A Década das Redes Sociais:

Este texto foi (ou vai ser) publicado no semanário Primeira Mão e foi escrito no passado dia 29 de Dezembro. Porém, ao ver ontem o programa Eixo do Mal da SIC Notícias, cuja escolha foi idêntica, decidi partilhar com o Aventar esta minha opinião de facto mais relevante da década finda. E já agora: qual foi, para vocês, o facto mais relevante?

Quando se olha para trás e se pensa em tudo o que passou de 2000 até 2009 podemos sempre procurar fazer uma escolha, subjectiva, daquilo que foi mais relevante. O 11 de Setembro e o terrorismo Islâmico, a eleição de Obama, a campanha pelo ambiente e nesta a forte componente mediática de Al Gore, a China e as restantes potências emergentes (Índia, Brasil, etc.), o Iraque, o Euro e o alargamento da União Europeia, a crise internacional dos últimos anos, entre tantos outros factos relevantes.

A ter de escolher um e apenas um, não posso deixar de sublinhar a força adquirida por um dos mais relevantes fenómenos da Era Digital: as Redes Sociais. Basta pensar num dado impressionante: o número de utilizadores das redes sociais na internet é de tal grandeza que, se todos habitassem no mesmo país, este seria o 3º mais populoso do planeta. O Myspace, o Facebook, o hi5, a blogosfera, o Orkut, o YouTube, o Twitter, o Flickr, o Second Life ou o Linkedln, fazem parte do quotidiano de milhões e milhões de pessoas, instituições e empresas. No caso português, somos o 3º país europeu com maior penetração das redes sociais (fonte: Comscore).

As redes sociais são espaços de partilha e de proximidade entre as pessoas. Uma partilha de textos/opiniões, de fotografias, de vídeos, de músicas, de saberes, etc. Todo um universo de relações e interacções antes vedada à maioria das pessoas e agora quase de acesso universal. Não é por acaso que praticamente todas as grandes marcas de consumo globais já estão nas redes sociais e o mesmo se diga quanto a instituições públicas. Para quem não conhece ou quem não pretende conhecer este novo mundo, a desconfiança é enorme e daí ao potenciar do “lado negro da força” é um instante. Obviamente que as redes sociais não são imunes a perigos, eles existem e devem ser tomados em linha de conta. Pessoalmente, o hi5 é algo que me é estranho e que não me transmite grande confiança – mas a culpa é minha, não da rede social em causa (por sinal a preferida dos adolescentes portugueses).

Em termos profissionais, as redes sociais, causaram uma enorme revolução. O jornalismo deixou de deter, em exclusivo, o poder de moldar a opinião pública. Aliás, as redes sociais, em especial os blogues, são geradores de uma enorme torrente de “opinião” – muitos dos mais influentes editores de blogues são jornalistas, políticos e colunistas de jornais. A informação passou a ser de acesso gratuito e a circular a uma velocidade nunca antes vista. A imprensa escrita foi, sem dúvida, a principal visada com esta nova ferramenta – as quedas nas vendas e respectiva hecatombe nas receitas publicitárias causaram e continuam a causar a asfixia neste sector da comunicação social.

Já quase no final da década assistimos a um fantástico exemplo da importância das redes sociais: a campanha de Barack Obama rumo à presidência dos Estados Unidos da América. Nunca antes um político beneficiou tanto do poder das redes sociais. Se é verdade que não foi o pioneiro (a Jonh Kerry os louros) teve o mérito de ter sido o que melhor a soube aproveitar em seu benefício – através delas angariou mais de 500 milhões de dólares, permitiu o contacto entre apoiantes em diferentes pontos dos EUA, formou inúmeros grupos de trabalho local, colocou mais de 1800 vídeos promocionais no canal próprio Youbama e mais de 20 mil fotografias de campanha no Flick, sem esquecer o movimento cívico “do-it-yourself” com 2 milhões de apoiantes através da rede social própria “mybarackobama.com”.

Esta foi a década mais intensa das redes sociais e a principal causadora do princípio do fim da Comunicação Social como nos habituamos a ver ao longo das últimas décadas. Será, porventura, o sector económico mais atingido por este fenómeno. Mas, o que se avizinha é melhor ou pior? Não sei. Penso nos próximos anos, em termos de comunicação social, como uma nova fase do “pensar global, agir local”, ou seja, uma corrente de concentração e uma contracorrente de dispersão por nichos. As fusões vão continuar e, simultaneamente, teremos uma maior aposta na comunicação de e para nichos. A TDT será, para a televisão, o que a internet e as redes sociais foram para a imprensa escrita e o futuro pode, a meu ver, passar pelo suporte global: televisão, telefone, iPod e internet tudo no mesmo dispositivo e sempre bastante portátil.

Por isso mesmo, as Redes Sociais foram, a meu ver, o facto mais relevante da década que agora finda.

Um Bom Ano para todos.

(Nota: este artigo teve como fonte a NextPower-Consumer Generated Marketing)

Comments


  1. E para mim também. É a segunda vez que estou de acordo contigo hoje, Fernando, o que não abona nada de bom à pluralidade desta casa.

  2. Jorge Castro says:

    Viva as REDES SOCIAIS, aproximou todos que estavam distantes.

    Grande abraço.
    Jorge Castro.

  3. Cláudia says:

    Carlos leitores somos alunas do 12º ano de escolaridade e no ambito da disciplina de Àrea de Projecto temos como tema de Projecto : ” Comunicar através das novas tecnologias é realmente falar?” Visto que este é um tema que tem uma vertente psicológica e científica queríamos as vossas opiniões ou comentários, o endereço do nosso blog é : http://falardafala.blogspot.com
    Agradeçemos a vossa colaboração

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