A bela gravata da ministra Cristas: em frente pela libertação do pescoço

Não conheço acessório humano mais ridículo e inútil que a gravata. Hoje em dia abundam os velhos piercings e multiplicam-se as tatuagens (a proibição medieval, pela igreja do costume, foi esquecida), mas nada se compara a um adereço masculino tão enfemeninado.

É curioso que se formos à wikipédia encontramos uma tentativa muito britânica de aldrabar a História, contando a velha lenda de que a gravata tem origem nos soldados croatas e seu lencinho à volta do pescoço, esquecendo-se que nem gravata sabem dizer. Explicação etimologicamente possível, quanto às origens do seu uso a versão francesa é bem mais pragmática e sabe bem do que fala; disto por exemplo:

Pelo menos a partir do séc XVII fez parte das mariquices com que se embelezavam os homens da aristocracia, numa época em que a bem dizer apenas as saias os distinguiam, na indumentária, das também mui adornadas mulheres.

Deixando de lado o meu mau humor quando se passa pelo barroco, a gravata foi evoluindo e transformou-se no séc. XX numa peça obrigatória a que estavam condenados os funcionários públicos, de colarinho bem apertado, não fosse ver-se a maçã de adão, com tudo o que de pecado original daí se pudesse sugerir. É escusado fazer trocadilhos com uma das palavras com que os gauleses designam o que separa a cabeça do tronco.

Pensava eu, ingenuamente, que tinha passado o tempo em que me podia gabar de nunca tertido tão abjecto trapo rodeando o meu pescoço, substituída pela camisola de gola alta em momentos mais complicados como a defesa de uma dissertação académica e defendendo-me sempre com os padres, que não se engravatam de modo algum mais que não seja porque sabem umas coisas de história, quando descubro agora por via de uma libertação, numa assumpção bem cristã e ponderada por motivos energéticos, que o pessoal nos ministérios ainda anda obrigado ao seu porte.

É espantoso que tenha de vir uma ministra do CDS resolver um assunto que já deveria ter passado por um tribunal de direitos humanos. Mas a justiça é cega, e não olha a quem a faz. De uma assentada sobe a temperatura condicionada do seu vasto ministério, desfere um golpe mortal no Bloco de Esquerda, e no seu gabinete sempre são menos prendas de Natal, em opção podem os familiares e amigos trocar pela clássica peúga branquinha, muito mais barata e de acordo com o orçamento minguado de meio 13º mês..

Parabéns  Assunção Cristas, eis uma ministra que me faz lembrar uma velha armadilha dos tempos do PREC, que já por aqui referi: é boa mas é do CDS, ou é do CDS mas é muita boa? (sim jovem Renato, esta é para ti).

Para Assunção Cristas e o seu MAMAOUT fica esta bela gravata, no feminino, é claro.

Acabo de reparar que alguns se queixam que, na ausência do trapo, aumentará o uso de desodorizantes. Desodorizantes? Socorro, isto tá tudo cada vez mais gay.

Comments

  1. Rodrigo Costa says:

    … Por razões que deconheço —ou não—, a Humanidade, no seu todo, ainda não percebeu ou não interiorizou que os maiores patifes usam gravata; que, se quiserem encontrar os causadores do estado em que o País se encontra—para frazer abordagem mais próxima—, não encontrarão um que não use gravata; como excrescente máscara; como um disfarce; como uma espécie de password, de livre-trânsito, que permite o tempo de pensar e de executar todas as tropelias; porque a gravata —de fato, mais ainda— é um sinal inspirador de confiança —se querem o meu conselho, desconfiem, porque pode ser um sinal de falta de personalidade, de segurança, no mínimo.

    Nota: convirá referir, no entanto, haver quem não use a gravata como arma, mas apenas como elemento decorativo e de acessibilidade; muitas vezes imposto pelas instituições onde prestam serviço. Resta a esperança de que, depois de tantos avanços tecnológicos, as pessoas consigam aceitar que, por debaixo da roupa, as pessoas estão sempre nuas —Para que é que o Egas pôs a corda ao pescoço!…

  2. Konigvs says:

    Sobre a ministra e a nova do uso da gravata só tenho a dizer que é com muita pena que não a uso.
    Ah se eu usasse gravata, sempre podia deixar de a usar e poupar na fatura da eletricidade.

    Férias, “silly season” e os sinais do novo governo.

  3. elisa says:

    tu achas a cristas ‘munta’ boa??? hum…

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