Andava feliz, o sr. Marques. O netinho, o Zezé, tinha-lhe pedido uma camisola do Benfica como prenda de aniversário. Não disse a ninguém, para não estragar a surpresa, mas já tinha embrulhadinho um equipamento completo do «Glorioso».
Tinha tudo planeado: hoje, dia 25 de Maio, quando o Zezé faz 5 anos, o sr. Marques ia dar-lhe a prenda. Logo que o fedelho estivesse vestido, ia tirar-lhe uma fotografia, que depois mostraria, impante, a toda a vizinhança do Caneiro.
A vida corria bem ao sr. Marques. Tinha acabado de entrar na reforma e o Benfica acabava de se sagrar campeão. Ia ter mais tempo para o seu clube – se calhar até podia ir umas quantas vezes por ano à «Catedral» – e para a família, essa sim o seu mais-que-tudo. Guardava com orgulho o primeiro bilhete de comboio que tinha comprado como reformado.
No Sábado à noite, no mesmo dia em que Mourinho se sagrou de novo Campeão Europeu, o sr. Marques deitou-se e já não acordou. Foram dar com ele no dia seguinte, deitadinho na cama, com uma enorme tranquilidade no rosto. Como quem diz «vou partir, cumpri a minha missão».
Quero acreditar que morreu feliz. Com uma família unida e um neto que lhe deu o maior dos gostos: ser benfiquista. Só por isso, já valeu a pena o Benfica ser campeão.
«Sr. Pinto, ó sr. Pinto!», dizia-me com voz grossa quando se metia comigo por causa do futebol. Não voltará a dizê-lo. Partiu, mas deixou-me a mais importante das recordações: a sua amizade.
É assim, morreu de alegria.
«O sr. Pinto» recebeu um tesouro porque a amizade é a melhor recordação que devemos deixar aos outros.
Fosga-se Ricardo, que texto espantoso!
obrigada sr pinto. saudações slb