Zé Carlos, professor contratado há 17 anos

Numa das minhas raras idas a casa, no último fim-de-semana, estive com o Zé Carlos. Um rapaz da província, como eu, que fez o Estágio Pedagógico em 1993 e desde então nunca conseguiu obter vínculo ao Ministério da Educação.
Passámos umas boas horas juntos na esplanada do Café Central. O Zé Carlos falou-me então da frustração que sente por, ano após ano, andar de escola em escola sem nunca saber como vai ser o seu futuro. Lembra-se como se fosse hoje da colocação extraordinária de todos os professores contratados com 5 anos de serviço que o Governo Guterres tinha decidido. O assunto ia ser aprovada no Conselho de Ministros, mas no Domingo anteriores Guterres demitiu-se e foi tudo por água abaixo.
Todos os anos, o Zé Carlos pede o subsídio de desemprego no dia 1 de Setembro e cancela-o poucos dias depois, logo que obtém uma vaga. Confiante, esperava ficar finalmente colocado, como professor dos Quadros, no concurso que o Ministério planeara para 2011.
Há 10 minutos atrás, o Zé Carlos telefonou-me a chorar. Ouvira na rádio que o Ministério, por razões orçamentais, decidira não fazer concurso em 2011. E ele, que todos os anos fica colocado logo no início de Setembro com horário completo, ficou desesperado. Afinal, se o Ministério precisa dele, porque não o colocam definitivamente? E se qualquer empresa é obrigada a efectivar um trabalhador ao fim de 3 anos, porque não faz o Estado o mesmo?
Frustrado, o Zé Carlos despediu-se de mim: Será que vou ter de esperar outros 17 anos?

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