Conversas vadias 18

Mais uma edição das “Conversas vadias”, desta feita à volta de: pandemia, especialistas, Lisboa, juventude, autoridade, cerca sanitária, Serviço Nacional de Saúde, enfermeiros, carreiras, administração pública, remunerações, Fernando Medina, auditoria, manifestação das forças de segurança, China. Para, no final, os vadios fazerem as suas recomendações.

E quem foram os vadiolas? Foram Carlos Araújo Alves, Orlando Sousa, António de Almeida, José Mário Teixeira e João Mendes. Acrescendo a colaboração técnica de Francisco Miguel Valada. E a ausência especial de António Fernando Nabais (sim, é complicado).

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Três notícias convenientes

Santana Castilho

No dia 7 de Setembro, o ministro da Educação reuniu-se com um conjunto de organizações sindicais de professores. Depois dessa reunião inútil, o Governo decidiu, unilateralmente, apagar mais de seis anos e meio ao tempo de trabalho efectivamente prestado pelos docentes. À decisão, a que, para cúmulo, chamou “bonificação”, oponho um argumento legal, inscrito na Lei do OE para 2018 (artigo 19º), e dois argumentos, um de natureza ética, mínima, e outro de índole democrática, máxima, a saber: compromisso assumido pelo Governo em 2017 e a resolução da AR, votada por maioria. Que a hipocrisia e a tendência para a traição de António Costa os ignore, não me surpreende, porque é sinal persistente do seu carácter. Que a opinião pública se deixe tão facilmente contaminar pela barragem de falsas notícias, que tão a propósito vieram a público na mesma altura, causa-me uma enorme perplexidade. Será possível que uma sociedade, que confia os seus filhos aos professores durante 12 anos, aceite vê-los serem humilhados de modo tão soez? Poderão pessoas com particular responsabilidade, pelo acesso que têm aos meios de comunicação, deduzir e concluir de modo tão ligeiro e falso sobre a vida profissional daqueles que lhes ensinam os filhos?
Pretendo neste artigo contraditar o colonialismo noticioso, conveniente mas desavisado, de quantos repetem conclusões parciais e superficiais de relatórios que não analisaram criticamente ou sequer leram, tomando por párias sociais os que ousam resistir à tirania política.  [Read more…]

A retórica do IP3

[Santana Castilho*]

António Costa disse, no lançamento da empreitada de requalificação do troço entre Penacova e Lagoa Azul, que ao fazer obra no IP3 “estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos”. Deixou, assim, bem claro que o dinheiro para as estradas origina a falta de dinheiro para as carreiras e salários e que o não reconhecimento de todo o tempo de serviço prestado pelos professores não é uma questão de dinheiro mas, outrossim, uma questão de prioridades.

A adesão inicial dos professores de esquerda ao vazio do programa político do PS para a Educação ficou a dever-se às chagas que o “ajustamento” deixou e à habilidade de António Costa para se entender com o PCP e com o BE. Agora que esse entendimento abana (se não acabou já), António Costa reduziu o PS ao que sempre foram os figurões incompetentes que propôs para a educação. O significado político da retórica pelintra do IP3 ilustrou-o bem. Dizendo o que disse, António Costa deixou implícito que a negociação que hoje vai recomeçar não pode ser mais que a repetição da coreografia do costume, para tentar desmobilizar uma greve que dura há cinco semanas, com uma eficácia que surpreendeu. [Read more…]

Professores : aberta a caixa da Pandora

Muitas vezes dizemos coisas desagradáveis mas que têm que ser ditas, correndo o risco de sermos mal compreendidos, e até de perder amigos ou relações que estimamos.

Quando abordo a questão dos professores e da escola pública, faço-o por uma única razão. Porque se há coisa que me fez feliz foi a escola; se há coisa em que acredito é que só a educação nos tira da pasmaceira e da miséria, e não só cultural; porque se há profissão que tem influência nas nossas vida é a de professor.

Devo grande parte do que sou a dois/três professores, nada tenho contra os professores, mas tenho contra o estado a que chegou a educação e a dependência da escola pública dos burocratas quer do ministério quer dos sindicatos. E não vejo os professores a lutarem contra isso. Há aqui e ali quem o perceba, mas a maioria está convencida que tudo se resume à bulha de burocratas.

Leiam o editorial de hoje do “Negócios”, está lá tudo o que  escrevi aqui no Aventar. Tudo! Não sou adivinho, nem estou “a armar aos cucos” porque é fácil perceber que ,mais uma vez, o país vai pagar muito caro. Há mesmo frases iguais às minhas, com a diferença que o meu texto foi escrito há 3/4 dias.

Ana Avoila, coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública: “Exigimos a suspensão da avaliação. Vamos travar uma batalha por causa disto”.

Nobre dos Santos, coordenador da FESAP: Os professores têm que seguir um regime equiparado aos dos restantes profissionais”.

A comparação entre as condições dos professores e os outros profissionais são gritantes, desde logo na Carreira.Mais breve nos escalões e com menos escalões; Quotas: regime francamente melhor; Orçamento: a progressão dos professores não está sujeita a disponibilidade orçamental para além de ser mais breve  ; Bonificações: não há bonificações para os restantes funcionários.

A CGTP e a UGT limpam armas : …”um técnico superior pode terminar a sua vida activa sem sequer ter chegado a meio da tabela salarial…mesmo que tenha desempenho “relevante” ou “excelente” a progressão depende das decisões dos dirigentes e da existência de verba para o efeito.”

O meu texto chama-se ” A lógica do Estado Corporativo”, incomodou muita gente, mas não foi preciso esperar muito, em dois/três dias as corporações estão aí !

Um Estado fraco, balofo, acossado por escândalos, com um primeiro ministro que faz da mentira um argumento político, com responsáveis a ganharem balúrdios porque são deste ou daquele partido, ou são família ou são amigos, fortunas individuais a subirem à mesma velocidade que o país empobrece…

Quem chega primeiro ao pote do mel! Eis a questão, o objectivo, o modo de vida!

A política socialista em todo o seu esplendor!

Professores : perplexidades que o acordo gera…

Carta de Rui M. Alves, publicada no DN

As negociações em curso entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores sobre a respectiva carreira, estão a deixar muitos quadros superiores da função pública na mais absoluta das perplexidade, tal é a disparidade entre as condições que já vigoram para estes últimos e aquelas em discussão com a classe docente.

Em cima da mesa está uma versão light de avaliação e progressão, que, ao  invés das restantes carreiras, pretende abolir as quotas na avaliação, consagrar a contagem de tempo de serviço entre 2005 e 2007, e até, pasme-se, manter um período de permanência de 4 anos entre cada escalão, enquanto nas restantes carreiras os quadros qualificados com “bom” no seu desempenho são forçados a esperar cerca de 10 anos até poderem subir de nível remuneratório.

A serem concretizadas tais medidas aos 140 mil professores do ensino público, estes seriam detentores de um estatuto previligiado, relativamente a…outros servidores do Estado, o que seria de todo inadmissivel, pelo que teria de existir obrigatoriamente uma equiparação extensível às outras carreiras.

E isto pela simples razão de que o Ministro das Finanças declarou, aquando da implementação do PRACE, que um dos objectivos do programa consistia na uniformização da multiplicidade dos sistemas remuneratórios e de progressão, até aí existentes no sector público.

PS: que é como quem diz, nós tambem queremos ser tratados tão mal como os professores…

Acordo – o que lá está, não está… Deveria, poderia… parte II

2- A duração das carreiras (cont. do Post I: Dimensão político-partidária)

Em Custóias, algures no fim do século passado, o meu colega Luís diz que a carreira de professor era muito curta. Chegava-se demasiado depressa (26 anos de serviço) ao topo e depois estávamos muitos anos no 10ºescalão. Se calhar ele teve razão antes do tempo.
Com a carreira de Maria de Lurdes, saltamos para mais de 30 anos, isto não considerando que o 7º escalão seria o limite porque 2/3 dos professores ficariam parados. Escrito de outro modo, 2/3 dos professores tinham o seu topo da carreira com 18 anos… mas 3 escalões abaixo do que tinham na carreira Pré-Lurdes.
Com o acordo agora alcançado, ficamos com uma carreira com 10 escalões: 9 de 4 anos e 1, o 5º, de 2 anos. A carreira, a correr “normalmente” fica com 38 anos.

Os 10 escalões da carreira docente
Muito bem a reflexão de António Avelãs (Coordenador do SPGL – o maior sindicato da FENPROF) no Circo Lusitano: [Read more…]