Do Egipto a Lutero, numa conversa sobre a Escola a Tempo Inteiro

O mais novo vai ter teste a história e o Egipto é um dos temas em avaliação. Na dimensão religiosa da temática ele percebeu a importância do estudo “destas coisas porque elas explicam as nossas religiões”. Lá foi caminhando a conversa e o mais velho, “especializado” em Lutero (no ano passado) foi dizendo que a “aposta dos Protestantes na Educação foi importante porque as pessoas tinham que ter acesso livre à palavra de Deus.”

Chega à conversa a aula de Geografia onde a Europa foi apresentada às fatias, a do sul, a do norte. Sugeri a ligação entre as dificuldades do sul, hoje conhecidas, e a dimensão histórica que tínhamos conversado. E a conversa continuou pelo jantar dentro.

E, lembrei-me de partilhar consigo, caro ou cara leitor(a), esta pequena prosa a propósito da notícia de hoje do público :”Empresas obrigadas a dar horário flexível a mães e pais.”

Já o escrevi e mantenho – sou completamente a favor de Educação a tempo inteiro, como resposta à não Educação. Houve um tempo – talvez o meu, em que a rua fazia parte da minha educação. A responsabilidade era partilhada por todos os putos, ali no Meiral, nas ruas de Rio Tinto. Cada um de Nós, além da responsabilidade individual era igualmente responsável por “tomar conta” de todos os outros. E, todos, mais novos e mais velhos, rapazes e raparigas, aprendiam com todos. Claro que havia sempre por perto, muitas mães, que à janela gritavam quando os horários das refeições apertavam. Havia toda uma rua para educar cada uma das crianças.

Hoje, essa rua morreu e temos crianças com 10 anos a trabalhar (aulas!) 39 horas.

Obviamente, um enorme absurdo.

Mas, pelo lado dos pais, a situação não é melhor.

Um pai que esteja a trabalhar no Porto, vivendo numa das cidades da cintura urbana, terá, a correr bem, pelo menos uma hora de viagem para cada lado. Vamos imaginar que entra às 9h e sai às 19h. A correr bem, sairá, por exemplo, de Canidelo, às 8h e regressa às 20h.

Perante esta dificuldade e sem família como suporte – os avós estão também e ainda no mercado de trabalho – fazemos o quê?

Creio que, a primeira resposta passa por envolver a comunidade na resposta. E, sim, na comunidade, também estou a incluir a Escola. Agrada-me, por isso, o caminho que há três anos começou a ser construído em Gaia e que permite, entre outras coisas, ter as escolas do 1ºciclo (jurisdição municipal) abertas das 7h30 às 19h30, bem como no decurso das pausas lectivas. Será também importante que, para além das IPSS do Concelho, o desenvolvimento do Gai@prende + passe por envolver mais outras instituições, nomeadamente clubes e associações. O desporto, a música e o teatro são algumas das áreas a dar prioridade.

Mas, esta é apenas uma parte da resposta e para o presente. Tem que acontecer uma mudança maior e essa passa pelo mundo do trabalho. Os pais com filhos em idade escolar (até ao fim do 2º ciclo?) deverão ter tempo para estar com os filhos.

Para os ajudar no estudo? Sim.

Para brincar? Claro.

Para os chatear? Evidentemente.

Só que este não parece ser o tempo desta discussão. Mas, não há outra forma de forçar a mudança. Creio que, neste ponto, as associação de pais, poderão ter um papel decisivo, quer a apontar dificuldades, quer a mostrar boas práticas, que sendo escassas, existem.

Pela saúde das nossas crianças, esta discussão é uma prioridade!

Comments

  1. Ana A. says:

    Do meu ponto de vista a revolução, urgente, tem de ser forçosamente no mundo do trabalho.
    De contrário, não passaremos de paridores de gente para ajudar na demografia, e as relações parentais e sociais o novo “Shangri-La”…

  2. — De acordo.
    Educação, pais/Enc.Educ., escola cidadania, trabalho, economia, política, … tudo está ligado.

    — [ Meiral, RT ? e R. Esteves, Escola de S. Caetano (‘Monte da burra’) … ex-vizinho? ]

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