Depois do pato com laranja, a nouvelle cuisine ortográfica inventou uma receita: o “pato com o diabo”. Não me espantaria que tivesse origem na criação de patos de silêncio, esses simpáticos palmípedes anunciados ao mundo graças aos bons ofícios do chamado acordo ortográfico. [Read more…]
A máquina do tempo: Parabéns Saramago!
A máquina do tempo: Caim – a Bíblia em causa
gr
ado e o profano, nunca se eximindo de invadir áreas que para outros são sagradas, não pudesse ver criticado aquilo que considera sagrado.
Bíblia-Saramago
Acabei de ler no Público o artigo de Frei Bento Domingues intitulado “Tempo glorioso para a Bíblia”. Embora o assunto Bíblia-Saramago já cheire mal, gostaria, uma vez mais, e dado que se trata de um intelectual religioso do estatuto de Frei Bento, dizer algumas palavras. Claro que não gastaria um minuto a contestar réplicas de Pulido Valente ou Richard Zimler.
Várias vezes tenho dito que qualquer discussão que meta a fé como argumento, não interessa. Dá sempre em águas de bacalhau. Uma coisa é discutir a fé como fenómeno social, outra é discutir o que quer que seja usando o argumento da fé.
Está por de mais dito que não move a Saramago ou a qualquer ateu, o mais pequeno desrespeito pelo livro histórico chamado Bíblia, um livro redigido durante séculos, por dezenas de gerações, escrito por sábios e ignorantes, caldeado, alterado, adulterado e interpretado pelos diferentes poderes e interesses que atravessaram mais de um milénio. O que está em causa é que, para os crentes, há um deus por trás de tudo isto, um deus a pegar na mão dos que escreveram a Bíblia, enquanto para os ateus e não crentes, a Bíblia é um livro que tem o respeito que merece, mas não deixa de ser anedótica, quando é impingida como sendo escrita sob o desígnio de deus.
O que me revolta é o que se infere das palavras de Frei Bento e do clero em geral, isto é, a ideia fundamentalista da igreja de que só uma interpretação cristã sobre o sentido metafórico do Antigo Testamento, pode ser tida como profunda e culta, e que qualquer outra interpretação é ignorante e inculta. Ninguém fora da igreja tem a capacidade intelectual e os conhecimentos necessários para se atrever a discordar de suas excelências os sábios da fé.
Terminava dizendo que os não crentes, os ateus, os não criacionistas e os cientistas têm o mesmo direito de dizer que a capacidade intelectual e a cultura dos defensores das verdades bíblicas, nem de longe nem de perto é suficiente para entenderem livros como “A desilusão de Deus” e “O Espectáculo da Vida”, de Richard Dawkins, estes sim, livros profundamente credíveis, dificilmente contestáveis por quem quer que seja, livros aceites por praticamente todos os investigadores e cientistas mundiais, cuja capacidade intelectual está muito acima da que possa ser atribuída a qualquer mente, só pelo facto de ser crente ou ateia.
A máquina do tempo: é a arte necessária?
he
r.
Embora não tenha consciência disso, a sociedade necessita do artista e da arte É a arte, entendida nos seus múltiplos aspectos, que leva o homem a compreender a realidade, e mais , a suportá-la e, até a transformá-la, tornando-a mais humana. A arte é indispensável. Sem ela a humanidade fica amputada e confinada à sua animalidade. Sem arte não há humanidade. Poderá haver robôs ou produtos da engenharia genética. Mas já não serão homens.
Enquanto houver seres humanos, a arte não morrerá.
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Caim e Abel ou a luta de classes
Caim conduzindo Abel à morte,
quadro de James Tissot
Não pretendo falar do livro de Saramago, apesar de ser de muito bom. Mas, de onde será que Saramago retirou a ideia de escever sobre Caim e incluir outras personagems e narrativas bíblicas? E de que seria a idia de por em debate a um escritor materialista com um sacerdote católico que carece de ideias materiais, mas está cheio de ideias virtuais?
E defino virtual à Hegel: é necessário pensar antes para identificar o objecto depóis. Hegel era presbítero e filosófo luterano, e académico na Universidade de Bonn e, a seguir, da de Berlim.
Mas o que interesa é esse debate: o livro está em qualquer livraria. Carreira das Neves, colega de Cátedra e de vários júris, apenas sabe falar de ideias apocalípticas e denegrir quem não sabe teologia. José Saramago, esse meu amigo de jantar com Jorge Sampaio na Presìdência da República e colega – se puder comparar, quem me dera – na escrita, com a humildade de todo escritor laureado, apenas é capaz de dizer: escrevi o livro, porque aconteceu.
Mas José Saramago é ribatejano e de partido político de esquerda e nos delicia com uma história romanceada da factos retirados dum livro, também cheio de ideias virtuais, mas que ele materializa.
Porquê?
Porque tem lido o livro primeiro da Bíblia cristã, intitulado Génesis, Capítulo 4, versiculos 21 a 26. É narrada a história de dois irmãos de sangue, filhos de pais injustiçados por terem desobedecido uma divinidade que está em todas partes, mas que ninguêm ve.
Apenas que, nos tempos Bíblicos, aparecia perante os seres humanos sob diversas formas e falava directamente com eles Divindade arrogante que tudo sabia e tudo punia se fosse desobedecido. Como aconteceu com os pais de Caim e Abel: Nascidos, ou,mais bem, criados no Éden ou jardím das delicias onde não era necessário trabalhar mas podia-se comer de tudo, excepto de uma ávore denominado da sabedoria, exactamente a ávore que os nossos progeniores foram buscar, como narra a Bíblia, mesmo livro, Capítulo 3, versiculos 3 a 24.
Não se espante o leitor: os denominados Escritos do Mar Morto, escritos em pergaminho, são capítulos muito curtos, que fui capaz de estudar por meio de aparelhos electrónicos – se são tocados, partem-se. Li por estarem preservados na minha britânica Universidade de Cambridge, escritos em Aramaico com tradução simultânea ao inglês e outras línguas.
Aí se diz que os filhos de pais desobedientes podem ter esse gene hereditário. Como aconteceu com Abel, o filho obediente, por ser pastor, oferece o melhor do seu rebanho ou porção de gado lanígero para apagar a maldição, enquanto Caim, por ser lavrador sacrifica o pior fruto da sua terra. Pergunta a divindade se está zangado com ela, Caim responde que não. A divindade refere que Abel tinha dado o melhor de si, e pergunta onde anda o teu irmão. Responde Caim: sou por acaso, guarda do meu irmão?
Esta especial predilecção é, no meu modo de ver e, adivinho,do José Saramago, o começo da luta de classes. Caim não tinha má intenção, apenas sentia dor e fraqueza por não ser o preferido nem dos seus pais nem da sua divindade.
Para ganhar sítio, tipo Comuna de París de 1871, quer ver desaparecer o rival e o mata. Como na França do Século XVIII, as relações de interacção pioraram: há revolução de operários da Associação Internacional, organizada por Jenny Marx, Karl Marx e Engels, os corpos são escondidos pela guarda imperial, como Caim esconde o corpo do seu irmão. Ele era guarda do seu irmão por meio da solidariedade fraterna, que nem Luís Napoleão nem Bismarch tiveram: matavam havia mais operariado para substituir.
Os revolucinários são banidos, como Caim que se ofende e diz que a punição é mais forte que o crime cometido: a terra envenenada pelo sangue do irmão nunca mais renderia frutos, como acontecera com os banidos na segundar revolução na França. Os subversivos tinham dossiers criminosos internacionais e não havia trabalho para eles, eram levados às cadeias. Como os filhos de Caim, até nascer o seu filho Enoch, e, daí em frente, até nascer o seu neto Me-thu’ shalem. Este viveu mil anos e acabou com a maldição por ser um homem soldário e amigo dos seus, bom pai e melhor marido das suas mulheres. Pelo que esta hitória da Caim ensina que a revolução é perigosa e dura imenso tempo, até ao dia que alguém acalma as desavenças, como Blanqui na França e a família Marx, no mundo inteiro.
Sem ler a Bíblia e textos marxistas ao mesmo tempo, é impossível mudar o fio da meada. Como fizeram o Sacerdote e o Escritor. Caim e Abel prenumciam a luta de clases, é o que me parece, que, queira ou não o autor, está contido na mensagem de Saramago em forma de livro, e nas palavras virtuais de quem nunca conhecera a pobreza, com Saramago conheceu, filho e neto de jornaleiros do Ribatejo, ele proprio, como Caim, a cultivar a terra com as sua mãos…até passar a ser serralheiro, em Lisboa. Conhece as vidas dos Caim, como se fosse a sua prória vida.
Será que Carreira das Neves a conheceu?
Será uma luta de classes o debate que vi e li, entre um betinho e um descosido a triunfar na vida, caso o Nobel seja um triunfo? Mas Caim não precisa de Nobels para o triunfo de um português.
Carreira das Neves, faça como Ratzinger, leia pelo menos a Ideologia Alemã dos Marx!
Carlos Vidal – Saramago deita a arte fora*
Esta conferência de imprensa é deprimente e desoladora. Vi um minuto e, por favor, mais não. A crueldade e o incesto está em toda a história da arte. A Bíblia é uma grande alegoria da condição humana e das suas misérias. Inspirou quase toda a história da arte.
Só pode satisfazer-se com estas declarações de Saramago quem com a arte não se relaciona, nunca se relacionou, nem se relacionará. Sem o saber, Saramago deita a arte quase toda fora.
E não é preciso ser "Igreja" (que não sou nem nunca fui) para afirmar isto.
Comunista e ateu também eu sou, mas dediquei anos e anos de vida a Caravaggio (uma das bases do meu doutoramento já entregue há algum tempo). Não pode vir um tipo de Lanzarote, tenha o prémio que tiver, deitar isto fora, nem o Caravaggio, nem o meu trabalho sobre o dito cujo.
É só pensar um pouco: Saramago ataca a arte e não a Igreja (instituição que desconheço de todo).
* O Carlos Vidal, «blogger» do «5 Dias», comentou desta forma a conferência de imprensa de José Saramago a propósito da polémica que já vai longa. Entendi que este comentário merecia ser transformado num «post». O Carlos concordou.
Escândalo: Manuel António Pina compara Deus à Ivone do «Caminho das Indias»!
Li e pasmei. Manuel António Pina, homem das Letras, bem considerado, compara na sua habitual crónica no JN o Deus da Bíblia à personagem Ivone do «Caminho das Indias», interpretado pela actriz Leticia Sabatella.
É um herege, Manuel António Pina. E ainda por cima, não percebe nada de Deus nem do «Caminho das Indias». Devia ter vergonha!
Ainda Saramago
Tinha prometido a mim mesmo não tocar mais no assunto. Mas o que li nestas últimas 24 horas foi de tal ordem, que a gente, por mais sereno que seja, não resiste. Ainda que amargurado, não por Saramago, que tem as costas bem mais largas do que eu, mas pelo facto de me ser custoso viver no meio desta vergonha e desta falsidade, voltei às teclas do computador.
Saramago diz de sua justiça
Temos falado aquí muito de Saramago e do seu novo livro «Caim». Deixemos Saramago dizer alguma coisa. Este é um excerto da conferência de imprensa que deu ontem.
Intelectualidades (a propósito de Saramago)
BLOGGER CONVIDADO – Francisco Leite Monteiro
Aguenta-te Saramago
A intolerância
"As Horas de Maria" deve ter sido o pior filme que vi na minha vida. Não saí da sala, esgotada, porque a malta se foi entretendo a mandar umas bocas, e concurso de bocas em sala de cinema sempre espairece. Mas porque me meti eu e mais umas mil pessoas ali dentro, sabendo de antemão que a relação do "realizador" António de Macedo com o cinema era a de um homicida com a sua vítima?
Por causa da propaganda de uma Igreja, neste caso a Apostólica Católica Romana, vulgo ICAR.
Encarniçaram-se de tal forma contra a película apenas porque supostamente tocava um tema religioso quando na realidade apenas apalpava o tédio na sua forma mais pastosa, que aquilo foi sucesso de bilheteira garantido.
É um episódio tantas vezes repetido que já chateia.
Fizeram o mesmo com o Je vous salue, Marie, os Versículos Satânicos ou o Evangelho segundo Jesus Cristo, obras estas de autores com obra, e que dispensavam a sanha propagandística das religiões.
Existe a presunção entre os fanáticos religiosos de a sua crença ser mais do que simplesmente a sua crença, e glosar os seus dogmas uma blasfémia.
Arrancar os cabelos porque lhes tocaram no tal de sagrado, que não passa de uma convicção pessoal a que ninguém mais está obrigado, saudosos do Index Librorium Prohibithorium só abolido em em 1966, resulta sempre em publicidade gratuita.
E isso Saramago bem o sabe.
A dourada pirâmide de Caim
A Eneida, A Odisseia, Os Doze Césares, Gilgamesh, O Livro dos Mortos ou o Hino a Aton, são alguns daqueles textos que para sempre ligarão o Ocidente a um passado que em termos civilizacionais não se encontra assim tão distante, nem no espaço – o cadinho do nosso ethos, o Mediterraneo e a Mesopotâmia – e muito menos ainda, no tempo.
A Bíblia consiste numa amálgama de textos, uns destinados a contar a experiência do povo de Israel, outros que foram assimilando aspectos considerados geralmente aceites, como absolutas verdades originárias da história oral dos povos que habitaram a vasta área marginada a oeste pelo Nilo e a este pelo Tigre e Eufrates.
O Dilúvio, o sonho da Terra Prometida – este nosso Shangri-la do Ocidente indo-europeu – e toda uma série de relatos edificantes que estabeleceram um primado ou conceito de ordem moral, procuravam uma identificação unificadora dos ainda relativamente escassos contingentes humanos, em alguns casos dispersos por um território que à época era infinitamente mais vasto e de difícil acesso para aqueles que quiseram criar raízes, sedentarizando-se. O Êxodo consistiu na lendária base fundamental que uns milénios mais tarde, justificaria a criação de um Estado que se formatou em torno dessa acreditada gesta. Pouco importa se Gilgamesh já tivesse experimentado a enxurrada que dos céus inundou aquele todo o mundo que os semitas, egípcios e até mais a norte os anatólios, consideravam como completo e único. Se o Pai Nosso é fruto da fervilhante criatividade e imaginação de Amenófis IV trasmutado em Akhenaton, a verdade é que hoje surge como a suprema oração, o fio condutor da conversa, ou melhor, do implorar do comum mortal de qualquer uma das religiões do Deus Único .
Vestes sagradas, cerimoniais complexos e carregados de fumos de incensos, chamas purificadoras, águas milagrosas e livros erguidos em direcção à luz solar – talvez aquele deus que ainda resiste no subconsciente da maior parte dos homens -, fazem parte de uma tradição que ininterruptamente se adaptou a novos espaços, realidades étnicas – adequando os ritos e a crença ao passado pagão – e geográficas. Loucos de Deus sempre existiram e sempre existirão, numa quase sempre solitária interpretação de um mundo ao qual, soberbamente se julgam destinados a servir como vingadores de um ente superior, basicamente austero e avesso ao negregado hedonismo. Grosso modo, as histórias edificantes focam contextos muito específicos, onde invariavelmente a fixação da hierarquia, a morigeração de costumes, ou a simples necessidade de zelar pela perfeita saúde física das comunidades, impunham as regras a acatar universalmente. Os cataclismos naturais impuseram algumas semelhanças entre textos de culturas tão distantes quão diversas em vários continentes. A própria necessidade e expressão artística – muitas vezes fortemente condicionada pelo engrandecimento do poder -, levou à adopção de soluções técnicas que os mais crédulos ainda hoje, pensam ser um elo muito longínquo de um passado comum, outrora ligado por um fabuloso continente perdido pleno de super-homens, afinal, a perdida ponte entre nós e o divino.
Bíblias foram queimadas em fogueiras, assim como homens também o foram apenas por acatarem uma versão errónea à luz do oficialismo imperante num certo espaço político e social. O que parece bastante anacrónico e causa perplexidade, é o constante acirrar de posições que de tão irredutíveis se tornam merecedoras da indiferença mais ou menos generalizada. Aqueles que não compreendem – ou fingem não entender – os contextos históricos em que os textos surgiram como uma necessidade para a conformação social, acabam por equivaler-se aqueles outros que à semelhança de autoproclamados filhos de uma das Tribos Perdidas de Israel, vociferam contra os "ímpios" de uma modernidade que não aceitam e querem ver destruída. No fundo, o fanatismo Saramago equivale-se ao de um Menino de Deus, de um Mormon ou de um Hamisch.
O caso deste escritor que nestes dias acaba por preconizar o fim da sua própria pátria de nascimento, parece intencional, decorrendo normalmente de um percurso de vida pautado pelo endurecimento da convicção num destino de predestinado e ao encontro daquele que afinal foi o verdadeiro Mito do Século XX. Pouco lhe importam as histórias, os contos, as experiências e desejos individuais ou colectivos – estes stricto sensu, há que frisar – dos homens que fizeram a pequena e a grande História. O devir de uma supersticiosa certeza, numa constante e maniqueísta liquidação de "inimigos de classe" – descurando assumida e completamente as realidades da inter-permeabilidade entre algumas ou todas -, conduz ao dogma que impõe a destruição do outro. Um dos derrotados do século – e aqui já o alçamos a um muito contestável estatuto que pouco interessa reconhecer ou não -, Saramago finge não ter compreendido a vastidão imensurável de um legado que antes de tudo tenta impor regras onde o conceito de Bem pode ir-se adaptando aos novos tempos e realidades que a sucessão de gerações infalivelmente estabelece.
Para Saramago, a Bíblia parece ser um …manual de maus costumes, crueldade e do pior da natureza humana... Curiosa conclusão que não atende à realidade de outras épocas e á própria necessidade de afirmação da certeza de pertença a um determinado grupo. Apesar disto, não existe vivalma sobre este planeta, que alguma vez tenha escutado uma só palavra do escritor, acerca dos manuais de brutalidades, das cartilhas que impõem pela mais iconoclasta violência, a "construção científica" de um outro homem, tão desumano como Moloch ou tão escravizado a uma quimera como os ilotas. Saramago nem sequer dá conta da clara cópia do preceituado necessário à construção do seu Novo Templo, de uma religião tão tingida de vermelho como as escadarias sacrificais dos aztecas. Pouco lhe importam que as estórias – disso não passam – edificantes da sua religião versem a denúncia, a opressão do imaginado inimigo ou a acefal
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geral em benefício de um imposto dogma. A visão da certeza, do Bem estabelecido pelo Caim da sua Verdade, exclusivamente pertencerá aos eleitos, aos poucos que escolhidos inter-pares, decidem pela amorfa e anónima soma de números em que a humanidade obrigatoriamente se torna, anulando-se como motor da continuidade da própria História.
Agarrado ao encharcado lenço de uma derrota que jamais esperou ver chegar, pouco mais resta ao escritor premiado com o Nobel, senão aferrar-se à sua grande certeza: a metálica matéria. No seu caso, o ouro, não em forma de bezerro, mas da vaidade que lhe garante um final confortável e feliz.
A Bíblia segundo Saramago
Por estes dias apareceu notícia de um inquérito encomendado pela Sociedade Bíblica Portuguesa segundo o qual:
Em breve deve aparecer outro garantindo que a maior parte dos portistas só lêem o Record quando se querem rir, pensei. Para que raio se faz um estudo destes? Para conhecer o mercado? Vai aparecer uma campanha dirigida ao nicho dos ateus tentando vender Bíblias?
Como tudo se explica, descubro agora que Saramago está a lançar um novo livro, na modalidade de lançamento de peso às igrejas.
"A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana" – afirma. É verdade, embora crueldade, natureza humana e sobretudo bons costumes sejam conceitos a enquadrar na História, e ao tempo em que foi escrito o Antigo Testamento esses maus costumes eram apenas os do costume.
Devo confessar que como romance histórico até gosto da Bíblia embora não recomende a sua leitura de enfiada. Prestações suaves, até porque a edição original está perdida e a ordem das parcelas ficou um pouco arbitrária.
Já o Caim de Saramago até pode ser que o leia mas só depois de conseguir passar das primeiras páginas de uma ou duas obras anteriores que repousam na prateleira chamada Um dia destes ainda vos leio mas duvide que seja hoje, prateleira que depende um bocado da minha longevidade, donde como bom ateu sempre afirmo que Deus queira que os leia, e a medicina ajude, é claro.
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