A ilegalidade das escutas não absolve Sócrates

A primeira decisão que José Sócrates deve tomar é exigir que as escutas sejam analizadas e delas se tirarem as devidas conclusões. Não me estou sequer a referir se têm ou não validade criminal, estou a dizer que um Primeiro Ministro não pode aceitar que o seu nome ande, permanentemente, sob suspeita.

 

A comunicação do Procurador Geral da República esconde mais do que mostra, seguida das palavras atabalhuadas do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ficando no ar que as gravações há muito que andam na dança dos gabinetes.

 

Noronha diz que está sujeito ao segredo de justiça e que só o PGR poderá falar sobre o caso. Este enrola-se nas certidões primeiras, no conjunto de nove, mais não sei quantas e tudo morre como é habitual.

 

Após todos os processos, ou casos, ou campanhas negras em que Sócrates se vê envolvido há sempre gente de família, ou grandes amigos ou assessores que são arguídos .Quanto a Sócrates há sempre uma barreira que impede chegar  mais próximo dele, como se "a sucata" que os familiares e amigos fazem, fosse possível, sem essa condição.    

 

 Sócrates estar por perto e ser quem é!

 

 

 

 

 

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As escutas acidentais

A questão jurídica não a discuto. A coisa política é muito simples: ou o primeiro-ministro solicita a divulgação das suas conversas com Armando Vara (eventualmente ressalvando aspectos de foro íntimo e pessoal), ou vai cavar o seu enterro político.

Se o fizer, mesmo que sejam transcritas inconveniências nos jornais, sai por cima.

Não o fazendo, enquanto o processo sucateiro durar ninguém se esquecerá que, se calhar, enfim, também, provavelmente, pode estar envolvido, é claro que está, corja de gatunos, etc., o que vale politicamente 2 fripóres. E assim ficará com 3, o que já é muita areia para qualquer carruagem.

O mundo é dos violentos

 Há dias ouvi um grupo de adolescentes a descrever com entusiasmo os confrontos entre a polícia e os traficantes de droga ocorridos recentemente no Rio de Janeiro. O episódio do helicóptero abatido pelos traficantes era contado de forma apoteótica. Simulavam o ruído dos tiros, das hélices a falhar, do aparelho a cair, e tudo era motivo de excitação. Podia ser um filme do Vin Diesel ou do velhinho Stallone que eles contavam, em vez de uma reportagem no Telejornal.

 

Mas o que ficava claro é que a violência continua a ser fixe. A violência continua a ser estilosa, seja no estilo brutamontes do Rambo ou nas curvas revestidas a couro negro da Trinity. A indústria do entretenimento, longe de incentivar uma crescente repulsa em relação à violência, continua a promover os violentos como ícones da força, do poder, do triunfo sobre os fracos de quem, já sabemos, não rezará a história. Em teoria, os exemplos de Gandhi ou de Luther King podem ser louváveis, mas não vendem.

 

Resistir à violência, recusá-la como resposta, costuma caracterizar os totós a quem o herói de serviço terá de ir salvar, para que as audiências, com um risinho sarcástico, possam troçar das boas intenções que não salvam o mundo. Essas criaturas apologistas da não-violência são normalmente caracterizadas ou como intelectuais desadaptados, com óculos de cu de garrafa e livros de lombada grossa debaixo do braço, ou como tontos neo-hippies, que evocam a era de Aquário e um Siddharta mal lido.  

 

Há heróis não-violentos na indústria do entretenimento? Muito poucos. Sobretudo tendo em conta o número estrondoso de brutos munidos de navalhas, facas, sabres, pistolas, revólveres, espingardas, carabinas, metralhadoras, lança-mísseis, e coisas ainda mais letais, e que assim resolvem os males próprios e os do mundo.

 

Dir-me-ao que a violência nos ecrãs tem uma função catártica que evita o uso dessa mesma violência no mundo real. Acho que já superámos esse ponto há muito. Atordoados por muitas cenas de horror reais e ficcionais, e às vezes sem saber qual é qual, já nos habituamos não só a não pestanejar quando alguém tomba no ecrã, como a glorificar aqueles que, yippee-ki-yay motherfucker, salvam o dia com uma revoada de socos e pontapés, um balázio certeiro ou uma litrada de nitroglicerina. Afinal, bem vistas as coisas, os heróis da não-violência sempre tombam assassinados e um herói morto já não tem piada nenhuma.  

 

 

Esta ministra encontrou-se com os sindicatos, a outra encontrava-se consigo própria

Das reuniões de Isabel Alçada com as duas principais organizações sindicais de professores sai para já um facto: tudo se torna mais simples quando existe um mínimo de bom senso.

Não sei se daqui sairá um acordo, um meio acordo, ou uma mera manobra política para ganhar tempo. Sei que da parte do governo não existe vontade política de desfazer o seu principal cavalo de batalha durante quatro anos, mas apenas necessidade de salvar a face perante a iminência de perder na Assembleia da República uma guerra que já tinha perdido na rua.

Mas tem de se registar uma palavra no comunicado da Fenprof:

 

"Já em relação ao futuro modelo de avaliação, houve consenso nos grandes princípios por que se deverá orientar – formativo, com implicação na carreira e relevante para o desenvolvimento profissional dos docentes – faltando agora conhecer quais as propostas que o ME apresenta para a sua concretização."

 

Está sublinhada por mim, a palavrinha consenso. Não dói nada, viram? A sensação que fica é que com a anterior ministra e seus ajudantes nem sobre se estava a chover ou a fazer sol era possível empregar a tal palavra. O que já faz parte daqueles capítulos onde combate político e imbecilidade se misturaram, e que espero não se volte a repetir tão depressa.

Coisas para se fazer num jogo de futebol

Sabem aquela máxima popular que nos relata que uma pessoa muda de partido, de emprego, de camisa, de cara metade mas não muda de clube? Pois, tinha a certeza que sabiam. É mesmo assim. Podemos estar zangados com os jogadores, os treinadores, dirigentes e até com outros adeptos do nosso clube mas não passamos a torcer pelos adversários e queremos sempre ganhar. O futebol é assim, dado a paixões e, na maior parte das vezes, irracional.

 

Por isso, o estádio é a nossa casa. Podemos morar numa belíssima residência, com garagem para cinco automóveis, uma grande piscina, janelas gigantes que nos inundam de luz, mas a nossa casa, a nossa verdadeira casa é o estádio.

 

Ansiamos sempre por ver o melhor relvado. Verde, bem aparado, bem desenhado, com as linhas geometricamente calculadas. Um regalo. Então se o nosso estádio for palco de um jogo entre duas grandes equipas, ainda melhor. E um Chelsea – Manchester United é um jogo de encher as medidas de qualquer um. Por isso, não há nada melhor que assistir, com toda a atenção, ao jogo. Ou há?

 

 

 

 

A inexistente Censura

  

 

Todos os testemunhos fotográficos testemunharam a imponência dos funerais do rei D. Manuel II. Assustando o "regime da situação" na sua nova vertente de salvação do 5 de Outubro, comboios encheram-se de gente que de todos os pontos do país afluiu à capital, prestando aquela que desde o Regicídio, seria a maior homenagem pública de que havia memória. O corpo do rei esteve exposto em S. Vicente por um dilatado período de tempo, tal a dimensão da manifestação de pesar. Isto encontra-se testemunhado por reportagens imparciais, nacionais e estrangeiras, que além de centenas de fotografias e de milhares de cartas trocadas, consistiram numa justa homenagem ao monarca que ficou conhecido pelo Patriota. 

 

Apesar desta bem conhecida verdade dos factos, ontem, tal como hoje, existia uma censura que distorcia a notícia, calava as consciências e ameaçava pelo descarado despudor e manipulação. Assim, a imprensa oficial da 2ª república fazia difundir a velada ameaça, susceptível de ser lida nas entrelinhas. Dizia que …"os últimos chapéus altos da monarquia estavam presentes em S. Vicente de Fora. No Terreiro do Paço, toda a causa monárquica cabia em dois automóveis modestos."

 

Quando figuras do regime – como Mário Soares – tentam a todo o transe demonstrar o "monarquismo" do Estado Novo e e a inexistência de uma situação de república no Portugal de 1926-74, a linha editorial prosseguida durante mais de quatro décadas, desmente as patéticas, mentirosas e abusivas alegações. São bem conhecidos os movimentos policiais em torno da rainha D. Amélia, quando a soberana visitou Portugal em 1945. Escassas notícias publicadas pelos jornais da "situação" e do tolerado "reviralho", impedimento da divulgação de toda a agenda oficial da rainha, a sua discretíssima chegada de comboio à Estação de Entre-Campos (Lisboa), a gorada insistência em apartar D. Amélia do contacto popular. Conhece-se a carta da rainha a Salazar, em que esta alfinetava graciosamente o presidente do Conselho, salientando a constante "companhia" da indesejada PIDE, a policia política do regime. Apesar de tudo, as enormes manifestações populares de regozijo nas ruas, montras do comércio no país e em todos os locais onde D. Amélia se apresentou, desmentiram e assustaram o regime do poder e da sua oposição: o regime oficial da 2ª república e os dejectos sobreviventes da 1ª que para cúmulo, seis anos depois seriam ambos ultrajados nas ruas de Lisboa, quando do funeral da rainha. Centenas de milhar de pessoas invadiram as ruas, ultrapassando a presença popular nas pompas fúnebres de D. Manuel. Nunca mais se viu tal manifestação de pesar em Portugal.

 

No dia em que a oficialmente inexistente censura actua uma vez mais, convém recordar, pois este Centenário da República não passa da consagração da miséria mental a que este país chegou. Da descarada esquerda à cobarde e colaboracionista direita.

 

Um dia destes, ainda ouviremos os senhores Cavaco ou Soares perorar acerca da bandeira que durante mais de quatro décadas esteve hasteada na sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Ficaremos a saber que "oficialmente" a bandeira verde-vermelha não era a da república, mas talvez, a da Casa Gucci. Que gente…

 

 

A Izilda Pegado ainda me faz mudar de opinião

Os movimentos que lutaram contra o aborto já estão em campo, o que é uma péssima notícia para quem, estando contra, não vê nesta questão uma cruzada contra seja quem for. Com a discussão tento perceber e dar a perceber.

 

Mas a discussão vai no adro, e o Bispo D. Jorge Ortiga foi taxativo: "determinadas concepções de igualdade pretendem sublinhar a diferença natural entre o homem e a mulher como irrelevante e propõem a uniformidade de todos os indivíduos como se fossem sexualmente indeferenciados, com a consequência inevitável de considerar os comportamentos e orientações sexuais equivalentes."

 

Aqui, o Bispo coloca a tónica na diferença entre relações homossexuais e heterossexuais e deduz-se que as segundas são naturais e as primeiras não. Julgo que esta discussão está ultrapassada, as relações são as que cada um pode ter e não há mais nada a fazer do que aceitar as preferências dos outros.

 

Entretanto, foi criada a Plataforma Cidadania e Casamento, que já ouviu vários constitucionalistas e que vai lutar pelo referendo, que visa impedir a aprovação do casamento entre homosexuais.

 

Izilda Pegado diz que a Plataforma "não é contra a homossexualidade mas contra o casamento entre eles" e que a seguir vem "a adopção por casais do mesmo sexo".

 

O MEP – Movimento Esperança Portugal tambem vai tomar posição contra.

 

O Presidente da ILGA diz que "o referendo não faz sentido nenhum, não é mais que uma táctica para atrasar o casamento e atrasar a igualdade e que esta questão "não poderá ser referendada já que se trata de uma maioria a decidir sobre os direitos de uma minoria" o que em democracia é uma afirmação assaz estranha, já que a decisão da maioria é um princípio basilar democrático.

 

Mas aqui no Aventar todos temos direito às nossas razões e aqui ficam argumentos de um lado e outro para melhor discutirmos.

 

Sem preconceitos de nenhum dos lados, claro está! 

Eu, Não Teria Dito Melhor

EXPERIMENTEM VIVER COM O SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL, OU ATÉ COM UM POUCO MENOS, COMO O FAZEM (POR EXEMPLO) MUITOS DOS REFORMADOS

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O dr Carvalho da Silva falou, e, se porventura tivesse sido eu a dizê-lo, por certo que o não teria dito melhor.

-"O dr Silva Lopes que experimente viver com o salário mínimo nacional".

Isto a propósito do que o dr Silva Lopes disse há dias, sobre os aumentos em geral.

-"Aumentos salariais em 2010, com as empresas fragilizadas pela crise, seriam fábricas de desemprego".

O dr Silva Lopes, e outros com ideias peregrinas como esta, deveriam estar calados.

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A herança socialista

No Expresso:

 

Um buraco negro de cinco anos em que Portugal andou a marcar passo e a engordar o estado, que vai sair da crise mais pesado que nunca. Desde a década de noventa, Estado empresas e famílias andam a gastar acima das possibilidades e o fim da linha está cada vez mais próximo. A economia nacional, que já teve quase dez anos de fraco crescimento, pode continuar a marcar passo mais uns anos.

 

Como é que se resolve esta complicada equação que mistura ingredientes esplosivos como fraco crescimento económico, desemprego elevado e contas públicas desequilibradas?

 

Não há espaço para aumento de impostos e o caminho tem que ser emagrecer o Estado. Temos que ir à raiz do problema, temos despesa pública a mais. Devíamos congelar a dívida pública ao nível de 2008 durante dois ou três anos.

 

Mas onde há flexibilidade para congelar despesa? Nas pensões e nas despesas de saúde mas aí quem aguenta a factura são os mais pobres! A irresponsabilidade pode levar a isso.

 

A dívida externa está nos 100%, se não fosse estarmos no Euro a festa já tinha acabado.

A crise internacional está quase a acabar fica a nacional que dura há vários anos, e esta só se resolve com a criação de riqueza, com a produção de bens transaccionáveis de exportação e que substituem importações.

 

Mas para isso é preciso muito trabalho, determinação e competir em mercados muito exigentes. É dificil e meritório, é mais fácil fazer obras públicas !

Pessoa: serviço de utilidade pública?

….retirado da minha memória e do meu diário de trabalho de campo…

Dois conceitos contraditórios. Aparentemente dialécticos. E, no entanto, com uma lógica de continuidade devido à contradição. Desde a mais tenra infância, fomos ensinados que os seres humanos foram criados para se amarem, se cuidarem, se acompanharem e ouvir as suas histórias. Acarinharem, se houver tristeza; rir com eles, se houver alegria. Os santos padroeiros destes textos, que os leitores podem encontrar no arquivo deste jornal, falam de empatia: simpática e antipática. Não apenas A. Smith em 1756, ou Sigmund Freud em 1885, 1905, 1917, ou Melanie Klein, Alice Miller, ou o mais recente, Boris Cyrulnik, esse novo Wilfred Bion, que define esse conceito de resiliência ou essa inaudita capacidade de construção humana…?. Ideia antiga ao ser denominada de Associativismo Cultural por Ferdinand Tönnies em 1887, ou de Solidariedade Mecânica pelo seu discípulo Émile Durkheim em 1893, e, finalmente de Reciprocidade pelo discípulo do discípulo de Tönnies, Marcel Mauss, em 1922-23. Ateus, santos padroeiros a pregar a homilia do amor entre os seres humanos e a sua interacção, do cuidado entre gerações, de visita ao doente, de ouvir com atenção e organizar o tempo para estar perto do outro de quem afirmamos gostar. Sem rispidez, sem más palavras, sem conversas de corredor, sem nos queixarmos ao outro sobre um parceiro que parece perseguir-nos. Essa cultural psicopatia portuguesa ou paranóia social, como é denominada por nós. Especialmente ao fazer queixinhas daqueles de quem esperamos 

um sorriso, um telefonema, uma visita inesperada, um presente, um abraço e um beijo. Tudo o que os nossos adultos nos ensinaram em crianças e que o 25 de Abril de Portugal desenvolveu ainda mais: igualdade bovessiana ou plebeus do mundo uni-vos, como Gracchus Babeuf escrevia em 1785 ? ideia genial nunca cumprida, escrita em tudo o que se denomina manifesto, levando Gracchus à guilhotina pelo seu amigo e camarada Robespierre. Tal como é criticada a liberdade dos movimentos ideológicos que hoje em dia, acontecem. Raiva pela mudança de partido de fundadores, o jantar amigável de dois antigos rivais que concorreram, com palavras duras, para um mesmo cargo, a Presidência do nosso país. Psicopatia social que acaba exactamente onde começa a Conveniência social de desfazer coligações vencedoras, porém mortas pela sua falta de eficácia no gerir do povo e dos seus bens.Babeuf em 1775

Desta forma a pessoa torna-se um serviço de utilidade pública. O mesmo é dizer que a relação dura o tempo necessário para obter um grau, um favor, um lugar de trabalho. Uma mão sedutora a acariciar a nossa. Uma gratuidade para começar uma relação hierárquica que nos ensine ideias novas para serem expandidas em nosso favor pessoal. Com especial estratégia que finge inteligência, bem como a metáfora de amar aos outros como a nós mesmos. Ditado popular sacralizado em texto. Instituição social, por ter a capacidade que me falta para subir um degrau na árvore da vida e morar no Éden protegido pelo benfeitor. Emotividade ou sentimento que acaba quando se obtêm o lugar desejado. Obtendo-se assim a tão almejada posição de mais valia social. Agenda que orienta o crescimento em experiências convenientes, ligações sociais úteis, amizades bem posicionadas para meio minuto. Confiança nesse desconhecido que nos convêm e parece estar bem posicionado na via de interacção, com lucro social. Até que um dia acordamos porque se torna evidente, na corrida da vida, que a obra feita pela pessoa procurada, era apenas um armário de enganos inconveniente para a nossa auto estima.

Auto estima que abandona com facilidade os mais velhos, os incapacitados, os doentes, todos eles sem poder social, aí onde se quer brilhar e ser contemplado, especialmente pela instituição de serviço público que estimula esse tipo de comportamento.

Sou cuidado, passeado, amado, enquanto for capaz de ser utilizado nessa corrida da vida, que implica ganhar ao outro, ou, talvez, sugar-lhe importâncias convenientes às nossas habilitações, quer do seu saber, da sua paciência ou da sua capacidade de exprimir uma orientação. Cresço e ganho, quem me ensinou, envelhece e perde. No interessa porque eu digo que o amo. Que o amor seja tomar conta, acompanhar, estar com? Para quê? Não é já adulto, logo deve saber fazer? E se por acaso acompanho essa pessoa, onde ficam o meu tempo e os meus lucros sociais? Antigamente, entre nós, tudo era partilhado. Hoje, deve-se fugir para ganhar: não venham retirar de mim….

O ser humano não é pessoa, é uma instituição de utilidade social, amada enquanto for útil ao que a sociedade exige. A Catequese esqueceu-se de ensinar esta ideia!Detalhe figura O Beijo, Auguste Rodin, 1904,Tate Gallery, Londres

 

 

 

A máquina do tempo: em defesa do Zé Povinho

 

Há dias atrás, o nosso companheiro de viagem, Professor Raúl Iturra, publicou um interessante texto comparando o Zé Povinho com uma personagem chilena, o Roto (que não conhecia). A nossa máquina do tempo irá hoje visitar Rafael Bordalo Pinheiro, «O António Maria»e, claro, o Zé Povinho. Os tempos eram outros, nesse último quartel do século XIX, embora os problemas de fundo não fossem assim tão diferentes como isso.

 

Entre 1851 e 1871, ocupando diversas pastas em vários governos, foi neste último ano nomeado primeiro-ministro António Maria Fontes Pereira de Melo(1818-1887). Em mais dois governos, ocupou o mesmo lugar de chefe do Governo até 1887. Pertencendo ao Partido Regenerador, foi, como se pode ver por estas datas, uma personagem que ao longo de quase quatro décadas esteve na ribalta da cena política. A sua política de fomento, de desenvolvimento das obras públicas, nomeadamente das comunicações, ficou conhecida por «fontismo».

 

Foi o alvo preferido do humor cáustico de Bordalo Pinheiro que, inclusivamente, deu o seu nome a uma das suas revistas «O António Maria». Porquê, esta fixação do genial artista?

 

No seu editorial de apresentação, «O António Maria» afirmava-se como independente. Dizia «ser oposição declarada e franca aos governos, e oposição aberta e sistemática às oposições». Digam-me lá se esta não é precisamente uma posição lúcida e que, nos dias de hoje, faria todo o sentido? O que não sabemos é se haveria poder de encaixe para aceitar uma revista que se chamasse «O Sócrates»…

 

Oposição ao governo, que abria estradas, construía caminhos de ferro, pontes, escolas, permanecendo o povo, simbolizado pelo Zé, analfabeto, miserável e desprotegido. Não acham isto parecido com o que hoje se passa – auto-estradas para todos os lugares, projectos de aeroportos e de TGVs, a par com um absoluto desprezo pela cultura, pelo caos na Educação e com dois milhões de concidadãos nossos a viver abaixo do limiar de pobreza?

 

Enquanto isto,  agora como então, uma oposição palavrosa, que condena tudo o que o Governo faz (com razão em quase tudo, diga-se), mas sabendo nós que se algum dia chegar a ser poder fará o mesmo ou pior. Ou melhor, não rectificará nenhuma das medidas erradas que este Governo assumiu, acrescentando-lhe outras igualmente lesivas dos interesses da maioria.

 

Esta oposição, à direita por comprovada ineficiência – (PSD e CDS) já estiveram em diversos governos e foram autênticos desastres e à esquerda por demagogia inconsequente, não interessa. O PCP e o BE dificilmente serão governo e, pela sua prática enquanto oposição, vê-se estarem infiltrados de políticos que usam e abusam da demagogia e da chicana. Fazem parte do sistema e do respectivo folclore. Legitimam o sistema. Porque, como Rafael, penso que o mal não é (só) deste partido que se diz socialista. O mal é do sistema. Rafael chamava ao sistema da sua época «a grande porca», referindo-se a política nacional. Ninguém tinha as mãos limpas.

 

Já sei que, esta expressão, «o sistema», assumiu, até por conotações futebolísticas, o carácter esotérico, por vezes ridículo, de uma teoria da conspiração ao estilo de Dan Brown. Na política e no futebol (a promiscuidade entre ambos é nítida) o «sistema» é identificável e nada tem de esotérico. Cambalachos obscuros, negociatas sinistras, ligações endogâmicas e não só, que desembocam em casas pias, apitos dourados e faces ocultas.

 

Gostei muito do texto de Raúl Iturra e de saber que no Chile têm o Roto, personagem irmã do nosso Zé. Só uma pequena divergência. O nosso Zé Povinho não é um parvo, nem foi uma figura criada pela burguesia (embora Bordalo Pinheiro, pertencesse a uma família burguesa) – será crédulo e humilde, manso e céptico, às vezes desconfiado, mas nunca parvo. Resmunga, protesta, mas depois lá vai votar num dos verdugos. Um caso exemplar da síndrome de Estocolmo. O que, sem o ser, pode parecer parvoíce. É uma besta de carga em cima da qual cai, além dos impostos, todo o peso da desonestidade e da incompetência dos outros, dos tais senhores de fato cinzento ou azul escuro, de gravata e carros topo de gama. Os senhores que mandam no País.

 

Rafael Bordalo Pinheiro, a propósito da mudança alternante de governos disse: «O Zé Povinho olha para um lado e para outro e… fica como sempre… na mesma». Mas como não é parvo, apenas manso e crédulo, um dia a paciência pode esgotar-se-lhe. E quando o Zé deixa a sua mansidão e credulidade e se zanga, transforma-se num grande problema para quem o tiver atormentado. Aconteceu a seguir ao 25
de
Abril de 1974. Pode voltar a acontecer.

 

Depois não se queixem.

 

P.S. – Dedico este texto ao Professor Raúl Iturra, com um abraço de gratidão por me ter fornecido a ideia de defender o «nosso» Zé Povinho.

 

Antropologicamente o casamento gay…

Não sei o que é que isso quer dizer e quem o disse também não, mas foi a maneira de ficarmos a saber que o PSD quer uma "uma união de facto registada" em vez do termo casamento".

 

Assim, os gays gozariam de todas as benesses, sociais, jurídicas e patrimoniais que o casamento dá, mas sem a designação "casamento".

 

Com o BE a coisa fia mais fino, "não podemos dar aos gays um registo mitigado  de casamento, algo entre este e as uniões de facto", porque somos todos iguais perante a Lei.

 

E somos, a prova disso é que os heteros continuam a casar-se porque são de sexos diferentes, enquanto os gays passariam a casar por serem gays. É como dizer a um negro "eh, pá, você pode casar por ser negro", nada disso, ele pode casar porque é um homem que vai juntar-se a uma mulher, segundo um contrato que se chama casamento!

 

A ser como os gays querem, a desigualdade seria manifesta, eles poderiam casar por serem gays, não por serem homem ou mulher.

 

A verdade, é que o argumento "mas tu ficarias prejudicado se um homem casar com um homem?" é falacioso, é como perguntar, se um dia destes um gajo qualquer se lembra de casar com a filha. Tambem não me prejudica, mas porra, já não há, antropologicamente falando, moral?

 

O grande equívoco é pensar-se que "o casamento" não passa de um papel, não tem qualquer valor, fogo à peça e fé em Deus. Ora, pensar assim é um tremendo erro porque há muita gente (a maioria?) para quem o casamento é uma instituição de grande significado, toda a vida viveram de e para o casamento. Estão errados? É com eles, não podem é ser desapossados de uma referência social, familiar e moral com a qual viveram toda a vida.

 

E torno a perguntar, os gays querem ser iguais aos heteros? Não seria bom estarmos em campos devidamente definidos "orgulho gay"?

 

E que tal um pouco mais de celeridade?

Só na próxima semana o Procurador Geral da República vai iluminar o país em relação às certidões extraídas do processo "Face Oculta", em relação às conversas escutadas entre José Sócrates e Armando Vara.

 

O caso, pela complexidade e importância, deve ser tratado com todo o rigor, daí o envio das escutas para o Supremo Tribunal de Justiça. Até aqui, nada a dizer. Todo o cuidado é pouco e nestas coisas não se pode falhar.

 

Convinha, no entanto, dar alguma celeridade a estes processos. Não por envolver pessoas influentes, importantes e dirigentes políticos. E, sim, porque envolve pessoas influentes, importantes e dirigentes políticos. Parece contraditório e é. A questão é que estas pessoas influentes, importantes e que são dirigentes políticos têm muito a ver com o destino de todos nós.

 

Apesar de tolhido num certo estupor que nada tem de racional, ainda para mais em tempo de crise, o país precisa de ter respostas muito em breve.