E não se pode criticar os eleitores?

Quando alguém, como é o meu caso, não fica satisfeito com o resultado das eleições, aparecem umas acusações que não me parecem menos estranhas por serem frequentes.
1 – é preciso respeitar a vontade do povo.
Tanto haveria a dizer.
Em primeiro lugar, ó alminhas, criticar não é faltar ao respeito. Depois, criticar não altera votação nenhuma nem manda os criticados para o calabouço da minha prisão política particular gerida por barbudos que torturam os prisioneiros com canções revolucionárias e outras crueldades. Finalmente, em democracia, um cidadão, se lhe apetecer, pode criticar os outros cidadãos todos, incluindo os próprios pais.
Quando critico os outros, posso estar convencido de que sou melhor do que outros? Sim, é possível e, diria, recíproco. Se eu considerar que as minhas opiniões são melhores do que as de outra pessoa, corro o risco de ser atacado por algum complexo de superioridade, mas isso não tira nenhum bocado a ninguém. Curiosamente, as pessoas que consideram que as minhas ideias são um disparate também se julgarão superiores a mim. Entretanto, enquanto andamos nestas discordâncias, enquanto nos julgamos superiores uns aos outros, não nos cai nenhum membro e o mundo pula e avança.

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Entretanto, na América em ebulição

Quase 24 horas depois do fecho das últimas urnas nos EUA, ainda não sabemos quem será o próximo presidente da nação que dita as regras do jogo internacional. E é possível que ainda não fique tudo fechado hoje, para não falar na mais que provável tentativa de impugnação que se seguirá, caso Biden leve a melhor, e que Donald Trump vem ensaiando desde o segundo debate.

Biden leva uma vantagem confortável, que, à hora que escrevo, é de 39 grandes eleitores. Está a 17 do número mágico dos 270 e é já o candidato presidencial mais votado de sempre em presidenciais nos EUA, ultrapassando pela primeira vez a barreira dos 70 milhões de votos. Para ser mais preciso, Joe Biden leva neste momento 71,5 milhões de votos, contra os 68 milhões de Donald Trump. O candidato mais votado de sempre era Obama, com 69,5 milhões. Em 2016, Trump ganhou com quase 63 milhões contra Hilary, que conseguiu quase 66. Só para colocarmos as coisas em perspectiva. [Read more…]

Presidenciais (2): os resultados em Gaia

O Aventar é um espaço com história na blogosfera e creio que parte do seu sucesso resulta da nossa (in)capacidade de trazer à antena, visões que, quase sempre, ficam à margem das redacções. Tenho procurado promover essa característica trazendo Vila Nova de Gaia para o Aventar. Tenho um novo camarada geográfico e mesmo correndo o risco de tornar Gaia mais famosa que a Trofa, parece-me que é importante mostrar uma outra realidade.

Há de facto um lugar comum por estes lados que, confesso, tem pouca adesão com a realidade, até porque o Paulo numa dupla postagem, comete uma contradição – retira aos dirigentes nacionais do PSD o sucesso da vitória de Marcelo, mas depois atira para o PS Gaiense a responsabilidade pela derrota. E, nestas coisas, ou há…

Vejamos a história:gaiapresidenciais

  • Cavaco foi eleito com 50.64%, para voltar a ganhar, há 5 anos, com 52.95%. Em Gaia, começou por ter 46, 63%, para depois ganhar com 50.63%. Passou de 71568 votos para 62194 votos. Em ambos os casos, nada de muito diferente entre os resultados do país e do Concelho.
  • Sampaio, por sua  vez, nas primeiras Presidenciais deste século, teve 71236 votos em Gaia, 4 pontos percentuais acima do resultado nacional.

Não creio, ao analisar estas três eleições, que se possa concluir uma diferença significativa no comportamento eleitoral de Gaia. Mas, vejamos alguns dados relativamente às legislativas no presente século: [Read more…]

Números: 2085465<2744576

Estão inscritos para votar 9684922 portugueses. Só 5408092 decidiram expressar a sua opinião. Houve 4276830 que poderia ter ido apoiar a maioria e ficou em casa.

Dos que saíram de casa, 578051 escolheram os partidos “mais pequenos”, ou ficaram pelos votos nulos e em branco. Mais de meio milhão que foi votar e não apoiou a maioria.

Assim, já vamos em quase cinco milhões de portugueses que podiam ter apoiado a maioria e não o fizeram.

Os partidos PaF tiveram 2085465 (um pouco mais de dois milhões, para simplificar a linguagem) e os partidos de esquerda tiveram 2744576 – são 659111 de diferença.

Feitas as contas, houve 7599457 portugueses (mais de sete milhões e meio) que poderiam ter escolhido a Paf mas não o fizeram.

Cavaco Silva até pode ser Presidente. Pode até ter um governo. Mas, para completar a coisa, ao tentar criar uma imensa maioria, acabou por ficar com uma pequena minoria nas mãos – só 21,5% dos portugueses decidiu escolher a PaF o que, para um Presidente eleito com mais de metade dos votos, significa perder mais de metade da sua base de apoio. Ao contrário do mito da direita, a maioria do povo não escolheu a PaF e, como se viu hoje no parlamento, Portugal tem uma nova maioria.

Agora sim. Não temos Presidente. Não temos Governo. Mas, temos uma maioria – a do povo que votou e escolheu recusar a PaF: 7599457! É esta a maioria que tem de nos Governar.

 

 

30 anos de esquerda e direita: alguns números

As sondagens têm sido uma das partes tristes desta campanha. Não ao nível da ausência do Marco António, candidato nº 2 do PSD no Porto, mas, certamente uma situação de lamentar.

E, por achar curiosos alguns dos números apresentados, fui tentar perceber o que se tem passado nos últimos 30, em termos de resultados eleitorais para as legislativas. Encontrei algumas notas curiosas.

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Por economia de escrita, vamos agrupar os partidos em Esquerda (PS+ CDU / APU + BE) e Direita (PSD / CDS).

Em 1995, com Guterres, a esquerda passou a liderar e só em 2011 a direita passou, realmente para a frente de modo significativo. Se fosse procurar um padrão, diria que o ciclo da direita ainda está para durar.

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O CDS num ponto de viragem

Porto de abrigo dos órfãos da União Nacional na versão mais monárquica e conservadora, o CDS nasceu com uma ideologia difusa (personalismo cristão, pregava Freitas do Amaral com a convicção de se estar a referir a nada e a coisa nenhuma) e assim foi vivendo, abundantemente populista após a aterragem de Paulo Portas (vindo curiosamente do PPD, onde se albergara a contragosto a restante orfandade, que terminou por dominar alguma social-democracia convicta que o fundou).

cds votos

Na vida eleitoral foi escolhendo os territórios que lhe iam garantindo a fuga ao táxi: tivemos um CDS securitário (e sempre teremos), rural e para velhinhos, a parte não derretida do glaciar salazarista que assegurava uma boa base eleitoral.

Ora a viragem do discurso da extrema-direita neste século complicou as coisas, além da lei natural da vida, como diria Cunhal, que vai encolhendo o número dos saudosistas. O discurso dito geracional do neoliberalismo ataca a segurança social numa tentativa de trocar a luta de classes pelo conflito entre os velhos que gastam o que os pobres jovens terão de ganhar. Irónico, se me recordar do que significava “conflito de gerações” na minha adolescência, utilizado então para negar os conflitos sociais, reduzidos a modas, charros, música e essas cenas da malta nova que não respeita o peso da sabedoria anciã. [Read more…]

O bailio* da Madeira

A conversa habitual, em democracia é, depois de contados os votos, “ganhou A, perdeu B, C ou D”. Ninguém se lembra porque é que votou ou quem não votou, as suas razões e as estratégias dos AA e dos BB para arrebanhar os papelinhos para a urna. Talvez por isso, ciclicamente, surjam uns indignados na praça que querem o regresso das ditaduras marxistas, como alternativa à democracia (a este propósito sugiro a leitura do artigo de Pedro Lomba, ontem, no Público). Mas é curioso que, uns e outros, têm sempre a palavra povo na boca. Já aqui referi esta falácia de considerar povo como algo de onde emana asalvação. Povo é, para os políticos, o Outro – prova de que a democracia só funciona à boca da urna e que política não combina com cidadania.

O que me espanta nesta balbúrdia toda é que, da Esquerda à Direita e, sobretudo, estes indignados da praça, todos, sem excepção, queiram salvar aquele povo que os repudia, que vota Alberto João Jardim, que venera Salazar, que vê e aplaude touradas, que pára em acidentes e que os provoca, que deseja ardentemente substituir cultura por futebol e centros comerciais ao domingo e que acha que o ponto mais alto do dia é saber o resumo da Casa dos Segredos. Ir para uma praça ou um parlamento falar por este “povo”, defendê-lo e invocá-lo deve compensar muito o esforço, realmente. Deve ser muito terapêutico para uns e financeiramente vantajoso para outros. Eu precisaria de um estômago novo todos os dias.

P.S. é mesmo bailio. Não é gralha. Ver o significado, aqui.

Marcelo a votos nunca ganhou nada!

Uma forma de desvalorizar a vitória de hoje, seja de quem for, é apresentar uma pretensa sondagem que dá Marcelo Rebelo de Sousa como provável vencedor se estivesse na corrida. Como não está, ganha ele nas intenções de voto. A verdade, verdadinha, é que Marcelo sempre que foi a votos perdeu !

Mesmo com mergulhos temerários no Tejo, a precisar de prévia vacina contra o tétano, perdeu Lisboa. Como Presidente do PSD deixou-se enrolar na conversa mole e de encher de Paulo Portas e acabou com a coligação, demitindo-se. Analisar é uma coisa, apresentar  propostas concretas, acreditar nelas, lutar por elas, convencer, é outra muito diferente.

Marcelo tentou ser entronizado, não ía a votos, desistiam todos a seu favor . Isto tinha uma vantagem e várias desvantagens. A vantagem é que todos ficavam “debaixo da lei da rolha” não por 60 dias mas para sempre e o PSD deixava de ser uma arena de “facadas”, por trás, pelos lados e pela frente. Mas as desvantagens tambem não seriam pequenas. Desde logo porque não tinha a legitimidade de quem vai a votos, depois porque o PSD não seria renovado, a geração de Marcelo, Cavaco e Manuela F. Leite e com eles todos os barões e baronetes ficariam no remanso dos lugarzinhos.

Como Marcelo não quiz fazer esse papel houve que ir buscar a Bruxelas, Rangel ! Não ganha? Mas ganhava Marcelo!

É a vingança do chinês…

Disciplina, Igual a Prepotência

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VOTO DISCIPLINADO
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Os representantes do povo na Assembleia da República, são uns paus mandados.
Podem pensar o que quiserem, podem comprometer-se com o que desejarem, que no final, quando a vontade deles tiver algum peso, têm de obedecer a quem manda e votar, não em consciência, mas segundo as conveniências do partido a que pertencem. De vez em quando, lá vai havendo alguns que, porque são diferentes, crê-se, não estão sujeitos a essa disciplina.
É o que se passa nesta altura com os deputados do partido do governo, que, com a excepção de sete, têm de obedecer aos interesses políticos do partido. Felizmente que ainda há, noutras bancadas, total liberdade, mas é só desta vez, já que noutras alturas fazem exactamente o mesmo que estes, obrigando os seus deputados a votar como lhes dá na real gana (aos partidos).
O que está em causa agora, é o voto sobre o casamento dos homossexuais. Sobre os diplomas apresentados, os deputados têm que votar, e acabam por só votar favoravelmente os proponentes, votando contra ou abstendo-se todos os outros.
Para mim, não está em causa se apoio ou não apoio os diplomas apresentados. Pessoalmente até nem os apoio. O que está em causa é esta ideia de que as pessoas que estão no Parlamento não têm cabeça para pensar por si mesmas e têm de ser mandadas votar de determinada forma. A isso, chama.se prepotência de quem pode para com quem tem de obedecer. Ora, isso fere os meus ideais de democracia.
Esta forma de proceder faz diminuir, a meu ver, a confiança que deveríamos ter, nas pessoas que elegemos para nos representar.
Para quando alguma mudança? Para quando círculos uninominais, onde cada deputado responda a quem o elegeu?

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