A Beleza

adão cruz

A mais bonita de todas a mais bonita da festa a mais bela do mundo.

Uma estrela que caiu lá de cima e rolou por ali abaixo percorrendo as ruas da cidade a luzir e a cantar de uma forma quase imaterial quase sonhada quase santificada.

Há muito que a beleza me não enchia de tanta poesia há muito que os olhos se não molhavam desta forma há muito que eu não sabia dizer coisas assim com tanta verdade.

Os rios correm para o mar mas tu és um rio que nasce no mar e avanças sobre mim afogando-me nas tuas ondas.

Parecendo às vezes um lago tranquilo de um qualquer paraíso entras em mim como um tornado revolves tudo até ao fim de mim mesmo e quando a tua força acalma restituis-me sob a forma de um verso ou de um beijo a minha própria identidade nua e crua.

Os teus lábios são a força da vida a contemporaneidade da existência a aniquilação da mentira universal que o homem carrega aos ombros de geração em geração entre os esgares da estupidez humana.

O que nessa manhã eu ouvia não eram Kiries e Aleluias mas a tua voz deliciosa a projecção da tua beleza vivente e amante o ecoar da tua presença nos montes e vales da existência.

Não te deixes embrulhar em papel de seda ainda que amanhecido de sol e anoitecido de estrelas para que te ofereçam aqui e ali como prenda banal.

Tu não és uma prenda e muito menos banal.

Tu não és de se mostrar mas de se viver.

Tu és uma mulher.

Não posso deixar de to dizer por um lado porque não consigo deixar de to dizer por outro lado porque ninguém sabe dizer-to tão bem como eu e ainda porque eu sei que dizê-lo a ti não é dizê-lo a qualquer pessoa a qualquer pessoa que não tenha a volúpia a paixão e a carência que dão a alma à vida e o sentido ao existir.

Nem a ciência nem a arte me dão a realização humana da tua presença.

Olhar-te é mais do que tudo na complexidade da vida ver-te é tudo o que preciso para encher a alma.

Tão simples como isso.

No entanto sabes bem que não sou louco.

Formalmente não me pertences mas antes não me pertenças no sentido folclórico da vida e sejas minha como elemento essencial da inquietação.

Sei que morro por dentro a pior das mortes se não te abraçar se não te apertar contra o peito.

Mas por dentro tenho eu morrido lentamente toda a minha vida e vou morrendo todos os dias.

Penso que o mesmo se passa contigo somos singularmente iguais na forma de ser.

Mas não te deixes morrer pois são tão raras as vidas.

Não te deixes secar pois são tão raros os cactos intumescidos.

Não te deixes apagar pois são tão raros os vulcões.

Tu és um rio impetuoso tu és um ventre de fogo tu és uma presença de início de mundo um pedacinho de céu caído do firmamento e que anda por aí tropeçando nos caminhos da vida onde ninguém sabe o que é um pedacinho de céu.

Só eu sei.

Por isso te quero por isso te reclamo como criação da natureza pintada por mãos e tintas que a vida banal e vulgar desconhece.

Comments

  1. maria celeste d'oliveira ramos says:

    Sim muito belo

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