Nos últimos dez a quinze anos, várias vozes – com uma desfaçatez cada vez maior – têm defendido que a qualidade dos professores é o principal (ou o único) factor de que depende o sucesso dos alunos (mesmo que não haja sequer a preocupação de se saber exactamente o que é o “sucesso dos alunos”).
Na realidade, a repetição dessa ladainha tem servido para justificar várias medidas que deveriam escandalizar qualquer cidadão que se preocupe verdadeiramente com a educação dos jovens.
Colocar quase exclusivamente a responsabilidade do sucesso dos alunos no desempenho dos professores serve, antes de mais, para esconder a importância de muitos outros agentes sociais e individuais (entidades oficiais, meio socioeconómico, encarregados de educação, etc.). A própria interpretação dos rankings torna-se, deste modo, muito mais fácil, permitindo aos simplistas de serviço falar, com a descontracção dos ignorantes, em “escolas melhores” e “escolas piores”.
Nuno Crato reciclou e aprofundou essa ideia, agradecendo sempre o caminho desbravado por Maria de Lurdes Rodrigues e por Isabel Alçada. O mito “desde-que-o-professor-seja-bom-tudo-se-resolve” permitiu-lhe, então, aumentar o número de alunos por turma, como é fácil perceber: se o professor fosse bom, a quantidade de alunos dentro da sala seria indiferente.
Há vários estudos sobre a relação entre o número de alunos por turma e o sucesso educativo. O Conselho Nacional de Educação publicou um há pouco, já comentado pelo Paulo Guinote. Junto às críticas feitas a ausência de qualquer inquérito feito aos professores: sem pôr em causa a realização de estudos, não é possível tratar este tema apenas com base em estatísticas e desvalorizando os contributos de quem está no terreno.
Tiago Brandão Rodrigues foi rapidíssimo a revogar os exames. Trata-se de uma medida fácil, porque não tem custos e porque faz parte das fantasias de uma esquerda pouco pensante.
Muito mais premente do que acabar com exames, pelo menos por estar ainda a decorrer o ano lectivo, seria diminuir o número de alunos por turma, mas isso acontecerá paulatinamente (ou nem isso), o que é grave, uma vez que que essa diminuição é fundamental para melhorar as condições de aprendizagem (não só, nem sobretudo, porque atenua os problemas de comportamento). Amanhã, vemos isso.
Leituras complementares:
Problemas de comportamento aumentam em turmas maiores
A turma de Nuno Crato tinha mais de 30 alunos
Nuno Crato: ignorante, irresponsável ou mentiroso?
[…] A modernidade trouxe-nos (e continuará a trazer) recursos excelentes que podemos e devemos aproveitar. Procurar motivar os alunos é, evidentemente, fundamental, especialmente se não nos esquecermos de que há muitos outros factores que influenciam o rendimento e o (des)interesse dos alunos, como o número de alunos por turma. […]