Paulo Rangel e o BPN

Não interessa apenas quem diz, mas o que diz

bpnNa edição do Público de hoje, Paulo Rangel levanta uma série de questões pertinentes a propósito do BPN; sobretudo da avaliação pública do que o actual governo está a promover no domínio da privatização do famigerado banco, a favor do BIC de Amorim e Isabel dos Santos, dirigido por Mira Amaral. Rangel questiona indirectamente a ética da forte injecção de dinheiros públicos, por aumento de capital (600 milhões de euros) e  através de um recente empréstimo da CGD (300 milhões), para transaccionar um banco por, apenas, 40 milhões.

Tudo isto sucede, diz ele, num momento em que o governo está a impor aos portugueses um programa de medidas de austeridade, cuja legitimidade tem de ser irrepreensível.

Discordante da nacionalização do BPN desde a primeira hora, devido à megalómana ideia de risco sistémico do sistema bancário, Rangel refere a opacidade da operação em curso, e respectivos custos, como, de resto, sublinhei há dias, neste texto.

Subscrevo, na íntegra, o artigo do deputado europeu do PSD e permito-me destacar as seguintes passagens:

O facto mais grave continua a ser o misterioso processo criminal, em que, para lá da saga de Oliveira e Costa, ninguém apareceu e nada foi esclarecido. Como é possível que uma fraude bancária deste jaez e deste calibre se resuma à imolação de uma só figura? Como pode desconhecer-se por completo o que realmente conduziu um “pequeno banco” a um buraco financeiro gigante? Que negócios, que riscos, que fraudes explicam esta deriva sem fim? Como pode um caso destes arrastar-se equívoca e sorrateiramente nos meandros da justiça criminal?

e esta:

A par das vicissitudes da justiça penal, desenvolveu-se uma sensação de imbróglio opaco em volta dos termos e condições do resgate do banco, aí compreendida a operação de privatização. Persiste um défice de transparência e um défice de prestação pública de contas. Em primeiro lugar e sob a alçada do Governo anterior, no que diz respeito à nacionalização e aos seus contornos. Permanece sem explicação a exclusão da SLN e dos seus activos, subsiste sem esclarecimento a quantidade de capital injectado no BPN pela Caixa Geral de Depósitos. Mudados o Governo e a administração da Caixa, já era tempo de todos sabermos o que se passou.

e finalmente a seguinte:

Eis por que andou mal – francamente mal – o grupo parlamentar do PSD (e também o do CDS) ao rejeitar uma nova comissão de inquérito, ainda que tivesse de moldar os seus objecto e âmbito. Enquanto a justiça tarda em dar resposta e o executivo demora na função de tudo explicar, só o Parlamento – representante por excelência dos contribuintes – pode apaziguar esta inquietação.

Para um governo que se ufana de rigor e transparência, este caso BPN é paradigmático quanto a manobras de bastidor e merece, de facto, ser esclarecido de vez. Espero, porém, que não seja o loquaz Miguel Relvas a fazê-lo. Dos poucos que o ouvem, restam ainda menos aqueles que acreditam na palradora criatura. Nem mesmo Paulo Rangel, repito, militante e deputado europeu pelo PSD.

Comments

  1. Tiro ao Alvo says:

    Aqui está um assunto de grande interesse, que não tem sido convenientemente acompanhado pela comunicação social. A mim, choca-me, especialmente, a paralisação do nosso sistema judiciário: que anda a nossa justiça a fazer, depois das denúncias públicas sobre os desvios feitos pelos altos dirigentes daquele grupo? Por que é que só um passou ela cadeia, onde, escandalosamente, teve tratamento VIP, repetido na Assembleia da República, onde foi recebido como um senhor?

  2. Luís says:

    Ora aqui está um excelente tema para os nossos “explicadores às massas” Marcelo Rebelo de Sousa, Sousa Tavares, Luís Delgado, Marques Mendes, José Vitorino, Mira Amaral “mira perdigoto”, a tia Helena Matos, etc. podiam explicar aos portugueses.
    Seria também um excelente tema para ser investigado por jornalistas que se prezem.
    É que já houve alguém que fizesse as contas e o resultado é que nem os franceses aquando das invasões conseguiram roubar tanto ( e eram muito mais).
    Mas está “quieta ó Rosa” que isto de abandonar a zona de conforto é só para os outros.

  3. João Silva says:

    Todos falam, todos lançam palpites, mas o que é certo é que há muitas coisas por explicar, aliás todas, desde o risco sistémico ao risco de venda ao BIC, porque seria é a razão e neste caso, não me parece que esse seja a maior virtude do intervenientes.
    Mas para além desta saga, como é dito, todos estão impunes, apesar das barbáries cometidas contra o estado português, há pessoas, sim porque se trata de pessoas, mais concretamente familias inteiras que, nada tiveram a ver com as falcatruas cometidas e têm estado a pagar uma factura demasiado pesada, cujo recibo de quitação ainda está para se ver. Falo naturalmente dos funcionários que, apesar dos 4 anos, sim quatro anos, porque esta novela começou no inicio de 2008, têm estado a ser injustiçados e tratados como se o crime tivesse sido cometido por eles. Têm mantido as portas abertas e minorando na medida do possível um descalabro maior, no limite a liquidação imediata, preferível à gestão danosa que lhe tem sucedido pós-nacionalização. É preciso investigar este processo na sua plenitude, com uma justiça que prime pela imparcialidade, identificando os prevaricadores, que os há e todos sabemos onde estão, menos o PGR e demais assistentes de bordo dum navio que vai naufragando.

    Nacionalizar sim, foi a medida adequada, no tempo era esse o risco, agora importaria perceber porque é que o processo se arrasta imune e impune, ao ponto do governo se ter que prostituir e ainda pagar para ser usado e pelos vistos abusado…..

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