FMI, OCDE e UE – O patrocínio da austeridade em Portugal

Do PS e do PSD, conhecemos os confrontos próprios da guerra orçamental e das medidas draconianas anunciadas, entretanto, pelo governo. Do FMI, esse tenebroso e cáustico super-organismo das finanças mundiais, ficámos, agora, a conhecer um veredicto: Portugal reentra em recessão em 2011, em face das citadas medidas.

O parecer emitido pelo FMI presta-se a algumas considerações:

1)      O FMI não aponta uma política orçamental alternativa e menos austera; assim, sim, é que o parecer poderia revestir-se de uma efectiva ajuda ao nosso país;

2)      O FMI, em vez de mandar achas para a fogueira da cena internacional, deveria sobriamente agradecer a José Sócrates o trabalho a que foi poupado, visto terem sido decididas exactamente as medidas-tipo do catálogo do citado Fundo;

3)      As mesmas medidas, cujo patrocínio não enjeitaria, consubstanciam justamente a causa essencial da recessão que o FMI anuncia para 2011, em acto de prodigiosa adivinhação – diminuído o poder de compra, por incremento de impostos e redução de salários, o mercado interno, naturalmente, verá agravada a crise com que se vem debatendo, desemprego incluído;

4)      O impacto das declarações do FMI, junto das famigeradas ‘agências de rating’ e dos investidores internacionais – os tais especuladores inimputáveis –, terá efeitos nocivos, no tocante ao serviço (juros) da dívida externa portuguesa, pública e privada;

5)      O FMI, a despeito da ruptura crítica no ‘sistema financeiro internacional’, continua a definir e alinhar as suas políticas por um espúrio modelo monetarista que, salvo as economias emergentes e por razões que lhes são próprias, fazem definhar as condições de vida de milhões de seres humanos à volta do planeta.

Outras considerações poderiam ser formuladas. Estas, porém, bastam. E têm uma utilidade: evidenciam que FMI, OCDE e UE afinam, todos, pelo mesmo diapasão. Um exemplo: o BCE, braço financeiro da União, ao recusar obrigações de dívida pública para países com baixa liquidez, também ajuda ao afundamento; prefere conceder empréstimos a 1% aos bancos que, por sua vez, colocam o dinheiro no mercado, cobrando juros acima de 6% no caso de Portugal.

Com os compromissos internacionais a que Portugal está vinculado, quem dita a inexorável lei da austeridade a aplicar não é personalidade ou entidade interna. PS e PSD podem até ter concepções orçamentais distintas, mas, submissos, nunca virão a divergir quanto ao desiderato da mediatizada luta que vêm ensaiando: um reforçado e injusto castigo sobre a vida, já de si dura, de milhões de portugueses.

Comments

  1. A. Pedro says:

    Carlos,
    respondo aqui ao comentário que deixaste no meu poste http://www.aventar.eu/2010/10/06/preso-por-ter-cao-e-preso-por-nao-ter/ porque, como bem dizes, estas medidas são “exactamente as medidas-tipo do catálogo” do FMI. Preso por ter cão e por não ter. Além disso, trata-se de manter a pressão e de dar sinais negativos ao mercado para que a situação não melhore e o resto do catálogo seja aplicado.
    Como tenho vindo a dizer no Aventar, isto é uma guerra e foi lançada específicamente contra Portugal (depois da Grécia) há uns meses. Nessa altura escrevi que eram os primeiros raids – aqueles que mostram que a guerra começou e que a “cavalaria” vem a caminho. Aí está ela a galope, a guerra ainda é a mesma e continua.

  2. carlos fonseca says:

    Caro Pedro, absolutamente de acordo. A Alemanha está a fazer tudo para que a Grécia, Portugal e outros países saíam da zona euro.

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