O discurso é um pouco como a Verdade: hoje é uma coisa, amanhã é o seu oposto.
O que importa é continuar a sorrir e a acenar, sorrir e acenar…
Juro!
O PEC 4 e os 80 mil milhões de euros a ele associados
O jornal i sumariza em 15 etapas o caminho que, de 11 de Março até à passada quarta-feira, nos levou ao FMI. Constata-se como a estratégia partidária esteve sempre à frente de tudo o resto. Sempre.
Queria indignar-me mas faltam-me as palavras. Resta-me a reconfirmada desilusão das jogadas para manter o poder.
Entretanto, desde ontem à noite, é conhecida a capa do SOL com um assunto bombástico:
Quando José Sócrates assinou em Bruxelas, no passado dia 11 de Março, o acordo com as medidas do PEC 4 ficou também estabelecido que a esse acordo se seguiria um pedido de ajuda externa a Portugal no valor de 80 mil milhões de euros, apurou o SOL junto de elementos da Comissão Europeia (CE) envolvidos nas negociações.
São 14 horas e não encontrei até ao momento uma única referência ao assunto em outro órgão de comunicação social. Nem a desmentir, nem a questionar, nem a confirmar. Não devo ter, certamente, procurado bem. Só pode.
Adenda [15h00]
Reacções:
Sócrates e a fuga: guião de uma legislatura (II)
Fonte: PÚBLICO online; Processamento adicional: Fliscorno; Gráfico original:
O primeiro-ministro demitiu-se e a situação que era má ficou pior. Mas olhando para este gráfico percebe-se que não é a instabilidade política que nos está a tornar mais caro o dinheiro que pedimos emprestado. Com efeito, apesar do entendimento PS/PSD ao longo de 2010, o custo do dinheiro não parou de aumentar.
Por causa dos compromissos assumidos no passado como as SCUT e as PPP, por causa de irresponsabilidades como o buraco BPN, por causa do despejar de dinheiro a rodos para obras públicas sem a menor preocupação de onde virá ele, chegámos a um ponto em o país está completamente nas mãos do capital estrangeiro, o qual tem um custo crescente. Naturalmente, não estaríamos neste situação se, desde Guterres, não houvesse esta irresponsabilidade de fazer obra sem dinheiro.
A fuga de Sócrates apenas se deveu a ele saber que não conseguiria mais tapar os buracos das contas. Entre pagar o preço político da última década governativa e tentar passar as culpas, mesmo que isso precipitasse o caos, a escolha está à vista.
Sócrates e a fuga: guião de uma legislatura (I)
Onde o nosso herói decide fugir quando colocado sob os holofotes da iminente necessidade de recorrer ao FMI. O filme de uma legislatura incapaz de controlar a despesa pública.
Ficha técnica:
- 11 de Abril está à porta, com 4.532 mil milhões de financiamento a conseguir
- Isto está descontrolado mas alguém há-de levar com as culpas
Demitiu-se
Título: Portugal sob pressão
Título 1º gráfico: juros da dívida pública a 10 anos
Título 2º gráfico: aumento do risco associado à dívida pública (spreads em relação às dívidas públicas a 10 anos)
Fonte: Frankfurter Allgemeine Zeitung (tradução do Google)
O discurso de Sócrates em resumo:
«Bla bla bla bla bla está tudo a correr bem bla bla bla bla o défice de 2010 não vai ser nada 10% do PIB bla bla bla bla este PEC não veio ditado pela Merkel bla bla bla bla.
Bla bla bla este PEC não precisava de ir a votação bla bla bla e não foi a votação para forçar a queda bla bla bla contem comigo para trazer mais do mesmo bla bla bla bla.
Eu quero o melhor para o País. E o País sou eu.»
Umas notas a ter em conta:
- desde Maio 2010, o BCE já comprou cerca de 77.5 mil milhões de euros da dívida portuguesa
- para todos os efeitos, a ajuda externa já cá está há quase um ano
- apesar do fogo de artifício sobre o “bom” desempenho dos primeiros dois meses, afinal no fim de Março nem um tostão sobrará
A crise
Hoje discute-se a crise da República, como agora se diz. Ontem o Presidente da República disse que foi ultrapassado pelos acontecimentos desta crise que, disse ele, começou há alguns dias. Erro. Esta é uma crise que vem de há décadas e, verdade seja dita, não é só de Portugal. É do ocidente e de Portugal ainda mais face, à sua débil economia.
Esta é a crise de um sistema económico que resolveu transferir a sua capacidade produtiva para oriente, onde a ausência de responsabilidade social compete com o elevado nível de vida ocidental. É a crise de países que decidiram abrir as fronteiras sem cuidar que a competição que aí vinha era leal. É a crise que fez a riqueza do lobby da importação e distribuição. É a crise de um ocidente que vai gastando o que amealhou em sucessivos anos de prosperidade económica, tendo sido transformado num mero mercado consumidor.
Hoje discute-se o calendário que o PS escolheu para ir de novo a votos. Em simultâneo, um número incerto de empregos nasceu a oriente, em número semelhante àquele que desapareceu no ocidente.
A fuga do primeiro-ministro
José Sócrates ouviu o ministro das finanças e fugiu ao debate. Será, certamente, mais uma abordagem ao diálogo e à abertura de negociação por parte do governo. Em contrapartida, Sócrates falará aos jornalistas às 20h, local de excelência, como se sabe, para confronto político entre as diferentes forças parlamentares e com possibilidade de contraditório face ao que for apresentado.
Olhando para os actos que passo a passo vão sendo tomados e para o discurso oficial, é notório que o governo anseia cair. Se não, porque havia de ter hoje apresentado de forma apressada o que poderia apresentar daqui a um mês? A resposta prende-se, naturalmente, com o facto de não haver boa execução orçamental alguma, como tem a propaganda governamental apregoado. Basta notar que o «superavit de mais de 800 milhões nas contas públicas anunciado pelo Governo há seis dias vai ser completamente anulado em Março, mês em que o défice vai ser de quase três mil milhões» (TSF).
O governo deseja eleições porque daqui a semanas a realidade cairá em cima dos portugueses. O que está em causa é apenas a velha máxima de não se poder enganar todos durante muito tempo.
Sugestão musical do dia
Corra bem ou mal para uns e para outros, o certo é que esta música se vai colocar que nem uma luva a alguém.
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