O tempo, maduros!

Apetece-me hoje parafrasear, ante a medioridade triunfante e os sentimentos menores que se destilam um pouco por toda a parte, o grande Mário de Andrade que foi grande na outra riba do Atlântico e tão mal conhecido é entre nós.
 
De Mário de Andrade:

“O valoroso tempo maduro”
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge da sua mortalidade.
Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!”
 
Para mim também, o essencial basta!
Ante tamanha mediocridade e a insaciável sede de traições de que se fazem protagonistas certos figurões, apetece, na realidade, prantar-lhes com o texto no rosto, a ver se abrandam os ímpetos de insanidades que vão espanhando em seu derredor, atingindo inexoravelmente a dignidade de outrem…

Comments

  1. Luis Moreira says:

    Pois é o tempo afunila…

  2. maria monteiro says:

    nunca se deve desperdiçar o presente … é sempre bom, em cada dia, ir acrescentando mais um dia ao passado

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