O paraíso socrático na bancarrota

Os sinais começam, ainda envergonhados, a vir à luz do dia.

 

Hoje no (i) Martim Avilez Figueiredo já lhe coloca o ferro a arder.  "…é indispensável que os portugueses se insurjam. Portugal está na bancarrota e ninguem parece preocupado. Devia estar. A situação é dramática"

 

Ontem já Vítor Constâncio, a "caixa de ressonância do governo" veio anunciar, como quem não quer a coisa, que o aumento de impostos é  inevitável.

 

A propaganda do governo, está a passar à segunda fase da sua política de gerir as expectativas. Face à verdade, nua e crua, põe os segundos tenentes a anunciar a má nova, enquanto Sócrates e o Teixeira dos Santos vão mudando o vocabulário.

 

Aumentar os impostos eis a solução  inovadora proposta por Sócrates, quando se sabe que já são os portugueses os europeus a quem é exigido o maior esforço fiscal.

 

O país está a chegar a uma situação onde nunca chegou, e não culpem só a crise. O PS está no governo desde 1996 (com a ausência de 2,5 anos).

 

O buraco são sete  mil milhões. Faltam milhões de euros para as despesas do Estado e faltam ideias para resolver os 8% do défice. O desemprego não pára de subir, como se vê, diariamente, com as falências das empresas e já vai em 10%, se é que não ultrapassou (basta contar com quem não tem emprego mas não conta para o desemprego).

 

A dívida pública é de tal maneira monstruosa que o governo nunca fala dela, mas é tão real como Sócrates perder grande parte da credibilidade, com as trapalhadas em que se envolve (ou em que se deixa envolver).

 

 O governo jura que não vão subir impostos mas o governador do Banco de Portugal dá uma ajuda : não há alternativa. É ultrajante. Sócrates não encontra solução para Portugal. Mas se Sócrates não encontra solução para o país e é primeiro-ministro, quem encontra?

 

Na Europa discute-se relançar a economia com uma poderosa reforma fiscal – pôr tudo em causa. E há mais alternativas que na Europa se discutem, mas que não passam pelos TGVs e por mais autoestradas. Nenhuma fará milagres, mas é criminoso ver o país à beira da bancarrota e fingir que não se passa nada!

Varabilidades

TEXTO DE FRANCISCO LEITE MONTEIRO

 

A media em geral continua a dedicar largo espaço à investigação do já famoso caso “Face oculta” em que o ex-ministro socialista do governo de Guterres, Armando Vara, é sem dúvida a “estrela” dentre os vários arguidos, prosseguindo a investigação das suas habilidades, a cargo do Juízo de Instrução Criminal de Aveiro. A notícia destas “varabilidades” traz à mente uma outra que foi de primeira página, no Público de 10 de Janeiro do ano passado, quando Vara deixou a Caixa Geral para assumir o cargo de Vice-Presidente do BCP. Então fazia depender a aceitação do novo cargo da condição de lhe ser concedida uma licença sem vencimento, sem abdicar do cargo na Caixa Geral, assegurando assim um “oportuno” regresso à Caixa. Qual terá sido o desfecho dessa “varabilidade” – lembra o dito popular britânico “Have the cake and eat it…” quase o mesmo que tirar partido do “melhor dos dois mundos”… – não terá sido clarificado, como também subsistem dúvidas sobre a obtenção de uma outra “maravilha” que veio a público. Não se sabe bem como, Armando Vara obteve uma Pós-Graduação em Gestão Empresarial no ISCTE e só bastante mais tarde viria a concluir uma licenciatura na famigerada Universidade Independente, a mesma universidade onde o seu amigo Sócrates – com quem mantém contactos telefónicos frequentes, como se sabe – obteve uma licenciatura em engenharia, que também deu brado.

Sem especular, importa aguardar a conclusão da investigação e que, oxalá, não tarde o esclarecimento público de toda a verdade e a justiça seja exercida.

 

Mulher a crescer, machismo a tremer

 1. Introdução em forma de fandango

 

A temática é imensa. O debate com a minha equipa nunca mais acaba. Porém, encurralo as ideias para começar apenas com a do título. O meu título é uma hipótese. Uma hipótese depreendida da experiência da minha pesquisa, como é habitual. Pesquisa que analisa crianças. Análise de criança necessária para o adulto entender o seu contexto. Adultos a mudarem vertiginosamente nos últimos tempos. Na década do Setenta do Século XX, estudei no Chile, com uma equipa formada por mim, por Blanquita Iturra, analista, e Nilsa Tápia, Assistente Social, um grupo de mil mulheres casadas a viverem nas suas casas, objecto da minha investigação. As casas serviam para cuidar dos pequenos e alimentá-los. Lares dominados pelos homens, maridos ou não, pais das crianças ou não, mas lares dominados contra o prazer das mulheres. Ainda me lembro da mulher que falava do seu lar e do orgulho que sentia por ele e pelo seu homem ser capaz de lhe dizer o que fazer. A raiva que sentia, ao mesmo tempo, porque tudo o que ela fazia, não era da sua satisfação. Mulher a não saber era do amor, mas sim da servidão. Mulher com raiva do marido, mas com o orgulho de sentir que tinha um homem que mandava e entendia o mundo.

Esse que ela parecia não perceber. Mulher que falava enquanto as outras senhoras do grupo calava a olhar para o chão. História já referida por mim num outro artigo deste jornal.

Trinta anos depois, esta história aparece diferente no meu sentir. Faz-me pensar que o homem procurava amparo na mulher e vice-versa. Homem que não queria ter mais uma outra voz em casa a dizer o que fazer. Homem criado para governar o lar com palavras, sem entender as horas vazias da mulher mãe, da mulher empregada de cozinha, da mulher varredora do chão, lavadora de roupa, aquecer a cama à espera do homem que quer amar. Homem criado para mandar e aparentemente sábio na sua autoridade. Eis a filiação da infância cujo estudo me interessa e absorve. E, enquanto penso, sinto a solidão do homem, pai, companheiro, culturalmente autoritário. Machismo, dirá o leitor? Machismo, dirá a leitora? Machismo, digo eu, da mulher e do homem. Mulher a crescer, a entender o mundo além do lar. Homem habituado a ser apenas ele a perceber o mundo fora do lar. Batalha travada faz séculos e ganha hoje em dia pela luta feminina. Feminismo, onde não se dá luta nenhuma pela masculinidade. Ideia esta, a da masculinidade, certa e segura durante séculos e em várias culturas. Até que um dia a economia faz tremer, faz tremer a sociedade e o homem perde a arrogância pelo desamparo no qual fica. Desamparo que o homem sofre por parte da mulher, que entra na economia. Esse domínio definido sempre como masculino. Enganado ou não. Certo ou não. Festa ou drama. Triunfo ou derrota. Dança espalhada pelo mundo, quer no fandango, quer na lei, quer na doutrina: da costela do barro do homem, foi feita a mulher, diz o Génesis da Bíblia. Da licença do marido para a mulher trabalhar, dependia a liberdade da mesma, dizia o Código Civil Napoleónico, organizado como Código Civil Português em 1867, reformulado nos anos setenta do século XX, para autonomizar a mulher. Da orientação do homem depende a opção da mulher, tem dito o Código de Direito Canónico de 1917 e 1983; e a Doutrina Católica que governa grande parte do mundo, regulamenta a interacção social e em consequência as formas sociais de entender. Recebes uma mulher, não uma escrava, costuma dizer a mulher para o homem. Vou a casa preparar a comida do meu homem, oiço dizer as mulheres pelos vários sítios onde estudo os seres humanos e as suas ideias, faz já trinta anos.

 

2. Mulher a crescer

 

Mulher a crescer? Essa, uma entidade adulta? Sim senhor, mulher a crescer desde o minuto que começou a entender que sem o seu contributo económico, a casa, o lar e as crianças, não conseguiam serem sustentadas apenas com o trabalho ou contributo de um dos membros do lar: largamente o masculino. O masculino mais adulto, o masculino mais velho. Trabalho produtivo, porém, criado para uma mentalidade específica, a mentalidade que sabe comandar e tem tido autoridade ao longo de milénios. A nossa cultura greco-judaica, cristã ou não, escolheu a mulher para ser um troço da economia reprodutiva de seres humanos. Seres humanos a serem dados à luz, como Teresa Joaquim debate em 1983 e dedilha de forma mais aprofundada em 1997, como Berta Nunes analisa em 1997 e Lígia Amâncio distingue em 1994. Forma de trabalho que coagem a mulher para um canto da casa, tal e qual comenta Pierre Bourdieu em 1998: Aristóteles entendia que todo ser penetrado não tinha direito a voz, fosse masculino ou feminino. A mulher, esse ser, destinado à penetração de forma concebida pela fisiologia que nos governa, tem continuado a existir relegada ao domínio do doméstico. Quer nos factos, quer no pensamento social. Prova é, não apenas o quotidiano das pessoas no Ocidente, bem como as estatísticas a dizerem a primeira mulher Primeiro-ministro da Inglaterra, a primeira mulher Presidente duma República da Europa, da República do Chile e outros casos. Como nas Presidências dos Bancos, das industrias, das Reitorias das Universidades, na direcção dos hospitais, na gestão dos trabalhos da terra. Como Madame Curie, vestida de homem para assistir à Universidade, a perder o seu nome pelo casamento. Como as mulheres todas a lutarem pela igualdade com o homem, a começar pelas que reclamavam o direito a voto. Mulher a invocar a declaração de princípios da Independência dos U.S.A, escrita por Thomas Jefferson(1775):

Todos os seres humanos nascem livres e iguais Mulher a orientar o lar a partir da lei do divórcio. Casos históricos e públicos. Os mais cobiçados pelas pessoas que gostam do poder para controlar o que entendem, entendam ou não; os mais desprezados pelas pessoas que procuram entender que a legitimidade da autoridade está no entender com amor e sem poder… Mulher a crescer, porém, entre duas formas de perceber a feminilidade: o pensamento social patriarcal, o pensamento social feminista. Feminismo construído como movimento, feminismo fabricado pela economia que nos governa desde 1979, essa de Milton e Rose Marie Friedman e os seus discípulos da escola de Chicago. Escola de Chicago estendida pela Europa, pela África, pela América Latina, especialmente pela União Europeia a concorrer com a união mais poderosa dos Estados Unidos de América. Mulher que cresce, queira, saiba ou não, dentro do pensamento até faz pouco, masculino apenas, do tecido social que fabricamos. Mulher a crescer e deitar culpas ao homem que a enclausurou, reduziu a reprodutora dele e das crianças. Mulher que cresce sem o norte milenário do pensamento masculino, introduzido no seu pensar faz trinta anos, ou mais. Pensar que não a sua prática tem sido apenas a de orientar o lar portas adentro. O homem, a governar o mundo de portas afora. Fêmea crescida a presa, ao som da economia que faz dançar aos acordes, da conta bancária, dos juros, do carro a comprar, das jóias a exibir caso for preciso, do preço do dinheiro, do valor do que sabe fazer e que aprendeu, de forma nova, dentro do seu grupo social. Mulher masculinizada em esta gestão a concorrer com as ideias patriarcais que agora também possui. Ideias a bater na antiga forma patriarcal Ocidental e Oriental. Mulheres a crescerem e mudarem de forma e maneira, que nós homens, e várias mulheres ainda, acabam por as não entender como merecem. Nem eu, que tenho observado o caso e estudado com as já citadas autoras. Que, como pai e marido eu próprio, ficara sempre imbricado no meu entender cultural da vida, traído pela educação a nós transferida desde a infância. A nós. Os de todos os sexos e orientações. Filiação a dar origem a uma infância que percebe melhor por não ser geração de transição, como a nossa.

 

 

3. Machismo a tremer

 

Um conceito delicado, este de machismo usado neste texto. Machismo é um sentimento que gosto definir como o de mandar nas emoções da pessoa que se penetra, seja física, seja idealmente. Com o corpo ou com as ideias. Sentimento de dominação do espaço social e dos afazeres. Comando sobre a lei costumeira e a lei positiva. Sentimento necessário, como o etnocentrismo, de pensar que somos os melhores, os que mais sabemos, os que entendemos o contexto e o definimos. Machismo, conceito aplicável a toda idade e toda relação entre seres humanos, quando há um que diz e ao outro toca ver, ouvir e calar. O machismo que treme, porém, não é o masculino do homem. É o masculino da economia que nos vê agir e nos manda comportar. Os homens, habituados à forma patriarcal do comportamento social, ficam perdidos. Bem gostam de serem gentis e sedutores, oferecerem flores e carícias, visitarem, convidarem, apalparem… A resistência é dura. A sedução é um comportamento distribuído de forma igual entre as pessoas. Até é difícil, num texto como este ou noutros semelhantes que tenho escrito, diferenciar entre homem e mulher. Entre heterossexual, bissexual, andrógino e outras classificações semelhantes. A partir de Sábado 16 de Setembro do ano 2000, no dia que a Holanda aprovou a lei de matrimónio entre pessoas do mesmo sexo lei justa e largamente esperada por tantos e em tantos países, como invoca o jornal que a anuncia –o machismo deixou de ser o privilégio dum sexo para passar a ser um conceito passível de ser aplicado a todos os que, na relação emotiva, comandam sem autoridade e com força subversiva. Blanca Iturra, Coordenadora del Programa de Reparación e Atención Integral en Salud y Derechos Humanos, PRAISE, no seu gabinete de Hospital. Este é o machismo que levou a muitos seres masculinos a perderem as pessoas femininas das suas vidas, por não terem entendido a liberdade real que essa pessoa companheira, merecia. Pessoa companheira, a não entender essa liberdade; pessoa que deixa de ser companheira ao sentir que a sua liberdade não é que lhe esteja fechada: é que a não entende. Não entende como ser utilizada. Não entende como acompanhar e completar o outro ser que, no seu ver, a limita, a fecha, parece ser abandonada em casa. A viver essas horas mortas de criar uma pequenada que mama, come, chora, procura meios para explorar a vida. Meios que apenas encontra no adulto que fica com essa criança, em casa. Seja uma ela ou um ele; seja uma mãe, um pai; Sejam duas mães, dois pais, avôs, uma empregada ou nana. O machismo está a tremer e nós, a ficarmos sós, desamparados. O sentimento social mudou e nós, adultos de hoje, criados na infância de ontem, não sabemos qual o modelo para nos orientarmos ou para dar apoio à geração seguinte, essa que pede conselho. Qual é o que podemos dar? Será preciso reler Tomás de Aquino, Adam Smith, Milton Friedman? Autores por tantos ignorados e, no entanto, por todos praticados, saiba-se ou não. Ou ver Johaness Vermeer, pintor ao óleo, Século XVII, Holanda, e lembrar?

4. Coda final.

Será que o leitor vive este sentimento? Sentimento que é um feito observado por mim durante trinta anos em Continentes e gerações diferentes. Gostava de lhe dizer que as temáticas sobre a emotividade do nosso Século XXI, são muito difíceis, são apenas uma exploração do agir da transição que começa a aparecer junto a nós. Nos tempos da nossa juventude, nos tempos da nossa maturidade, nos tempos de que falei nesse artigo do mês de Junho e que nunca mais me abandona, como ideia central para entender a epistemologia da criança. O machismo é um elo central a analisar para entender a criança: ficamos a saber mais de nós, dos nossos aparentes fracassos individuais e o seu contexto. Factos resultado apenas duma mudança na forma de ser, no acontecimento do dia a dia, das formas de amar, das formas de gerir os raros recursos que a economia nos permite. Há quem diga que é o Governo, há quem diga que é o Diabo, ou Deus. Ninguém quer ver dentro de si para entender que a História mudou e alastrou à individualidade na sua mudança. Mudança normal quando lemos do passado, difícil de entender na nossa época. Essa que nos faz, forma e reforma. A filiação das nossas crianças é heterogénea. Apenas cabe aceitar. Sem raiva. Como essa mulher da minha história, que nos começos dos anos setenta, acabou por gritar no meio das outras: quem m
e dera que a minha casa desaparecesse, que as suas paredes esbatessem e eu possa vir para rua…a fazer…o quê, não sei, mas deixar esse lar que me asfixia
. Era a mulher de Ventura, Rosa, de Huilquilemu, perto de Pencahue, em Talca, Chile. Mulher que foi para a rua, e na rua ficou só. A aprender até hoje, o como viver a vida gerida por ela, sem mais ninguém. Só. No dedilhado da suite de Bach, com som de fandango. Queira o leitor responder.  A Minha resposta é simples: Afrodita o Venus de Milo, representa o que muitos de nós ainda procuramos

Bibliografia.

Amaule, El, Jornal em linha, Região do Maule, Centro do Chile:Entrevista Dra.Blanca Iturra de Toro.

Amâncio, Lígia, 1994: Masculino e Feminino. A Construção Social da Diferença, Afrontamento, Porto.

Aquino, Tomás de, (1267-1273) 1969: Summa Teológica, University of Nôtre Dame, Indiana.

Bourdieu, Pierre, (1998) 1999: A dominação masculina, Celta, Lisboa

Friedman, Milton e Rose, (1979) 1980: Liberdade para Escolher, Europa-América, Lisboa.

Franklin, Benjamin, 1775: Declaration of Independence, varias edições.

Iturra, Raúl, 1972: Elementos para el Estudio de la Movilización Campesina, CEAC, Universidad Católica de Chile, Talca.

2000: O saber sexual das crianças. Desejo-te, porque te amo, Afrontamento, Porto

Junho, 2000: Os meus pais não são pessoas, in A Página da Educação, Profedições, Porto.

Joaquim, Teresa, 1983: Dar à Luz, Dom Quixote, Lisboa

1997: Menina e Moça, Fim de Século, Lisboa

Nunes, Berta, 1997: O Saber Médico do Povo, Fim de Século, Lisboa.

Smith, Adam (1776) 1874: The Wealth of Nations, Murray. A., Londres. Há versão portuguesa.

Vandermeer, Johannes, 1665, pintor Nêerlandes

 

Estorietas de rufar de tambores de guerra

 

 Pelos mais recentes relatórios que na imprensa surgiram, as clivagens entre os militares do Reino Unido e dos EUA foram profundas, logo desde o início da Guerra do Iraque. Estas divergências têm antecedentes bastante conhecidos e para não irmos muito longe, bastará recordar o gáudio dos oficiais ingleses perante a tremenda derrota sofrida pelos G.I. às mãos de Rommel, na batalha do Passo de Kasserine. Para citarmos outro exemplo, a inépcia do comandante-em-chefe Aliado, o sr. Einsenhower, provocou uma investida das forças da Wehrmacht na Bélgica (Dezembro de 1944), quase comprometendo a viabilidade da Frente Ocidental. Montgomery zurziu violentamente na capacidade de discerrnimento dos seus aliados de além-Atlântico e as considerações tecidas pelos comandantes de campo ingleses, em relação à capacidade dos mastigadores de chewing-gum, foram tema de conversa nos clubes militares londrinos ao longo de décadas.

 

 

 

Uma poderosa logística, onde não faltam loções para a barba e quiçá depilatórios, oferece imensas possibilidades de contentamento pessoal às tropas em campanha. No entanto, para o sucesso, os EUA sempre recorreram muito legitimamente à força da sua indústria, carpetes de bombas, desfolhamento maciço, o 30 para 1. Por vezes, poderemos ser tentados a pensar no que teria sido a Guerra de África, se os aliados americanos tivessem facultado a Portugal uma ínfima parte do equipamento desperdiçado no Vietname e que era necessário às nossas forças?

 

Não se duvida da valentia e abnegação do soldado americano, mas este frenesim em tudo controlar através de um descarado exibicionismo, é simplesmente caricatural.

 

Quem não se lembra das públicas e grosseiras reprimendas do general Schwarzkopf  ao comandante-em-chefe do exército saudita, Kalhid bin Sultan durante a 1ª Guerra do Golfo? O truculento germano-yankee, não suportava a ideia de poder ser sublimado aos olhos dos soldados árabes, por um "cameleiro qualquer" que para cúmulo, era um príncipe, um pecado mortal. In God We Trust!

 

Estórias que a História não se cansará de repetir. Agora, os ingleses provam do remédio que costumavam administrar a certos Aliados. É a lei das compensações. Bem feito!

 

 

 

 

Contos proibidos: Memórias de um PS desconhecido. A editora «Perspectivas & Realidades» e a resistência ao Partido Comunista

continuação daqui

 

«A editora Perspectivas & Realidades, hoje propriedade de João Soares, foi constituída por escritura notarial de 24 de Setembro de 1975, com um capital de 300 contos dividido em partes iguais entre João Soares e Victor Cunha REgo. Era inicialmente co-dirigida por Bernardino Gomes e Ivone Cunha Rego, sendo o seu primeiro lançamento «O Triunfo dos Porcos», de George Orwell. Mas quando este conhecido livro foi publicado, já o PCP estava em declínio e as «P & R» acabariam por se transformar essencialmente, nos anos seguintes, na editora dos livros sem mercado dos principais dirigentes do PS, com destaque para os de Mário Soares. (…)

No seguimento da Conferência de Estocolmo, aumentaram as delegações que vieram a Portugal exprimir o seu apoio ao PS, sendo os apoios financeiros normalmente canalizados através da já referida conta na Holanda. Por vezes, contudo, o dinheiro vinha das maneiras mais improvisadas, tendo eu assistido, em casa de Tito vde Morais, a uma entrega por parte de uma delegação sueca que acabara de chegar e que, de repente, começou a triar maços de notas dos bolsos de cada um dos membros da delegação. Nessa altura ainda Carlos Carvalho era tesoureiro do Partido, mas era assessorado por José Manuel Duarte. A partir de certa altura, Carvalho, que fora fundador do PS em Bad Munstereifel, desapareceria para sempre da cena política, passando essa tarefa para Fernando Barroso, que acabara de chegar de Moçambique, onde vivera durante muitos anos. A partir de então Fernando Barroso ocupar-se-ia desse cargo, assim como da administração financeira das Fundações ligadas ao Partido, até ao IV Congresso em 1981. O secretário-geral tinha entretanto saído do Governo e ao ocupar-se do dia-a-dia do PS, compreendera a importância das finanças, que controlaria rigorosamente através do seu cunhado. Uma das medidas adoptadas nesta área seria a progressiva descapitalização da conta na Holanda, movimentada por José Neves e a abertura de uma conta pelo próprio secretário-geral no Bank fur Gemeinwirtschalf em Frankfurt. Esta conta a que Gunter Grunwald chamaria «contas especial do Mário»  só seria encerrada anos mais tarde e, pelo que consegui apurar, movimentaria somas consideráveis. (…)

Naquele período, a resistência ao PCP representava um verdadeiro sorvedouro de dinheiro, que Mário Soares ia mandando entregar  por intermédio dos seus colaboradores. 

E bem melhor do que a minha memória, os meus registos mostram as seguintes entregas em dinheiro para acções de resistência ao PCP: a 23 de Setembro, 300 contos depositados na conta da Associação António Sérgio e, nesse mesmo dia, 1000 contos entregues a Gustavo Soromenho para o jornal «A Luta». No dia 27 de Setembro, 1000 contos entregues ao cunhado de Mário Soares, José Manuel Duarte. Depois, ao tesoureiro do PS entregaria 1000 contos a 30 de Setembro, 2000 contos a 28 de Outubro e 500 contos a 11 de Novembro. A 20 de Novembro, seriam entregues quinhentos mil escudos mais. No rescaldo do 25 de Novembro, certamente para pagar despesas pendentes, seriam entregues a 1 de Dezembro 1800 contos à Administração Financeira do PS e, a 4 de Dezembro, mais 500 contos ao tesoureiro Carlos Carvalho.

Evidentemente que não conheço a totalidade do conteúdo das caixas de biscoitos, nem os movimentos das contas de Frankfurt e da Holanda, nem, tão-pouco, outras verbas relacionadas com este período, oriundas dos americanos ou as que o ex-presidente Carlos Andres Perez disse ter entregue a Mário Soares.  Consegui, contudo, apurar que antes da reunião de EStocolmo Rolf Theorin mandaria transferir para a conta na Holanda mais meio milhão de coroas suecas. Também o PSD da Dinamarca enviaria mais 304 690$00 em Março e 29 734 coroas em Setembro.

 

 

Pimenta no cu dos outros para nós é refresco

"Existe uma separação entre o foro judicial e o foro político, mas nada impede uma acusação (e eventual condenação) na ordem política, porque se trata de um juízo totalmente distinto e independente da ordem penal (…) Num país democraticamente maduro, o que estaria em discussão era a substância do problema (ou seja, a censurabilidade política dos factos em causa) e não a legitimidade ou pertinência da apreciação da conduta do ministro do ponto de vista da sua responsabilidade política."

Vital Moreira em 2002 e a propósito de Paulo Portas, citado por Pedro Lomba no Público de hoje.

Isto está a passar das marcas

Na Sabado, o Gonçalo Bordalo Pinheiro  ( transcrição livre )

 

"Isto está a passar das marcas" diz Sócrates. "Isto" é um processo de corrupção que está ser investigado e que envolve vários socialistas e um grande amigo, Armando Vara. "Isto" são os meses a fio em terá sido escutado sem autorização do Supremo. "Isto" é o facto de não ser arguido e ter visto as suas conversas privadas transcritas. "Isto" é a impunidade com que se persegue o primeiro-ministro.

 

No entanto, antes do linchamento dos procuradores e dos juízes, responsáveis por mais uma campanha negra, valeria a pena esclarecer algumas das queixas de José Sócrates.

 

Em primeiro lugar ele não foi envolvido nas escutas. Envolveu-se ao manter uma relação com um suspeito de corrupção. Em segundo, ele não foi escutado meses a fio – quem foi escutado foi Armando Vara, Sócrates aparece nas escutas por falar regularmente com alguem suspeito de participar numa "rede tentacular ".                                                 

 

Em terceiro, as suas conversas privadas não foram transcritas – o que foi transcrito foram as conversas que um juiz considerou indiciarem um crime. Finalmente, isto não é outra perseguição – é mais um caso judicial em que o nome de Sócrates aparece envolvido e em que a sua conduta é questionável.

 

Isto, sim, começa a passar todas as marcas!

A máquina do tempo: Gualdino Gomes – uma operação de resgate (2)

(primeira parte aqui)

 

 

 

 

 

Caricatura de Gualdino Gomes por Rafael Bordalo Pinheiro (1900).

 

Por volta de 1913 ou 1914, espalhou-se um dia pelos cafés da Baixa de Lisboa a notícia da morte de Gualdino Gomes. Quem conta é Raul Brandão: «o Ratola, velho companheiro na Biblioteca, se apressou a cumprir o seu dever de amigo, de camarada e de poeta. O Ratola é um funambulesco, balouçando-se dentro de uma sobrecasaca empertigada, luneta de tartaruga e ar de quem cumpre sempre uma missão importante – até quando vai à retrete. Subiu as escadas do prédio onde morava o morto (tinha lido o número da casa no Diário de Notícias), relembrando algumas frases de efeito… Abriu-se a porta do quarto onde o morto, coberto com um lençol, deitava já um cheiro adocicado – a cadáver e a aguardente. Duas mulheres, de preto, choravam ou rezavam. Ratola compenetrou-se, assoou-se com solenidade e disse para a que supunha ser a viúva: – Minha senhora: os meus sentido pêsames… Ele foi o que se chama um grande boémio – mas muito bom rapaz. O vulto de preto ergueu-se, protestando com dignidade ofendida: – Meu marido, senhor, nunca foi um boémio! Meu marido foi um modelo dos esposos e dos retroseiros! Mas o Ratola, que se sentia também magoado no seu valor e no seu conhecimento da vida, obtemperou: – Ora essa, minha senhora! Eu conheci muito bem seu marido e fui companheiro dalgumas borgas literárias… Um boémio! – Oh, meu Deus! Meu marido um boémio!… E, um a teimar que sim, a outra a protestar que não, estiveram quase a pegar-se diante do cadáver – até que empurraram o Ratola pela porta fora. – Eu conheci-o! O Ratola não conhecera aquele… Houvera engano. Quem morrera fora outro Gualdino Gomes, brasileiro», pois o nosso Gualdino, estava a essa hora na Biblioteca Nacional a encher verbetes, com o olho do Raul Proença em cima.

 

Não abundam, infelizmente, as fontes escritas sobre este homem que pouco escreveu e muito falou. Por isso, colhemos as migalhas de informação que fomos colhendo ou que, de uma forma ou de outra, nos chegaram. Por exemplo, Raul Proença agradeceu, no prefácio do primeiro volume do seu monumental Guia de Portugal, a assistência «paciente e crítica» de Gualdino na gestação daquela sua obra. Porém, o texto mais eloquente sobre a personalidade de Gualdino Gomes é, quanto a nós, as palavras da dedicatória do grande Aquilino Ribeiro, no seu livro Estrada de Santiago, palavras que transcrevemos na íntegra:

 

«Com a devida vénia de quem o sabe avesso à publicidade, peço licença para lhe dedicar este livro que leva um nome pomposo da arquitectura celeste e não passa de um nicho das almas, desses nichos de singela e cândida fábrica que velam à beira dos caminhos. No ofício das letras, tão mofino e miserando em Portugal, que ou a pena se parte, se acanalha, a guia fadário ou o Espírito Santo, a sua sombra, Sr. Gualdino Gomes, é, se volvo os olhos à retaguarda, uma das que encontro sobre os meus passos aprazível e tutelar. Vejo-o lá longe, no meu começo, apadrinhando o Jardim das Tormentas com a astúcia e a bondade discreta dum filósofo de Eleia. V. , que conhece todos os livros e ninguém vê com um livro, metera-o no bolso do jaquetão e dias a fio subiu e desceu o Chiado, à espreita a imagem verde, flamante, que lhe alegra a capa. Por este meio singular e outros, alvoroçou a curiosidade dos que o conhecem – ia dizer chamou a atenção da confraria literária em que capricha manter-se irmão leigo. Quando em Paris fui informado, enterneci-me. E, eu lhe digo, nessa circunstância, o impenitente perdulário do espírito, o amável zombador, que em si deslumbram, ofuscaram-se ante o homem de ânimo benigno, talhado dir-se-ia sobre um padrão de Anatole, se espontaneamente, visceralmente não fora essa a sua índole, muita sua por obra e graça só de Deus. Certo e ser V. como Sócrates, por Platão comparado aos Silenos que se viam expostos nas oficinas dos escultores, com uma gaitinha nos dedos. Ao abrir as duas partes de que se compunham, apareciam estátuas de divindades. Como ele, herdou de Mársias a veia faceciosa. O sátiro tangia frauta; a Gualdino basta a palavra para fascinar quem o ouve. Como ele, tem horror à escrita e joga ao vento, com um desapego soberano, o oiro de suas vozes e pensamentos e até o veneno subtil dos seus juízos. Como ele, ainda, é o catequista dos incipientes. Por todos estes argumentos que brotam do cérebro ou sobem do coração , eu lhe devia a fruste oferta deste livro. Muitas vezes, à janela, nas noites de lua baça, quando a Terra, em redondo, parece a boca dum cesto enorme, suspenso ao firmamento pelo aro luminoso da Via Láctea, em que tudo soçobra, homens, coisas e loisas, metia a mão no seio a procurar. Achava espinhos, remorsos, uma ou outra flor imarcessível, e a gente que aí vai, alguma celestial e sobre-humana, da muita que eu via andando, andando Estrada de Santiago fora. Digne-se, Sr. Gualdino Gomes, a ceitar a pobre homenagem, e, de meus ousios em escalar o céu, a Deus prestarei contas mais confiado.»

 

Gualdino Gomes é por muitos considerado um «escritor menor» e deste modo displicente atirado para as catacumbas do esquecimento. Vimos já que ele próprio se considera um «não-escritor.» Como bem diz Raul Brandão, «a sua mocidade irrespeitosa prolongou-se até aos cabelos brancos» e sempre preferiu arranjar mais um inimigo a perder a oportunidade de desferir uma das suas estocadas de ironia ácida. José-Augusto França define-o como uma «curiosa figura de erudito e de «blagueur» do Chiado.» Como podemos ver pelo testemunho de Correia da Silva e pelas palavras de Aquilino Ribeiro, a despeito da sua persistência na crítica mordaz, soube conviver com os mais jovens e ajudá-los sempre que lhes reconhecia valor e mérito. Um dos testemunhos orais que nos chegaram, foi o de Manuel da Fonseca, um dos jovens que teve o privilégio de o conhecer, e que afirmou ser Gualdino «um conversador fascinante.» E Manuel da Fonseca, além de extraordinário escritor, foi  também um emérito conversador e contador de histórias. Não esqueçamos o testemunho de Beatriz Costa que, num livro autobiográfico disse  só ter aprendido a ler aos 13 anos de idade e sozinha e que iniciou a sua alfabetização à mesa da Brasileira, rodeada por homens como Almada Negreiros, Gualdino Gomes, Aquilino Ribeiro e Vitorino Nemésio.

 

 

Balas de Papel foi o título de quatro opúsculos panfletários que nos legou, projecto de uma revista bimensal que durou dois meses, entre Novembro de 1891 e Janeiro 1892. Tratava-se de uma publicação de sátira política, social e cultural, cuja inspiração pode ser encontrada nos textos das Farpas e de Os Gatos, embora as diatribes não possuíssem a mesma riqueza formal dos modelos. No primeiro número, salienta-se a dedicatória a Fialho: «Ao Fialho de Almeida/Preito de vassalagem ao maior de todos os escritores portugueses/Saudação vibrante de entusiasmo ao escarnecedor justiceiro e temível dos Gatos.» Como sabemos, uma ironia de Fialho sobre um soneto seu ter-lhe-ã bloqueado a veia criadora. Pelo menos, essa é a desculpa que dá ao longo dos quase sessenta anos que se seguiram para quase nada ter publica
do
, pois além desses pequenos folhetos, escreve ao todo pouco mais de uma dúzia de artigos, dispersos por revistas e jornais. Publica também um soneto na Seara Nova, para além desse tal outro que, ridicularizado por Fialho, é, segundo Gualdino a causa próxima da ruína da sua carreira. É talvez muito pouco para justificar uma vida que se prolongou por mais de 90 anos e em que pelos menos 70 foram votados à literatura. Porém, não esqueçamos, Gualdino Gomes é sobretudo um leitor, a sua função é ler e dar a sua opinião, nem sempre caridosa, mas sempre honesta e desassombrada. As «balas de papel» que disparou não foram muitas, mas aquelas que fez de palavras proferidas nas mesas do Café Chiado, da Brasileira, ou do Martinho, tiveram preponderante influência em sucessivas gerações de gente das letras. Algumas perduram até aos nossos dias. E, se pensarmos bem, isso já não é pouco.

 

Eis a ficha biográfica que as enciclopédias não trazem:

 

Gualdino Gomes nasceu em Lisboa, em 19 de Abril de 1857. Nesta cidade passou a infância e fez os seus estudos, licenciando-se em Letras (Curso Superior de Letras). Durante a juventude viveu algum tempo no Brasil, no Estado do Pará, regressando depois a Portugal onde foi admitido como bibliotecário na Biblioteca Nacional.Em 30 de Novembro de 1891, lançou, com Carlos Sertório, a publicação Balas de Papel, da qual sairíam quatro números. Em 1 de Fevereiro de 1894, subiu à cena no Teatro Avenida de Lisboa a revista A Tourada que Gualdino Gomes escreveu de parceria com o conceituado dramaturgo Marcelino Mesquita. Fez parte do «Grupo da Biblioteca» que, liderado por Raul Proença, esteve na base de muito do que, na época, aconteceu na vida cultural do País, incluindo a criação da revista Seara Nova (lançada em Outubro de 1921). Desse grupo faziam parte, além de Gualdino, Jaime Cortesão, António Sérgio, Aquilino Ribeiro, Raul Brandão, Afonso Lopes Vieira, Reinaldo dos Santos, José de Figueiredo, Raul Lino, Luciano Pereira da Silva.  Aquilino Ribeiro dedicou-lhe, em 1922, o seu livro de contos e novelas Estrada de Santiago, escrevendo um expressivo e comovido texto. Em1924,Raul Proença, no prefácio do primeiro volume do seu Guia de Portugal, agradeceu-lhe a colaboração prestada. Publicou em 1926, na Seara Nova, um soneto, uma das poucas obras que nos legou. Em 1927, atingiu o limite de idade, sendo aposentado do seu cargo na Biblioteca Nacional. Durante algum tempo, exerceu as funções de director-interino daquela instituição. Na passagem do seu 90º aniversário, em 19 de Abril de 1947, um grupo de amigos prestou-lhe uma homenagem realizada no Museu de João de Deus. Com 91 anos, morreu em Lisboa no dia 18 de Setembro de 1948.

 

 

 

Prós e Contras – É a credibilidade, estúpido…

Hoje juntaram-se quatro homens do Direito, para falarem do Estado da Justiça.

 

O que esteve subjacente foi, como não podia deixar de ser, o processo "Face Oculta". Nenhuma opinião consensual para além das que até o homem da rua entende. Tudo o mais opiniões diferentes. Sustentadas pela Lei, por artigos, números, pelas burrices dos deputados, enfim, um rio de saber  que ao chegar ao destino se reparte em mil braços.

 

Em relação à  "Face Oculta" houve uma vertente que ganhou prepoderância com o debate, assomou com muita frequência nos discursos dos quatro magistrados e professores de Direito.

 

A credibilidade de quem exerce funções públicas!

 

O PGR tomou decisões mas a dúvida persiste. Dois magistrados em Aveiro reconheceram índicios de crime grave contra o Estado. Quem tem razão? Na Alemanha em caso idêntico, o PGR deu a conhecer aos cidadãos os índicios do crime que levou aos tribunais o primeiro ministro kron. O povo português não merece saber o que levou dois magistrados a reconhecerem índicios de um crime grave? Ou são dois inimputáveis?

 

Depois há a questão da "relevância social". Resolvida a questão criminal, jurídica, persiste o alvoroço social, a comunicação social, a oposição política, os cidadãos.

 

Este alvoroço seria o mesmo, ou haveria alvoroço, se o político fosse outro ? Cavaco, Soares, Sampaio, Guterres, Eanes alguma vez se viram envolvidos neste circo de descrédito ? Foram muito atacados no plano político, mas no plano da credibilidade pessoal, alguma vez a sua vida privada e política deu azo a suspeitas? Com esta intensidade e com este ritmo?

 

Quem não quer ver que sem credibilidade pessoal não é possível governar, não entende os sinais do tempo. A Fátima Ferreira já ali disse que as escutas vão aparecer na comunicação social, e que  há procuradores do leitor de jornais que, face à inquietação pública, já confirmaram que vão publicar.

 

Em Democracia é assim !

 

 

Estamos em depressão

De repente damos por nós em pleno colapso. Sentimo-nos em baixo, sem vontade, sem determinação, arrasados por uma série de problemas ou circunstâncias, perante as quais não apresentamos capacidade de reacção. Se não estamos em depressão, é um sentimento que anda lá muito próximo.

 

O pior é quando o colapso é colectivo. Não é apenas uma pessoa, uma família, uma comunidade isolada mas todo um país. Assim anda Portugal.

 

Mergulhado num mar de incertezas, o país continuam num clima económico miserável, e do qual tardará em sair, um Governo em estado vegetativo, sem rumo aparente, um primeiro-ministro acossado por suspeitas, uma liderança da oposição ausente e naufraga, uma justiça em colapso, enredada em milhares de leis que só servem para a atrasar e uma desconfiança permanente em redor dos seus agentes. Eles desconfiam uns dos outros e o povo desconfia de todos eles.

 

Estamos deprimidos. Quem nos acode?