Nasci um dia qualquer – a minha memória

 

Mascagni Cavaleria Rosticana Intermezzo

Parece-me que todo ser humano devia dizer e pensar esta frase. Há dois factos na vida que sempre andam ao pé de nos: o involuntário facto de nascer, o involuntário facto de falecer.

O começo da vida acontece em época incerta, pela vontade, amor e carinho que os nossos

progenitores depositam em nós. Entre essas duas pontas do balanço da nossa história,

atingimos sucessos e insucessos, penas e alegrias, amamos e procriamos e criamos. Criamosdescendentes que existem apenas por um dia, metaforicamente falando. Crescem, têm os seus próprios e o tempo dedicado a eles, rouba do pé de nós aos que antes tratávamos com amor, essa época em que nada ou pouco sabem para andar pelas vias da vida. Grupos de parentes hierarquizados: os mais velhos com experiência, transferem esse saber aos mais novos, com carinho, paz e serenidade. Os mais novos, nem sempre contentes, devem aceitar as lições para crescer e saber lidar com a vida com a paciência de um santo. Em épocas difíceis, como as que nestes dias vivemos. Altos e baixos da história que sofrem os adultos e que as crianças, sem saber o porque, ouvem sem entender.

Não é apenas os dissabores do quotidiano o que faz ao adulto tremer. Desde longe na História de qualquer grupo, aparecem os acontecimentos que vão moldando o quotidiano dos nossos dias.

Não foi uma pura casualidade a que me levara a colocar a imagem que abre o texto. O ocidente do velho continente levou-nos um dia em guerra com os do oriente próximo e começaram as cruzadas, viagens longínquas a terras estranhas para recuperar o que sempre se pensou era o sepulcro da divindade ocidental, guardada com cuidado pelos proprietários das terras do Santo Sepulcro. A Basílica do Santo Sepulcro é um local em Jerusalém onde a tradição cristã afirma que Jesus Cristo foi crucificado, sepultado e de onde ressuscitou no Domingo de Páscoa. Constitui um dos locais mais sagrados da cristandade.

Na sequência da destruição de Jerusalém em 70 d.C., o imperador romano Adriano visitou a cidade em 129-130, ordenando a sua reconstrução segundo um modelo que visava fazer dela uma cidade pagã chamada Aelia Capitolina. Neste sentido, o imperador ordena que o local identificado com a sepultura de Jesus seja coberto com terra e que nele fosse construído um  templo dedicado a Vénus.

Em 313 o imperador Constantino decretou o Édito de Tolerância para com os cristãos (ou Édito de Milão), que implicou o fim das perseguições. Em 326, sua mãe Helena visitou Jerusalém com o objectivo de procurar os locais associados aos últimos dias de Cristo. Em Jerusalém, ela identificou o local da crucificação (a pedra denominada Gólgota) e a tumba próxima conhecida como Anastasis (“ressurreição”, em grego). O imperador decidiu então construir um santuário apropriado no local, a Igreja do Santo Sepulcro. Os arquitectos inspiraram-se não nas

 estruturas religiosas pagãs, mas na basílica, um edifício que entre os romanos servia como   local de encontro, de comércio e de administração da justiça.

Em 614, a igreja de Constantino foi destruída pela invasão dos persas que roubaram os seus tesouros. A basílica foi reconstruída pelos bizantinos.

Em 638, a cidade de Jerusalém passa para as mãos dos muçulmanos. Os primeiros líderes muçulmanos de Jerusalém revelaram-se tolerantes para com o Cristianismo. Porém em 1009 o califa fatimida Al-Hakim ordenou a destruição de todas as igrejas de Jerusalém, incluindo o Santo Sepulcro. A notícia da sua destruição foi um dos factores que estiveram na origem das Cruzadas.

Bem sabemos o que as Cruzadas têm sido na nossa cultura. Chefes de Estado cristãos enviavam aos, nesse tempo, servos do seu Estado ou da sua casa Real, para retirar das mãos dos muçulmanos, sítios de veneração por ter sofrido tormento, perseguição e morte, a pessoa

acreditada como a divindade cristã, Jesus, venerada por milhares de pessoas no mundo inteiro. Em 1º99, os cristãos arrasam com Jerusalém, para tomar conta do Santo Sepulcro, até o dia do regresso de Jerusalém a domínio islâmico. O Califa Saladino proíbe tocar edifícios religiosos cristãos. Aliás, a Basílica do Santo Sepulcro, passa a ser gerida por um conjunto de homens santos, para que as Cruzadas, uma perca imensa de riquezas e apropriação dos bens

Muçulmanos, nunca mais tornaram a acontecer. Era a forma que en nome da ideia de fé, os comerciantes ocidentais enchiam os seus cofres, na base da história de um homem bom. No meu ver, as cruzadas foram um latrocínio que nunca mais se repetiram. Onde há riqueza, a maldade nasce. O Basílica, na arguta mente de Saladino, No século XIV, o local começou a ser

administrado por monges católicos e por monges ortodoxos gregos. Outras comunidades pediam também a possibilidade de gerir o local (coptas egípcios e coptas sírios). Hoje em dia é um sítio universal, aberto a todas as confissões e administrado pelo Estado de Israel. Desde o

 tempo dos cruzados, os recintos e o edifício da Basílica do Santo Sepulcro tornaram-se

propriedade das três maiores denominações – os greco-ortodoxos, os armênio-ortodoxos e os

católicos romanos. Outras comunidades – os copta-ortodoxos egípcios, os etíope-ortodoxos e

os sírio-ortodoxos – também têm certos direitos e pequenas propriedades dentro ou a poucadistância do edifício. Os direitos e os privilégios de todas estas comunidades são protegidos pelo Status Quo dos Lugares Santos (1852), conforme estabelece o Artigo LXII do tratado de Berlim (1878).

Este foi um dos factos, muito disputado para quem sentimentos de fé e ideias políticas. Fez parte do descalabro de Portugal, como Estado que não usufruiu das riquezas orientais. A criança que ouve estas histórias para o seu entender, precisa de uma explicação, já mais adulta. Portugal, como reino, expandiu-se pelos setes mares do mundo e conquistou riquezas de países estrangeiros. Nada retirou de Jerusalém: tinha suficiente com África e parte da Índia. Após duras batalhas políticas dentro do país e outras económicas, conquistou  finalmente a sua Liberdade económica e política em 1974. Ia lentamente avançando para o desenvolvimento, com o fundador do partido político que nos governa, que acabou em um  desastre. O Primeiro-ministro desses tempos, Francisco Sá Carneiro, tinha planos para se  juntar a Europa desenvolvida, como os Cruzados dos velhos tempos. Um infeliz acidente o matara em 1981, era do avanço para o desenvolvimento, mas um acidente de aviação o ultimou e foi preciso começar de novo a reconstruir planos políticos e económicos. A pretensãao era juntar-se aos fundadores do tratado de Roma e formar uma coligação de Estados, como quase mil anos antes, os homens de fé tinham feito. Este era um homem de fé em si e os seus colaboradores, com planos para desenvolver Portugal em conjunto com os Estados do Norte da Europa.

Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro GC TE • GC C • GC L (Porto, 19 de Julho de 1934- Camarate, 4 de Dezembro de 1980) foi um advogado e político português, fundador e líder do Partido Popular Democrático / Partido Social Democrata, e ainda Primeiro-Ministro de  Portugal, durante cerca de onze meses, no ano de 1980. Em Maio de 1974, após a Revolução dos cravos, Sá Carneiro fundou o Partido Popular Democrático (PPD), entretanto resignado

Partido Social Democrata (PSD), juntamente com Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota. Torna-se o primeiro Secretário-Geral do novo partido.

Nomeado Ministro (Sem Pasta) em diversos governos provisórios, seria eleito Deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e, em 1976, eleito deputado (na I Legislatura) à Assembleia da República em Novembro de 1977, demitiu-se da chefia do partido, mas seria reeleito no ano seguinte para desempenhar a mesma função.

Em finais de 1979, criou a Aliança Democrática, uma coligação entre o seu PPD/PSD, o Partido do Centro Democrático Social (CDS) de Diogo Freitas do Amaral, o Partido Popular Monárquico (PPM) de Gonçalo Ribeiro-Telles, e alguns independentes. A coligação vence as eleições legislativas desse ano com maioria absoluta. Dispondo de uma ampla maioria a apoiá-lo a maior coligação governamental até então desde o 25 de Abril), foi chamado pelo Presidente da

Presidente da República Ramalho Eanes para liderar o novo executivo, tendo sido nomeado Primeiro-Ministro a 3 de Janeiro de 1980, sucedendo assim a Maria de Lurdes Pintasilgo.

O seu programa político pode-se sintetizar assim: Se há aspecto particular da actividade política de Sá Carneiro que valha a pena realçar, é o seu anti-comunismo. Aliás, em 1980, os comunistas sabiam perfeitamente que era assim porque viam nele a figura do anticristo comunista, o único indivíduo capaz de lhes dar água pela barba na estrutura jurídico-política que tínhamos. Na entrevista, porém, Sá Carneiro entendia que só as pequenas e médias empresas deveriam ser desnacionalizadas. As grandes, mormente os grupos económicos monopolistas, não, eram para investimentos dentro do país, desenvolvendo grandes empresários para estabilizar um país empobrecido pela ditadura, da que fez parte da que fez parte da fracção liberal, redigindo uma Constituição a sua altura de político burguês liberal de direita.

Como os Saladino das Cruzadas. Presidia a República Ramalho Eanes, quem o convidar a formar Governo, após ter desfeito o governo de Belém com um Álvaro Cunhal e Otelo Saraiva de Carvalho a presidir. Eanes, como Carneiro, apesar de ter uma posição mais moderada em relação a esquerda, não queriam governos de esquerda. Como nas cruzadas, organizam um governo de centro direita, com uma esquerda bem mais desenvolvida que nos anos 70 e 80.

Acontece, provocada pelo PSD, uma crise política da que Sócrates não se sabe defender.Experimenta uma economia de guerra, perde e herdamos um Sá Carneiro, jovem, pujante, que ataca ao povo pelos impostos, os despedimentos e os cortes salariais.

Comments

  1. Paulo Martins says:

    Que nutritivo e delicioso pequeno almoço.
    Obrigado 🙂

  2. xico says:

    Que grande confusão. Em parte devido ao português que se perdoa por sabermos não ser a sua língua materna. Depois a velha culpabilização típica das cruzadas, esse grandioso empreendimento que dá forma a uma Europa que finalmente se dá conta da destruição do que Roma nos tinha deixado (quem quiser olhar para as cruzadas terá de olhar primeiro para a extensão e tempo decorrido na expansão do Islão. No tempo das cruzadas, vastas áreas da Europa ainda eram pagãs. Não cristãs ou islâmicas, num Europa cristã há mais de mil anos. O Islão contudo estendia-se do Atlântico ao Ganges, no pouco tempo inferior a cem anos. Há-de ainda ter de olhar e perceber o cerco de Viena).
    Quem não quis governos de esquerda, foi o Povo quando elegeu Eanes e quando deu a maioria ao PSD.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading