Natal à porta

Parece que hoje houve taça de Portugal. Também parece que havia algumas dificuldades em compreender a essência do jogo. E a essência do jogo é… entradas de leão (neste caso de ave de rapina), saídas de sendeiro. Para já sairam da taça. Para a semana há mais.

Amordaçar os jornais…

Na Sábado desta última 5 ª feira, vem um texto sobre a publicidade colocada e paga em diversos jornais pelas empresas controladas pelo governo.

 

"Quando o jornal SOL publicou a primeira notícia a revelar a existência de uma investigação britânica ao caso Freeport, em Janeiro de 2009, um dos directores do semanário recebeu um telefonema que podia livrar o jornal da falência….

 

O jornal preparava a segunda notícia com o DVD que refria o nome Sócrates.O telefonema pretendia travar a notícia.

 

" Uma pessoa do círculo próximo do primeiro-ministro e que conhecia muito bem a situação do jornal e a nossa relação com o banco BCP disse-nos que os nossos problemas ficariam resolvidos se não publicássemos a segunda notícia do Freeport" assume à Sábado o director do SOL José António Saraiva.

 

"É evidente que Armando Vara era a pessoa que tinha o pelouro do SOL no BCP e que todos os assuntos relacionados com o SOL passavam directamente por ele, e isso nós sabíamos! acrescenta José António Saraiva.

 

Há mais. Vem nas páginas 75,76 e 77.

A criança e a sua mente cultural

 

 

Após falar de educação, ontem, falemos das crenças da mente que deve ser educada.. Conhecido é que o autor do presente texto não tem sentimentos de fé. Conhecido é, também, que foi educado dentro das ideias ocidentais que, por acaso histórico, são cristãs. Ideias que são partilhadas, não apenas pelos cristãos romanos, armenos, ortodoxos gregos ou russos, libaneses, maronitas ou de outros países orientais, em paz e convívio com os muçulmanos, essa grande maioria com quem o Ocidente comunga a mesma Bíblia. Bíblia designada pelos Muçulmanos El – al – Corão, texto

 

ditado, por desconhecimento da escrita, pelo Patriarca Maomé a sua filha Fátima. Entre os cristãos romanos, anglicanos e presbiterianos, a Bíblia usada foi sendo escrita pelos reis da Palestiniana, por mulheres corajosas que lutaram pela sua liberdade, como Judite, e por sacerdotes ou reis que sabiam da História Palestiniana e ditaram as suas leis.

Quem quer que tenha sido o(s) autor(es) destes textos, como o Livro Êxodo, atribuído a Moisés ou, da mesma Bíblia, o denominado Génesis, dito ser uma verdade revelada pela divindade a Abraham, escrito pela sua filha Séfora. Digo, fosse quem fosse o autor dos textos, uma verdade é certa, as crianças devem aprender os princípios, leis, ideias, orações, rituais e pensamentos de interacção social, a partir de textos como os mencionados, aos quais devem-se, ainda, acrescentar as Carta de Paulo de Tarso  que lhe foram ditadas pelo irmão de Jesus, Tiago o Menor.

Formas de entender e interpretar a realidade por mim designadas, em diversos trabalhos, por mente cultural, conceito organizado após análise de mais de trezentas

 

 

 

 

crianças do mundo inteiro, especialmente na Galiza, Portugal, Picunche da Cordilheira dos Andes na América Latina, Escócia, Inglaterra, França e, hoje em dia, na Holanda. Povos que fazem das suas crianças devotos de dogmas, incutidos nas suas ideias para os orientar através dos afazeres da vida e da interacção social, das hierarquias e de relação entre classes sociais, como foi definido por Karl Marx, devoto luterano (casado com uma mulher profundamente católica), que Bento XVI, Joseph Ratzinger, louva no seu livro de Abril de 2007 em italiano, de Outubro de 2007 em Português, editado por A Esfera dos Livros, Lisboa.

A mente cultural é esse conceito que guarda as ideias da interacção não apenas na vida social, mas também na denominada vida no mais além, como no respeito pelos adultos e pelos colegas e amigos de escola ou brincadeiras. Conceito que todo o educador e analista da infância deve conhecer, para ser capaz de entender medo, arrebato, subordinação, obediência, livre arbítrio e outras actividades e pensamentos que nos acompanham até à morte, queiramos acreditar ou não.

Eu diria aos Educadores da Infância que ou se sabe bem a catequese ou é impossível educar, como o tenho referido a médicos, psicanalistas e docentes de vários graus de ensino, para serem capazes de saber orientar. Ninguém, por este facto, está obrigado a ter sentimentos de fé, mas aqueles que os têm devem-se abster de os “pregar”, respeitando assim a procura insaciável dessa pequena, muita vazia por um tempo, mente cultural.

Não é porque eu o diga: são quarenta anos de experiência entre crianças e os “seus” adultos, que me têm mostrado que, apesar do abandono de crenças na idade adulta, o comportamento continua a ser pactuado em paz, serenidade e solidariedade, que os cristãos denominam caridade, feio nome para quem deve conviver com outros: parece esmola, enquanto solidariedade é a mente cultural em actividade com respeito pelos outros.

Para educar, é preciso conhecer as bases da cultura que é a religião, e a religião orienta a cultura, na base do conceito que dá título a este texto.

 

 

 

 

 

 

 

Recibos verdes, uma vergonha que continua

Assistimos à generalização da contratualização a prazo para funções permanentes, à vulgarização dos recibos verdes, ao crescimento do negócio das empresas de trabalho temporário, à transformação dos/as trabalhadores/as em colaboradores/as, sempre disponíveis e descartáveis.

O trabalho a recibos verdes é disso um bom exemplo: estima-se que existam hoje em Portugal cerca de 900 mil falsos recibos verdes, a desempenhar funções permanentes, com horário, local de trabalho e hierarquia reconhecíveis, mas sem qualquer contrato ou reconhecimento de direitos.

 

Assinem a Petição à Assembleia da República solicitando a regularização das situações injustas nas contribuições singulares para o sistema de Segurança Social, decorrentes da existência do falso trabalho autónomo. Não é preciso estar a recibos verdes para o fazer. Basta ser solidário.

 

 

 

 

 

 

Os mortos têm dono?

Não é por acaso que temos a expressão  deve estar às voltas no túmulo,  usada quando entendemos que uma determinada homenagem póstuma não honra o homenageado, seja pela sua natureza, seja pela dos seus intervenientes.

Também tenho umas irritações deste género. Em particular chateia-me que os que mandaram Ernesto Che Guevara para o suicídio bolivariano, nomeadamente Fidel Castro às ordens do Politburo que então governava a URSS e estava farto das heterodoxias do revolucionário sul-americano, apareçam ainda hoje como fiéis herdeiros do seu pensamento.

Se Che não tivesse embarcado na armadilha que lhe montaram, como teria reagido ao evoluir da política cubana? Teria continuado em rota de colisão com o pseudo-socialismo soviético?

O facto é que ninguém sabe. Os mortos fazem-nos falta, mas não são nossos.

 

Ninguém é dono dos ses que podemos construir sobre o que acharia hoje Fulano ou Sicrano sobre o estado a que chegou a democracia portuguesa.

É que se muitos se preocupam com as más companhias de José Sócrates, eu digo que é ele a má companhia, sempre o foi, exemplo de arrivista sempre metido em trapalhadas obscuras, pisando quem for preciso para satisfazer uma ambição pessoal desmedida, político de uma geração que se fez em busca da carreira e cuja única causa sempre foi a sua. Não consigo defender um estado de direito onde os governantes passam incólumes a despeito de ser pública e notória a forma como se usam do estado em proveito próprio.

O que pensaria sobre isto Salgueiro Maia? Ninguém sabe, nem os que dele estiveram mais próximos, nem os que nunca o conheceram pessoalmente.

Ninguém é dono do pensamento dos outros, mesmo tendo sido seu camarada, nem das homenagens que quem o entende lhe queira fazer. Muito menos quem não é capaz de entender que num blogue se podem expressar ideias contrárias,e que mesmo com alguns abusos de linguagem consigamos coexistir pacificamente.

A terra é de quem a trabalha como os filhos de quem os ama, lembrava Brecht referindo-se a Salomão. E os mortos de quem os homenageia, acrescento eu, mesmo que tal por vezes nos traga amargos à boca.

 

Esperteza Saloia

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GATO ESCONDIDO COM RABO DE FORA

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O Ministro Teixeira dos Santos é tudo menos incompetente, digo eu.

Desde 2007 que o governo do nosso país se confronta com um processo que a Comissão Europeia abriu contra Portugal, por haver uma dupla tributação, quando se aplicava o IVA sobre o ISV, no preço dos automóveis. Com a excepção da Polónia, nenhum outro País praticava tal acção, e o preço dos carros nesses Países era menor.

Apertado pela Comissão, já há muito tempo, e pela opinião pública do nosso País, o governo, pela mão do Ministro das Finanças, resolveu actuar. Demorou um bocado de tempo, pois que, na anterior legislatura, nunca sentiu necessidade de o fazer, já que podia, queria e mandava. Agora, as coisas mudaram, e a maioria relativa obriga a fazer algumas coisas.

Ora, como disse no início desta crónica, o Ministro Teixeira dos Santos, será tudo, menos incompetente, e com algum esforço, pôs-se a pensar no assunto. Pensou, pensou, pensou tanto que a cabeça lhe ficou ainda mais branca, e descobriu o ovo de Colombo.

Faria desaparecer o IVA sobre o ISV, e aumentava o ISV no mesmo valor. O homem é mesmo um mestre no seu trabalho, e assim, no próximo orçamento para 2010, já esta «coisa» estará devidamente implementada.

A falsa notícia de acabar com o IVA sobre o ISV, é um gato escondido com o rabo de fora, uma esperteza saloia, digna deste governo, a exemplo de muitas outras a que nos foram habituando.

O ACP, tinha-se congratulado com a notícia do fim do IVA sobre o ISV, em comunicado e tudo. Nesta altura já deve estar a preparar um outro.

Os preços dos automóveis vão manter-se com o mesmos níveis de impostos, as vendas dos carros vão continuar a cair, os Portugueses vão continuar a sofrer, e o governo de Sócrates II, O Dialogador, para além de continuar com, pensam eles erradamente, as mesmas receitas, vai deixar de ter aborrecimentos com a Comissão Europeia.

Com amigos desta jaez no governo de Portugal, porque precisamos de nos queixar da crise mundial?

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As AEC's e os seus escravos

As Áreas de Enriquecimento Curricular (AECs) são uma medida criada pelo Governo que prolonga o horário das actividades nas escolas, nomeadamente através da promoção do ensino do inglês e da música. Sendo uma política do Ministério da Educação, as responsabilidades de contratação dos profissionais que assegurem estas áreas são da responsabilidade das autarquias. O Ministério transfere uma verba por aluno por ano para as autarquias, que depois asseguram a existência das AECs. Dada a ausência de regras claras, as AECs têm resultado em situações muitas vezes delicadas para as escolas, as crianças e os profissionais. 

No que a estes últimos diz respeito, as AECs são, em muitos casos, asseguradas por trabalhadores precários com reduzidos direitos e reduzido salário. Muitos destes profissionais trabalham para empresas que os angariam através de falsos recibos verdes e que se apropriam de uma parte da verba que o Ministério transfere, ou trabalham em condições de precariedade para empresas municipais que acumulam à custa destes trabalhadores, os quais vêem negados os direitos básicos que qualquer trabalhador deveria ter, quer ao nível do reconhecimento, quer em termos de protecção social (na doença, no desemprego, na segurança em relação ao emprego). 

No caso específico do Porto, a política educativa implementada este ano lectivo de 2009/2010, pela Câmara Municipal é polémica e imoral, pois lançou a instabilidade entre os professores das AEC´s e nas EB1 do Porto, em consequência do concurso público internacional para a entidade gestora.

 

Deste modo, em vez de melhorarem as condições de trabalho dos professores (tal como estipula o decreto-lei 212/2009 de 3 de Setembro) pioraram a condição já precária dos falsos recibos verdes. 

É urgente que pais, educadores, coordenadores e professores tenham conhecimento de toda esta situação.

 

É urgente que saibam que as autarquias recebem 100 euros por ano, por aluno, para cada disciplina. Isto significa que se estimarmos o número anual de aulas em 50, isso corresponde a 2€ por aluno, por hora. Isto corresponde, numa turma de 20 alunos a 40 euros por hora que a autarquia recebe. Ou seja, paga 11 e guarda 29 Euros. Este valor é variável em função do número de alunos por turma. Em 50 aulas corresponde a um lucro de 1 450 €, em cada disciplina e em cada turma. Se multiplicarmos este valor pelo número de turmas e de disciplinas, estamos a falar de um negócio simpático, sobretudo porque não há nenhum investimento em materiais didácticos, nem em instalações.

 

É urgente que saibam que os professores deixaram de ser pagos para fazer as planificações, articulação entre as disciplinas, presença nas reuniões e quaisquer outras situações normais provenientes da docência, que obrigam um professor a estar na escola, pois a nova entidade gestora apenas paga em função da hora leccionada retirando do seu vencimento a componente não lectiva, (reuniões, planificações, participações em festividades, actividades, etc.). 

Porque é urgente partilhar informação sobre esta situação e juntar as pessoas que se encontram nesta condição, porque é urgente juntar a solidariedade dos pais e dos encarregados de educação, porque é urgente juntar todos aqueles que não querem que os seus impostos sirvam para este enriquecimento ilícito de autarquias e/ou empresas angariadoras de profissionais que é feito à custa da precariedade dos professores, porque é urgente tornar esta situação visível e reagirmos a ela, vai realizar-se no dia 5 de Dezembro uma reunião aberta que visa debater a situação precária que se vive actualmente nas Escolas Básicas de todo País e pensar acções a levar a cabo a partir do caso que se vive no concelho do Porto

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A Cena do Ódio

Há horas felizes. Este poema de Mestre Almada tem um recanto muito particular nas minhas devoções. Acabo de o encontrar youtubado na versão dita e aqui também teatralizada do Mestre Viegas.

Obrigado a um tal pf67 que ali os colocou, juntamente com mais umas tantas coisas que ainda aqui virão parar.

 

 

 

 

 

 

Clube dos Poetas Imortais: Manuel María (1929-2004)

 

Se há poeta que se justifique figurar neste clube, é o galego Manuel María. Tenho evitado, no que se refere aos portugueses e aos brasileiros, incluir gente muito famosa, muito estudada por críticos literários e objecto de teses académicas. Gente que será imortal sem a minha modesta ajuda. Porém, africanos lusófonos e, sobretudo, galegos (porque há quem hesite em os considerar lusófonos), mesmo famosos nos seus países, são pouco ou nada conhecidos entre nós. Manuel María é uma das vozes mais emblemáticas do ressurgimento do galego como língua literária. Grande poeta, escreveu obras como «Mar maior» (1963), «Os sonhos na gaiola» (1968), «Remol» (1970), «Cantos rodados para alheados e colonizados» (1973), «O livro das badaladas» (1977), «O caminho é uma nostalgia» (1985), «As lúcidas luas do Outono» (1988), «Os longes do solpor» (1993) e tantos outros – cerca de três dezenas de obras.

 

 

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Manuel María, nasceu em Outeiro de Rei, em 6 de Outubro de 1929 e faleceu na Corunha, em 8 de Setembro de 2004. Filho de camponeses, exaltou na sua obra o labor dos trabalhadores do campo, dos labregos. Foi um homem que não fugiu ao compromisso político, mas sem esquecer a dimensão humana no seu todo, incluindo o amor e a fraterna amizade. Da obra «99 Poemas de Manuel María» (Razão Actual, Porto, 1972), seleccionei «O labrego». De notar que a palavra «labrego», que para os portugueses pode ter uma conotação levemente pejorativa, para os galegos é o vocábulo usado para «camponês»:

            O Labrego

            Un labrego tan só é unha cousa

            que case non repousa.

           

            Da sementeira a seitura,

            pasando pela cava,

            a súa vida é moi dura

            e moi escrava.

 

            Sempre trafegando,

            arando,

            sachando,

            malhando,

            gadanhando,

            percurando o gando.

 

            Sempre a olhar pró ceo

            com medo e com receo.

            Sempre a sementar ilusión

            ponhendo na semente o corazón

            pra colheitar probeza e mais tristura.

 

            Dilhe ao labrego da beleza

            da campía,

            da súa fermosura

            e poesia.

 

            Dírache que sí,

que a beleza pra tí.

 

Pró labrego é o trabalho

o andar tocado do caralho,

o pan mouro i o toucinho.

 

(Múdanse de calzado ou de traxe

cando van de viaxe,

de feira ou de romaxe

 

e xantan, eses días, pulpo e vinho);

 

os eidos ciscados, minifundiados

que quér decir atomizados);

o matarse sachar de sol a sol

pra lograr seis patacas

com furacas,

catro grãos de centeo i unha col;

o dobregarse sobor dos sucos

pra pagar gabelas e trabucos;

o vivir entre esterco i animales

en chouzas case inhabitabeles.

 

I aguantar, aguanta e aguantar,

Agardando morrer pra descansar.