Portugal agride Deus

Governo quer acabar com Corpo de Deus

 

Hipótese 1

Num gabinete sombrio, Passos Coelho, com um anel largo no dedo, vestindo um fato brilhante, fala com Álvaro Saints Pereira: “Quero ver o corpo dEle finito!” Álvaro, humilde, tenta retorquir: “Ma, dom Rabbit, Ele é molto poderoso!” Nesse momento, com a tranquilidade tensa dos chefes, Passos agarra nas bochechas de Álvaro e diz-lhe: “Partes-me o coração, Álvaro! Faz-lhe uma oferta que Ele não possa recusar!” Sempre tremente, Álvaro, pergunta: “Ma che cosa posso oferecer a alguém que tem tudo?” Com as mãos atrás das costas, olhando para um infinito só visível em São Bento, Passos responde: “Diz-lhe que lhe ofereço o martírio dos portugueses!”

 

Hipótese 2

Num gabinete cheio de luz, o Todo-Poderoso lê o jornal e deixa escapar um tossicar de desaprovação: “Os portugueses querem acabar com o meu corpo.” Jesus, ao lado direito do Pai, debruça-se indignado sobre a leitura: “Isso quer dizer o quê? Vão crucificar-me outra vez? Se é para isso, o Pai, se faz favor, afasta de mim esse cálice, que eu já tive a minha dose”

Hipótese 3

Segundo fontes próximas do Além, já foram dadas ordens para que regressem todos os santos ao Céu, devido ao conflito diplomático com Portugal, país de que partiu o atentado contra o Corpo de Deus. São Pedro, porta-voz do Paraíso, depois de ter tentado cortar a orelha de Passos Coelho, negou três vezes qualquer hipótese de reconciliação, anunciando que está para breve uma declaração de guerra. Assim, o país será fustigado com várias pragas que incluirão o emagrecimento brusco das vacas e dos funcionários públicos. 

Boneco do Jorge Fliscorno

Comments

  1. xico says:

    Está bem apanhado. Os feriados religiosos (católicos) têm a virtude de serem autênticas festas das comunidades, muitíssimo mais do que os civis, por resultarem quase sempre da adaptação das festas pagãs ligadas aos ritos agrícolas. No caso do “corpo de Deus”, incorrectamente assim chamado porque na realidade festeja-se o corpo de Cristo consagrado no pão da eucaristia, foi sempre uma festa onde se realçava o poder dos municípios (era sinal de autoridade obter a autorização da celebração de tal festa) e dos ofícios ligados às artes “mecânicas”, como os pedreiros, os ferreiros, etc. Acabar com eles é acabar com a identidade cultural do povo. A produtividade não se obtém com a extinção dos feriados. O contrário será talvez muito mais verdadeiro. Os feriados civis sempre foram das elites. Os religiosos do povo, porque religam (não interessam se são católicos ou não, porque são quase todos pagãos. E ser pagão também é ser religioso)

    • Xico-gostei muito do seu comentário-é isso mesmo –
      mas pelos vistos os governantes, centrais e locais – já nem pagãos são – nem laicos – são herejes – e quanto a história socio-cultural do país nunca leram nada-mcor

  2. MAGRIÇO says:

    Eu nem sabia que Deus tinha corpo! Onde chega a minha ignorância…

    • magriço – é mesmo não ter tempo para nada interessante ou inteligente pelo que reflecte a qualidade das matérias escolares que teve – se souber soletrar alguma palavra certamente que não entenderá o conceito – pena – pobreza de espírito que reina “entre as novas gentes que não têm que fazer – nem PENSAR

      • MAGRIÇO says:

        Minha querida Senhora, nem todos se podem gabar de um espírito tão lúcido, tão rico e tão sábio como o seu. Peço-lhe que seja paciente e tolerante para aqueles que, como eu, não foram tão prendados. Prometo que farei os possíveis para alcançar os seus altos padrões intelectuais. Até lá, um abraço ignorante.

  3. Ninguém pode agredir Deus!
    Qual o conceito que têm de Deus para fazerem uma afirmação tão aberrante: “Portugal agride Deus” ?
    Sabem que o Absoluto, o Inominado, a Causa de todas as causa, Aquele de que nada pode ser dito, Deus enfim, está para além de todo o pensamento e de todo o sentimento. Só sabemos que é Amor e que é Todo Poderoso.
    Esse dia, feriado ou não, é uma aberração humana chamar-lhe “Corpo de Deus”.
    Que mentalidades !!! A Ciência, a Nova Física, já despedaçou esses conceitos religiosos sem pés nem cabeça. Aliás, as religiões antigas, muito mais sábias que as cristãs, não consideram que Deus tenha um corpo ou seja tangível. Mesmo o Mestre Jesus – o Cristo, afirmou várias vezes que Deus é espírito. Já se viu um espírito com corpo físico, material?

    • António Fernando Nabais says:

      Obrigado pelo contributo. Quando quiser comentar o texto, esteja à vontade.

    • xico says:

      A festa é do “Corpus Christi”, ou seja, o corpo de Cristo consagrado no pão da Eucaristia. Não se trata portanto do corpo de Deus. Nunca em toda a história da Igreja, se disse que Deus tinha corpo/matéria. Quanto ao título do post trata-se evidentemente de uma ironia que lhe passou ao lado. Quanto à sabedoria das religiões antigas em relação à das cristãs, convinha que lesse qualquer coisinha para além dos livros da Nova Física, seja lá o que isso for.

  4. O texto é uma bem conseguida sátira sobre as caricatas medidas a serem tomadas pelo governo de Passos Coelho para solucionar o défice das contas públicas do país e seu endividamento consequente.
    Acabar com um feriado de comemoração de uma festa religiosa arreigada nas tradições e cultura do povo português é simplesmente caricato e tentar resolver um mal com um mal maior, foi bem expresso em duas passagens: “o martírio dos portugueses” e “o país será fustigado com várias pragas”.
    Os portugueses estão a deixar desfigurar e esvaziar a sua cultura e história (“Corpus Christi” e 1º. Dezembro) e a deixar espezinharem-se ( abolição dos 13º salário e subsídio de férias) por um governo de tecnocratas vazios de sabedoria e de sentimentos culturais e patriotas.
    Espero que os portugueses acordem e defendam o que é seu por herança consuetudinária de mais de 868 anos.

  5. Obrigado Sr, Xico pelo conselho, mas é isso mesmo que eu fiz e faço – li, durante vários anos, tudo sobre o Concílio Vaticano II, leio sempre os livros sagrados da Bíblia Católica e também da Bíblia Cristã (Protestantes) com os Livros Apócrifos, estudei Teologia e continuo lendo, de vez em quando, tudo o que se refere às Igrejas Cristãs, incluindo as Católicas, nomeadamente escritos de Joseph Ratzinger, dos quais sublinho “Introdução ao Cristianismo”, “Escatologia”, “Teoria dos Princípios Teológicos”, “Caminos de Jesucristo”.
    Mas afirmo e comprovo que as Religiões anteriores às Religiões Cristãs, são muito mais sábias e realistas do que estas últimas, que são uma caricatura dos seus princípios de Sabedoria Divina de todas as Idades.

    • xico says:

      Ainda bem para si. Mas há que saber ler nas entrelinhas, perceber a ironia do texto, como o do título deste post. Perceber que nem o seu autor nem nenhum dos comentadores quis afirmar que Deus tinha corpo. Isso não conseguiu fazer.
      Espero que em nenhum desses livros que leu tenha visto tal afirmação, mesmo na redudância de ler duas bíblias. (coisa desnecessária uma vez que a dita católica tem todos os livros da protestante e mais alguns).
      Folgo que tenha tantas certezas e provas. Eu só tenho dúvidas.

  6. Xico escreveu: ” Isso não conseguiu fazer”. Como assim? Não leu o que escrevi posteriormente quando o autor do blogue me desafiou a comentar o texto. E estive à vontade e disse: “.O texto é uma bem conseguida sátira, etc.”. Quando disse que lia a Bíblia Católica e a Bíblia Protestante, acrescentei nesta os Livros Apócrifos, que foram excluídos da Bíblia professada pela Igreja Católica de Roma.
    O número dos livros apócrifos é maior que o da Bíblia canônica. É possível contabilizar 113 deles, 52 em relação ao Antigo Testamento e 61 em relação ao Novo. Estes livros não constam da Bíblia dos Católicos Romanos, mas constam da Bíblia da Igreja Católica Liberal.
    Tenho certezas e provo-as porque EU SOU.

    • xico says:

      Não li efectivamente. Por isso me retrato. Quanto às bíblias só referi que quando se lê a católica está a ler-se também a protestante embora aquela tenha mais alguns livros. Quanto aos apócrifos não estão numa nem noutra, mas não deixa de ser interessante a sua leitura.
      Embora me assuste sempre com os homens cheios de certezas, fico contente por si.

  7. Ok. Sr. Xico. Também fico feliz consigo porque sou defensor da harmonia e prezo por demais a PAZ.
    Sobre a Bíblia, é comum falar-se em Bíblia evangélica e Bíblia Católica. A bíblia evangélica tem sete livros a menos em relação à bíblia católica. Estes livros são: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Baruque, Sabedoria e Eclesiástico.
    Os documentos chamados apócrifos pela ortodoxia, os escritos que não foram aceites no cânone bíblico, mas que tratavam dos mesmos assuntos do Antigo e Novo Testamento.
    A fundamentação da proclamação da Igreja, o Kerygma da morte e da ressurreição do Cristo, transformou Jesus do maravilhoso instrumento divino que trouxe a boa nova do Reino dos Céus na pr´pria boa nova. Com isso o mensageiro divino tornou-se a mensagem de Deus. O triste corolário dessa mudança de perspectiva é a pouca importância dada pela Igreja aos ensinamentos do Mestre.
    Quis a providência divina, no entanto, que alguns exemplares dos antigos documentos anatematizados pela Igreja fossem preservados, chegando até nós, como os Atos de Tomé, os Atos de João, o livro Pistis Sophia e os Livros de Ieu, entre tantos.

  8. “Ninguém pode agredir Deus!”
    Gostaria de esclarecer o meu comentário anterior sob o título em epígrafe. Também eu ali fui irónico e desmistificador de algumas mentalidades ligadas à Igreja Católica Romana.
    É óbvio que podemos falar em “Corpo de Deus”, figurativamente, significando o Universo.
    A Lei do Sacrifício, que produz o desenvolvimento do Espírito, é também aquela pela qual os mundos são criados e sustentados. Todas as religiões, sob símbolos diversos, colocam o sacrifício no início da manifestação divina. Por um acto de sacrifício espontâneo, o LOGOS impõe um limite à sua vida infinita e se manifesta para a emanação do Universo. Pelo sacrifício este Universo é mantido e, finalmente, pelo sacrifício o homem alcança a perfeição.
    Seguindo os ensinamentos da Bhagavad-Gîtâ, é evidente que “o mundo está ligado pela acção” e cada acção realizada é um novo laço. Porém, a acção executada como fazendo parte da actividade divina, quando aquele que a executa não é nada além do que o agente que nada busca e nada deseja para si como um eu separado, uma acção tal, oferecida como sacrifício, não se liga a seu autor, porque então é o Todo que opera através da parte e não a parte que actua por si mesma. A acção se liga ao homem, “excepto aquela que é feita como sacrifício”. Esta é a via que conduz à liberdade.

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