Os meados dos anos 1980 foram decisivos para a política, e forçosamente para a história económica e social de Portugal das últimas décadas. A adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1985, e a eleição do Prof. Cavaco Silva, em 1986, criaram expectativas de estabilidade política e de desenvolvimento – o PREC, social e politicamente agitado, ficara há algum tempo enterrado e surgiram, entretanto, as calamitosas contas públicas de 1983.
O Prof. Cavaco Silva, como dirigente do PSD, ascendeu ao cargo de PM em condições propícias à reestruturação e relançamento ansiados pelo País. Para maior facilidade de acção, contava com os benefícios da arrumação financeira prescrita pelo FMI e dirigida pelo Prof. Ernâni Lopes, no governo do Bloco Central; usufruía ainda das primeiras remessas de fundos comunitários de apoio à modernização do País e à integração europeia.
O Eng.º Guterres, desfrutando de vantajoso enquadramento macroeconómico internacional, contou também com tempos favoráveis. Prosseguiu a abundância de ingressos de fundos comunitários que, à semelhança do seu antecessor, poderiam ter tido utilização mais proveitosa, se aplicados em investimentos de carácter reprodutivo.
Com relação aos dez anos de governação de Cavaco Silva e aos seis de António Guterres, foram atingidos crescimentos da Economia Portuguesa superiores à média da UE (15 países), como se demonstra no quadro seguinte:
Crescimento Médio Anual do PIB (%)
Governo | Período | Portugal | EU (15) |
Prof. Cavaco Silva | 1986 – 1995 | 4,0% | 2,4% |
Eng. António Guterres | 1996 – 2001 | 3,5% | 2,5% |
Fonte: Banco de Portugal
Qualquer comparação de resultados referidos no quadro anterior deve ter em conta o tempo de exercício de funções de cada governante: o Prof. Cavaco durante 10 (dez) anos e o Eng.º António Guterres apenas 6 (seis); conseguindo o líder do PSD obter uma taxa média de crescimento superior em 0,5% e um diferencial para a UE (15) de + 1,6%, contra apenas + 1,0% do socialista.
Terminado o ciclo Cavaco Silva – Guterres, e com a fuga deste último, o País entrou pela tempestade adentro. Durão Barroso, logo depois, também fugiu. E, “como não há vida para além deficit”, ao contrário do que dizia o Dr. Sampaio, temos atravessado o consulado de José Sócrates com as políticas e os efeitos conhecidos e sentidos pela grande maioria da população.
O grande drama é que Portugal nos últimos 34 anos não beneficiou, da parte dos sucessivos governos, de visão e orientação estratégicas consistentes, no sentido de atingir um desenvolvimento sólido e sustentado. Grande parte do aparelho produtivo ficou destruída. Restam as empresas de distribuição, os grupos financeiros e um conjunto de grandes empreiteiros de obras públicas e construtores civis; isto para além dos ‘grandes parceiros’ da energia (petróleo e gás, incluídos), das telecomunicações e de redes e infra-estruturas, onde sempre vai havendo uns lugarezitos para ‘boys’.
Para obviar as dificuldades financeiras graves, o País está curvado sobre si próprio; sem meios e empresários capazes de relançar a Economia, o crescimento económico converteu-se em problema tão complexo como a possibilidade de sair da posição onde estancámos desde 2002, como demonstram as taxas de crescimento do PIB publicadas pelo Eurostat.
Curiosamente as últimas décadas remetem-me para o desgoverno do Rei D. João V, monarca de vida faustosa e consumidor dos restos do ouro do Brasil com sumptuosas construções – o Convento de Mafra, por exemplo. O pior é que, transcorridas as épocas do desperdício, nos tempos actuais é impossível encontrar um Marquês de Pombal capaz de, a partir dos cacos, reconstruir pelo menos parte da louça em falta: a produção nacional geradora de riqueza, de emprego e de meios financeiros com que o Estado, Empresas e Famílias possam respeitar os compromissos de endividamento, mormente perante credores externos.
Não compreendo muito o que quer dizer com a comparação de dois pontos discretos de informação ao longo de um período de 16 anos. Na minha opinião não explicam muito. Atrevo-me mesmo a dizer, com todo o respeito, que apresentar os dados desta forma serve mais para confundir do que para esclarecer.
Não dá muito trabalho termos uma ideia do que se passou nesses 16 anos, veja-se por exemplo:
http://www.tretas.org/PIB
A linha a vermelho mostra o crescimento de um ano para o outro e a linha a amarelo é a versão mais suave da anterior, mostrando o crescimento médio nos 6 anos anteriores. (Dados da pordata.pt).
A tendência da primeira derivada do pib é óbvia (o crescimento tem tendência a diminuir desde que temos dados). E julgo que tb é pacifico assumirmos que não há grande diferença em termos o governo do PSD ou do PS. Note-se que até as tendências se formam de uns governos para outros, não ligando muito a quem está em S. Bento. Isto seria de esperar dado que ambos os partidos seguiram a mesma linha a menos de alguns aspectos cosméticos.
/Helder
Simplifiquei, de facto, com o uso de dois pontos discretos; no entanto, foram dados recolhidos tal qual de documentos do BdeP.
Se tivesse recorrido ao ‘site’ da PORDATA, por sinal excelente, poderia sustentar a análise em informação melhor trabalhada.
Confesso que, só ontem, pela primeira vez tomei contacto com o ‘site’ da PORDATA que, no futuro, utilizarei.
Mas no fundo a nossa conclusão é idêntica: ambos os partidos seguiram a mesma linha…