Não sou uma pessoa torpe e mal intencionada, como sugeriu um comentador. Quando disse que Ratzinger era um modelo de falsidade e hipocrisia, disse o que sinto. Posso, no entanto, retirar estas palavras e amenizar um pouco, dizendo que não o considero um modelo de verdade e seriedade. Por tudo o que tenho lido sobre ele, pelo que ouço e pelo que sinto.
Ratzinger é, infelizmente, um homem de muita influência no mundo. Mas isto não é razão para que seja considerado um santo, coisa que não é, nem de longe nem de perto. Aquando das comemorações de dois mil anos de cristianismo, o cardeal Ratzinger elaborou um documento doutrinário que, segundo Leonardo Boff, é absolutamente coerente com o sistema romano, férreo, implacável, cruel e sem piedade. Um sistema totalmente fechado, posse privada da hierarquia vaticana da igreja, sem qualquer abertura ás crenças dos outros e um obstáculo intransponível a qualquer tipo de ecumenismo. Diz ainda que qualquer tentativa do Vaticano nesta área do ecumenismo é uma farsa e um engodo. Os apelos que o documento faz à comunidade do diálogo pode considerar as pessoas iguais em dignidade mas desiguais em termos de condições objectivas de salvação, isto é, ninguém fora da igreja, mesmo que pertença a outras crenças, tem salvação possível.
Um sistema totalitário, imbuído de rigidez fundamentalista e sem piedade, fechado em si mesmo como qualquer outro totalitarismo, que só produz exclusão e desesperança. A estratégia do documento visa a desmoralização, a diminuição e a humilhação, até à completa negação do valor teologal das convicções do outro. P lema é submeter os outros, desmoralizá-los ou destruí-los. O documento de Ratzinger nunca se refere ao amor, não anuncia a centralidade do amor nem a importância dos pobres, dos humilhados e ofendidos. A fé sozinha não salva, diz Leonardo Boff, a fé só salva quando informada de amor. Diz ainda que o documento ludibria os seres humanos negando-lhes a verdadeira mensagem de Jesus e apresentando um deus que emerge do documento como um deus fúnebre, que morreu há muito tempo. Tudo para manter ferreamente o poder ditatorial da hierarquia vaticana em todos os actos e aspectos religiosos, políticos, económicos, financeiros e sociais da igreja romana.
Ratzinger disse um dia: “ Os fiéis são pessoas simples que é preciso proteger dos intelectuais”. Uma frase inteligente de uma pessoa inteligente, mas profundamente insultuosa para os católicos e para a rica tradição intelectual da igreja. Ele sabe bem o que quer dizer. A igreja católica é necessariamente conservadora, tem de ser imutável, pétrea, e o ligeralismo católico não faz qualquer espécie de sentido. Por isso ele é contra tudo o que cheire a qualquer coisa que tente quebrar a cristalização do pensamento emanado do catacúmbico vaticano.
Um documento secreto do Vaticano, denominado “Crimen Solicitationis”, de 39 páginas, escrito em latim em 1962, que o cardeal Joseph Ratzinger transformou para melhor eficácia, terá sido utilizado por ele durante 20 anos para instruir os bispos católicos sobre a melhor forma de ocultar os crimes sexuais contra crianças, tornando impunes os criminosos e desqualificando as inocentes vítimas. Este documento ameaça com a excomunhão quem violar um juramento de sigilo absoluto, imposto á vítima, ao acusado e às testemunhas. Um documentário intitulado "Abusos sexuais e o Vaticano” foi transmitido pela BBC e pelo canal Odisseia nos fins de Novembro, o qual deixa bem patente o quão criminosa é a igreja católica e o Vaticano, não denunciando os seus membros pedófilos e tudo fazendo para conseguir a sua impunidade. A narração foi feita por Golm O’Gorman que aos 14 anos foi violado por um padre.
Com tudo isto e milhões de coisas semelhantes na pouco recomendável história da igreja, ninguém tem o direito de me chamar torpe e mal intencionado, ao pretender denunciá-las, para bem da humanidade.
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