo de avaliação.

Dando isso como verdadeiro, pergunto: então um governo maioritário consegue produzir um modelo tão fantástico que numa legislatura inteirinha só consegue avaliar menos de um terço dos Professores?

Tem a palavra o Dalby, esse exemplo de profissionalismo docente que, todos sabemos, não colocou os pés numa única!

NEM UMA sequer, Manifestação de Professores!

 

Taxas Multibanco – ganhar a dobrar

Há uma enorme tentação para cobrar taxas pela utilização das caixas do multibanco.

 

Grande parte dos serviços que hoje podemos obter a partir do Multibanco, obrigavam-nos a deslocarmo-nos aos balcões dos bancos onde trabalhavam uma multidão de bancários para prestarem, pessoalmente, esses serviços.

 

Hoje, o que vimos, é que as agências bancárias têm 2 ou 3 pessoas ao balcão porque os clientes raramente recorrem aos serviços da agência .Esta mudança na prestação dos serviços constituiu uma enorme poupança nos custos dos bancos, desde logo no pessoal das agências, na utilização de cheques e outros documentos de apoio às movimentações bancárias, e ainda no pessoal  dos serviços centrais de controlo de contas e clientes.

 

A informática presta hoje todos esses serviços, contribuindo de uma forma muito poderosa para os lucros fabulosos dos bancos.  O cliente deixou de ter uma assistência personalizada para ter uma máquina  que utiliza quando necessário, contribuindo assim, para a enorme redução de custos  das entidades bancárias.

 

O cliente continua, como não pode deixar de ser, a pagar as margens de comercialização e de intermediação bancárias, o que não pode nem deve pagar é uma sobretaxa de um serviço que se não fosse prestado através do Multibanco, seria prestado pelas agências.

Com os custos de pessoal e administrativos inerentes.

 

Tal taxa a ser cobrada, seria mais ums injustiça, porque os bancos já recuperaram os investimentos feitos em informática e na exploração diária, com a redução dos custos de pessoal e administrativos. Passaria a ser o pagamento de um serviço que os bancos sempre prestaram nas agências.

 

E quem ganha um milhão de contos por dia…

 

 

Face Oculta – pode envolver altas figuras da hierarquia do Estado (i)

Não se pode destruir nem se pode tornar ilegal ou inválido o que é essencial para a descoberta da verdade!

 

A sua existência não pode ser ignorada, até porque pode constituir prova fundamental para terceiros envolvidos no processo. Daí a lei seja clara no que à sua destruição diz respeito.Só após a decisão do processo transitar em julgado!

 

Tornando simples o que é complexo, ou o que pretendem complexo, o Prof Costa Andrade faz o que só está ao alcance de quem sabe muito e de quem é suficientemente independente. Desmonta, uma a uma, as pretensas "competências" que o TSJ se atribui a si próprio, incluindo a destruição das escutas.

 

A utilizaçã/valoração das escutas no que que diz respeito aos "conhecimentos fortuitos" não depende da prévia autorização do juiz de instrução, cidadão comum e orgãos de soberania estão, rigorosamente,na mesma situação. Nem um, nem outro gozam da garantia de autorização prévia de um juiz de instrução a autorizar as escutas.

 

Entretanto, Rodrigo Santiago, advogado de Godinho, vem dizer que o seu cliente é só a ponta do iceberg, e que altas figuras da hierarquia do Estado poderão estar envolvidas.

 

PS Ver Face Oculta ontem aqui no Aventar e Público. Hoje noi.

 

 

A máquina do tempo: Mussolini – Benito, para os amigos

 

Foi posto ontem à venda nas livrarias italianas, editado pela Rizzoli, de Milão, o livro do jornalista Mauro Suttora com o título «Mussolini segreto» – «Mussolini Secreto». Revela, segundo se diz, uma nova imagem do ditador que, tem sido habitualmente descrito como um bonacheirão muito menos sanguinário do que o seu aliado Adolf Hitler. Afinal, Benito Mussolini disputava a Hitler a qualidade de campeão do anti-semitismo ( «Hitler è un sentimentalone»), acusava Franco de ser um idiota, ameaçava o Vaticano com o corte de relações («Questo papa è nefasto»)…

«Estudei durante muitos meses mais de 2000 páginas escritas por Claretta, com uma caligrafia apertada e difícil», diz Suttora. Já no fim da guerra da Libertação, quando o casal Benito e Clara tinha já a água pelo pescoço e teve de fugir de Salò, onde se refugiara após a queda do governo de Mussolini, ainda mantendo a esperança de ressuscitar o fascismo, a amante do Duce entregou os seus diários a uma amiga de confiança, que os escondeu. Foram encontrados em 1950.  Mauro Suttora (1959) é um escritor e jornalista milanês, colaborador do Corrieri della Sera, com reportagens sobre a guerra Irão-Iraque, o massacre de Tiananmen, a primeira guerra do Golfo, Gorbatchov, a guerra da Jugoslávia, a Segunda Intifada, etc. Entre os seus romances, destaca-se o best seller «No sex in City», publicado em 2007. É ele que me ajuda hoje a pilotar a nossa máquina do tempo de regresso a esses anos escaldantes que antecederam a 2ª Guerra Mundial.

Segundo o autor, o que se torna reveladoramente explosivo é o facto de as palavras de Clara Petacci, a linda actriz com os cabelos cor de azeviche, destruírem a imagem de um ditador que cometeu excessos, mas humano, um pouco ridiculamente fanfarrão, mas simpático, um acólito moderado de Hitler, um homem que foi atrelado ao carro nazi contra sua vontade e que aprovou as leis contra os judeus apenas para não contrariar o seu louco aliado. Um católico devotado. Essa imagem é falsa, segundo o livro de Suttora. E depois há as revelações eróticas, que numa Itália vacinada pelos desmandos de Berlusconi, não causarão grande impacto.

«Sabes, meu amor? A noite passada, no teatro, despi-te mentalmente pelo menos três vezes. Olhava-te, tirava-te a roupa e desejava-te como um louco». Parece um fragmento de uma escuta telefónica ao inenarrável Silvio, mas são palavras de Benito que Clara anotou em 5 de Janeiro de 1938. A relação adúltera durava desde 1932, tinha Clara Petacci 20 anos e Mussolini 40. O Duce era casado com Rachel Mussolini (1890-1979) . Tinham seis filhos.

Mussolini ficava furioso quando apontavam Hitler como pioneiro do anti-semitismo: em 4 de Agosto de 1938, sempre de acordo com o diário de Petacci, o ditador fascista terá berrado: «Eu já era racista em 1921. Não sei como podem pensar que imito Hitler se ele nem sequer tinha nascido. Os italianos deveriam ter mais sentido da raça, para não criar mestiços que irão estragar o que temos de bonito». Vinte dias antes saíra o «Manifesto della razza», documento que tentava criar a tese da superioridade da etnia itálica.

Pio XI não terá escapado à fúria de Benito: «Se os do Vaticano continuam assim, vou romper todas as relações com eles. São uns miseráveis hipócritas. Proibi os casamentos mistos e agora o Papa pede-me para casar um italiano e uma preta. Não! Vou-lhes partir a cara a todos».

Franco não foi melhor tratado: «Esse tal Franco é um idiota. Julga que ganhou a guerra com uma vitória diplomática, só porque alguns países o reconheceram, mas tem o inimigo dentro de casa. Se tivesse só metade da força dos japoneses, já teria acabado com tudo há quatro meses. São apáticos [os espanhóis], indolentes, têm muita coisa dos árabes. Até 1480 os árabes dominaram a Espanha, foram oito séculos de domínio muçulmano. Aí está a razão porque comem e dormem tanto», anotou Claretta em 22 de Dezembro de 1937.

Enfim, um livro que promete levantar celeuma, principalmente em Itália onde ainda existe uma residual falange de apoio ao ditador que, com a sua amante Clara Petacci, foi numa praça executado de Milão, no dia 25 de Abril de 1945. Mostro as imagens. Recomendo às pessoas mais sensíveis, que não vejam o vídeo, pelas razões habituais.

 

 

Armando Vara era a pessoa que tinha o pelouro do Sol

“Uma pessoa do círculo próximo do primeiro-ministro e que conhecia muito bem a situação do jornal e a nossa relação com o banco BCP disse-nos que os nossos problemas ficariam resolvidos se não publicássemos a segunda notícia do Freeport”, assume à SÁBADO o director do Sol, José António Saraiva – não revelando, porém, a identidade do autor da proposta. “É evidente que Armando Vara era a pessoa que tinha o pelouro do Sol no BCP e que todos os assuntos relacionados com o Sol passavam directamente por ele, e isso nós sabíamos”, acrescenta José António Saraiva.

 

Na Sábado, via Facebook

 

É por estas e por outras que a dimensão jurídica destes casos, onde ganham a vida os melhores advogados portugueses, tem pouca ou nenhuma importância. É por estas que as fugas de informação e violações do segredo de justiça valem mais  do que os processos em tribunal. É pelas outras que o estado de direito me dá vontade de rir, embora fosse mais apropriado chorar.

 E isto não é de hoje, tem exactamente a idade do estado de direito, e não sei porquê mas faz-me sempre lembrar esse grande mestre de seu nome Mário Soares.

Passaporte carimbado

Portugal precisou de sofrer para chegar à fase final de uma grande competição, como acontece quase sempre. Desta vez foi mesmo preciso esperar até aos jogos decisivos para ver uma equipa com garra, vontade, determinação e querer. Pelo menos, chegou a tempo.

 

É, claro, um triunfo para Carlos Queiroz, sempre tão pouco acarinhado neste nosso cantinho. Fica o sabor a pouco de uma vitória que poderia e deveria ter sido mais expressiva.

 

Fica ainda mais uma vergonha para a multinacional que é a FIFA, que, mais uma vez, não soube proteger o seu estatuto social, defender o negócio do futebol. A FIFA é uma empresa e como todas as empresas deve lutar por ter as melhores condições de trabalho para os seus ‘funcionários’. Mais uma vez não fez isso. Autorizar um jogo de futebol internacional naquele relvado é criminoso. Creio que em Portugal não deve haver muitos recintos de jogo, mesmo nos distritais, com um piso tão mão como aquele.

 

A igreja de S. Francisco Xavier vai dar nas vistas

Andam a começar uma igreja a S. F. Xavier no Alto do Restelo que fica em Lisboa e brotam acusações à maqueta ao nível de Maomé e do toucinho.

 

Parece cousa para dar nas vistas, quando a virmos de baixo para cima que é como vai ser vista, e a arquitectura das igrejas também serve para ser vista.

Neste caso gosto, com a vantagem de não estar muito bem a ver onde vai aterrar a igreja gosto apenas da maqueta, faz-me lembrar outras igrejas exclamativas, de exibição patética da fé e chamamento aos fiéis que também ficaram em algumas páginas de livros de História da Arte,  a arquitectura religiosa é a que conhecemos melhor e há mais tempo, séculos de experiência em altos e coloridos edifícios de propaganda, na altura sem a concorrência dos centros comerciais.

Vai dar muito nas vistas e os que tentam impedir a sua construção já estão a contribuir para isso, retomando o patusco pessimismo de um velhote lisboeta precisamente do Restelo. Aos séculos que a Igreja C.A.R. tem destas coisas e arranja sempre maneira de lhe pagarem a obra. Olhem para as catedrais à escala do tempo em que foram feitas e digam lá se não davam um estalo maior na cara das pessoas, no lado da vista.

 

Estórias de assaltos aos quadradinhos

 

 

Os interesses de dois ou três Estados, impuseram a existência internacional de uma anomalia que dá pelo pitoresco nome de Bósnia-Herzegovina, coisa a lembrar lutas de clãs, Narodnas Obranas, roubos de gado, bombistas  e assaltos na estrada. País retalhado de um hipotético distrito arrancado à Sildávia e um outro arrebatado à Bordúria, este foco infeccioso situado em pleno coração da antiga Jugoslávia – outro absurdo erguido pelos vencedores de 1918 -, serve perfeitamente, à semelhança do Kosovo, para criar clivagens regionais que potencializam conflitos sangrentos e divisões dentro da U.E. Coisa de pouca dura, espera-se… 

 

Aguarda-se também a saída das forças portuguesas desses antros de narcotráfico, sendo mais úteis em países onde a presença nacional é respeitada e querida pelos locais. Nos PALOP e em Timor-Leste, por exemplo.